sexta-feira, 29 de junho de 2018

EIS O CORDEIRO DE DEUS


Ao celebrarmos a Ceia do Senhor, nós o fazemos sempre como um dia de festa e alegria. É costume entre nós dizer que não há momento mais repleto de significados e beleza que este, quando a igreja de Cristo se reúne para relembrar e reafirmar a sua certeza e fé de que naquele homem de Nazaré, levado ao sacrifício, estava o Deus encarnado e com isso a remissão exigida por Deus estava satisfeita.
Para entender o momento do sacrifício vamos voltar um pouco para a anunciação feita por João, o Batista, a Jesus por ocasião de seu batismo: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).
Sobre o tema do cordeiro como animal imolado no ritual de remissão de pecados como prescrito no AT muito haveria de ser dito; mas o que queremos aqui refletir é sobre o Cristo e como ele se apresentou como o Cordeiro de Deus. E será nesta reflexão que celebraremos a Ceia do Senhor, como quem agradece pelo sacrifício apresentado a Deus.
Em primeiro lugar, o sacrifício de Cristo foi voluntário. Já é lugar-comum afirmar que a encarnação e paixão foram movidas primariamente pela vontade soberana de Deus – Ele fez por que quis! O próprio Cristo afirmou que seu sacrifício era resultado do seu amor, e mais que isso era a prova dele (leia Jo 15:13 e também 10:17).
A disposição de Jesus em se entregar ao sacrifício fica ainda mais clara quando ele repreende a Pedro no episódio do Getsêmani, ordenando que guardasse a espada e não o impedisse de cumprir a sua missão (narrado em Jo 18 a partir do verso um e em especial o verso 11).
Celebramos em nossa Ceia a disposição de Cristo em se dar em favor de nós.
O segundo aspecto é que o sacrifício de Cristo foi completo. A argumentação encontramos no texto aos Hebreus. Segundo o texto, enquanto os sacerdotes da antiga aliança tinham que repetir indefinidamente o ritual, o oferecimento de Cristo no Calvário foi definitivo (a base está em Hb 10). Tendo se oferecido de uma vez por todas como oferta e oficiante, Cristo se qualificou como a satisfação completa da exigência divina de reparação (pouco antes é dito explicitamente isso em Hb 9:22).
É esta obra consumada na cruz que celebramos em nossa Ceia (ainda volte às palavras na cruz citas por Jo 19:30).
E finalmente o sacrifício de Cristo é aceitável a Deus. Na argumentação paulina, o sacrifício de Cristo chegou ao trono de Deus como um cheiro suave (leia Ef 5:2). Ou seja, o próprio Deus se satisfez com o que lhe foi oferecido pelo seu Filho em favor da humanidade. A comunhão agora estaria refeita pois Deus se alegrara com a obra cumprida. E na alegria divina está certamente a sua benevolência aos homens e mulheres.
É por causa da satisfação de Deus que também celebramos com satisfação a Ceia ainda hoje.
Certos de que pelo seu sacrifício Cristo se apresentou como o verdadeiro e único Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ceamos quando nos unimos, como igreja, para celebrá-lo em adoração.
(Esta reflexão foi publicada antes no sítio ibsolnascente.blogspot.com – 24/07/2009.
A imagem lá em cima é uma reprodução da obra “Agnus Dei” do espanhol Francisco de Zurbarán atualmente exposto no Museo del Prado em Madrid)

terça-feira, 26 de junho de 2018

SOBRE SACERDOTES E PROFETAS


A fé, a religião e a própria vida social do antigo Israel sempre foram marcadas pela presença e atuação de sacerdotes e profetas. Embora, em alguns momentos, a história registrou desentendimento entre eles, eles (ambos) eram imprescindíveis.
Figuras como eles não foram criadas ali, vários outros povos e culturas tinham seus ministros e oficiantes religiosos. Mas para nós, o que interessa é como eles – sacerdotes e profetas – eram reconhecidos e instruídos a partir das lições bíblicas.
No quadro abaixo, veja um esquema de um estudo que desenvolvi para apresentar e estudar com nossa igreja. É só um esboço, mas já dá para começar:



Além deste quadro que apontam distinções e diferenças nos ministérios e atuações de sacerdotes e profetas, é importante pelo menos listar quatro semelhanças notáveis e indispensáveis entre eles:

Semelhança ministerial –
  • Instituídos por Deus
  • Exercem seu ministério entre Deus e o povo
  • Necessários à saúde espiritual do povo
  • Precisam amar e honrar tanto a Deus como o povo.

