sexta-feira, 15 de novembro de 2019

NÃO TENHO PRATA NEM OURO


Depois da narrativa dos eventos acontecidos na manhã de Pentecostes (Atos capítulo 2), o capítulo seguinte se inicia afirmando que certo dia Pedro e João estavam subindo ao templo na hora da oração, às três horas da tarde (At 3:1 – NVI).
A referência ao templo nesse capítulo de Atos dos Apóstolos (e em todo o livro) é certamente ao templo judaico em Jerusalém e não a uma construção destinada ao culto cristão.  Mas o fato de os discípulos de Jesus o frequentarem e manterem sua piedade pessoal buscando aquele local de culto para suas orações é significativo, pois nos indica que mesmo tendo experiências íntimas e profundas com Deus, o local de adoração comunitária e pública não deveria ser esquecido pelos fieis (lembre Hb 10:25).
Vejamos o que diz o texto.
Numa destas idas ao templo, Pedro e João se encontraram com um aleijado de nascença que estava ali para mendigar (confira At 3:1-2).  Embora aquela fosse uma cena corriqueira e que após a descida do Espírito o grupo de seguidores de Cristo assumisse uma atitude coletiva de cuidado em relação aos necessitados, os apóstolos pararam e deram atenção especial àquele suplicante.
Como o próprio Jesus tinha feito no seu ministério terreno, ainda que visando atingir a coletividade dos seres humanos, ele sempre encontrou tempo e parou para dar atenção individualizada a quem necessitava.  Da mesma forma, os apóstolos pararam para oferecer auxílio particular ao mendigo aleijado na porta do templo.
O mais importante deste episódio, contudo, é a sequência que vem a seguir.
No verso seis: os apóstolos ofereceram a solução para o problema do aleijado – não uma solução paliativa ou uma simples esmola.  Não seria a prata ou o ouro que mudaria aquela situação.  O que Pedro e João ofereceram foi a transformação radical, a cura e solução definitiva, por que trataria da causa e não da consequência.  Se aquele homem mendigava por que era aleijado e não podia trabalhar, então agora ele ficaria livre de sua deficiência e poderia trabalhar para seu próprio sustento (o texto de Ef 4:28 opõe trabalho a furto, mas a instrução do sustento pode ser aplicada aqui).
Disse Pedro: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso lhe dou.  Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande"  (At 3:6).
No nome de Jesus a cura foi operada (veja ainda o verso 16 pouco adiante).  De forma objetiva e prática, Pedro anunciou que todo poder pertence ao Senhor e somente no nome dele seus discípulos realizam a obra (Jesus garantiu isso em Jo 14:12-14).  A cura foi operada – o milagre aconteceu somente no poder que há no nome de Jesus.  E isso deve nos ensinar que o mesmo poder ainda está ao alcance da igreja quando ela age na autoridade do mesmo nome (confira ainda Cl 3:17).
O que aconteceu a seguir (leia o verso oito) foi que o antes mendigo aleijado, agora curado, de um salto começou a andar e principalmente, entrou no templo saltando e louvando a Deus.  O resultado da manifestação poderosa através do nome do Senhor Jesus deve ser sempre a glorificação de Deus (Paulo diz isso em 1Co 10:31).  E mais: toda a vida e ação, bem como a pregação e o exercício de todo e qualquer dom ou manifestação espiritual no meio da igreja deve levar necessariamente à exaltação e à glória do Senhor (veja que na profecia de Isaías o Senhor já anunciava que não repartiria sua glória com ninguém – Is 42:8 e 48:11).
E um último destaque é que Pedro e João, diante da admiração do povo no pátio no templo, não perderam a oportunidade de anunciar o evangelho: Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados (At 3:19).
Este exemplo precisa ser seguido por todo discípulo de Cristo em qualquer tempo: o objetivo principal da igreja é anunciar o evangelho e desafiar as pessoas a tomarem uma decisão diante de Cristo mediante a confissão e arrependimento de pecados (ainda é paulina a instrução enfática de 2Tm 4:2).

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