E quanto a você? Qual o seu ministério?

quinta-feira, 21 de junho de 2018

PARA FAZER MISSÕES


Sabemos que toda a igreja tem um chamado missionário. Esta é a convicção que nos faz ser o que somos. Nós nos reunimos a nos identificamos a partir daquilo que temos para fazer: adorar ao Rei e anunciá-lo a todo o mundo.
Tenho falado com frequência sobre a prática da adoração; mas hoje queria refletir um pouco sobre o que é preciso fazer para cumprir a segunda parte de nossa identidade eclesiástica, ou seja, o que é preciso para fazer missões. Venha comigo ao texto bíblico e vejamos pelo menos três indicações do chamado missionário:
* Jo 4:35 – tudo deve começar com o olhar. É preciso levantar os olhos e ver que os campos estão no ponto de serem colhidos (esta é a ilustração que Jesus usa no texto). O envolvimento da igreja com o trabalho missionário inicia quando ela consegue enxergar o mundo à sua volta e se percebe tocada por uma paixão missionária.
O mundo caótico em que vivemos clama por transformação – e a resposta já foi dada: Jesus – então é preciso que a igreja não se isole e o perceba. Que se deixe ser tocada pela necessidade dos que carecem da novidade do evangelho; tanto dos que estão ao nosso redor, quanto dos que estão em outras terras.
* At 8:26 – tendo percebido o mundo carente do evangelho é preciso então ouvir a voz do Senhor que nos chama e desafia a irmos anunciar a sua Palavra. Perceba que no caso de Felipe um anjo lhe falou claramente para ir a busca do etíope.
Deus continua interessado nos perdidos e igualmente continua falando e chamando a sua igreja para cumprir a sua missão. Não podemos tapar nossos ouvidos espirituais à vocação divina que está sobre nós e nos desafia.
* Lc 10:1 – e finalmente, é imperativo que se atenda o desafio de ir anunciar o Reino de Deus. Se a necessidade do mundo perdido nos toca e ouvimos com clareza o chamado cristão para a missão então a atitude a se tomar é se comprometer com a obra missionária atendendo o desafio de ir aonde estão os perdidos para lhes anunciar as grandezas do amor de Deus e as boas novas de redenção e transformação espiritual e histórica.
Para fazer missões é preciso ter os olhos abertos para o mundo, os ouvidos atentos para a voz de Deus e também é indispensável que haja obediência em atender o seu desafio.
Que o Senhor nos faça assim.

(Eu escrevi esta reflexão inicialmente para desafiar os irmãos da IB Sol Nascente onde trabalhava em 2009 – publiquei no sítio ibsolnascente.blogspot.com em 29/05/2009 – aqui mantive as ideias originais, apenas refazendo alguns fraseados.  A imagem lá de cima é a tradicional do Google Earth Pro)

terça-feira, 19 de junho de 2018

CONSPIRAÇÕES BÍBLICAS

Encontrei recentemente do site fatosdesconhecidos.com.br uma postagem intitulada: “7 teorias da conspiração malucas envolvendo a Bíblia”.
Realmente são teorias malucas – adjetivo melhor acho que não poderia! – e por isso mesmo qualquer análise exegética se mostraria sem propósito. Quem vai à Bíblia procurando esse tipo de teoria quer qualquer coisa, menos a Palavra de Deus.
Então, só pela curiosidade, aí vai a lista:

1 – Deus teria uma espaçonave. O texto tomado como citação é o da abertura da profecia de Ezequiel. A passagem, bem ao estilo e gosto apocalíptico, fala em quatro seres viventes e que eles se moviam, com uma espécie de coisa de quatro rodas. É a visão inaugural da glória do Senhor chegando no exílio. O que passa daí é teoria vazia.

2 – A torre de Babel era uma arma avançada. Aqui se junta a outras tantas teorias similares. O problema inicial é que os ugarites na Mesopotâmia – de onde vem a referência à torre da Babilônia – ainda estão lá e não há resquícios de arma de destruição em massa. Como constataram as tropas de americanas sob o comando de Bush.

3 – A Bíblia é um programa de computador. A teoria cita a presença de certos padrões repetidos e criptografados no texto sagrado que indicariam uma chave secreta para desvendar segredos antigos e místicos. Até para comentar é difícil, tamanha sandice!

4 – Sodoma e Gomorra teriam sido destruídas por uma arma nuclear. Que a destruição das cidades pecaminosas foi uma catástrofe que em muito se assemelha a uma hecatombe nuclear, ainda vai. Mas acho que seria mais fácil pensar em vulcão, ou coisa parecida, o que na geografia do lugar é plausível!

5 – Evidências da viagem no tempo. Quanto a essa aqui, vou ter dificuldade. O post não cita diretamente nenhum versículo, apenas sugere passagens do profeta Jeremias. Aí fica difícil!

6 – Noé era marciano. Acho que Erich von Däniken ia gostar disso. Mas, fala sério!!! É mais fácil acreditar em Esopo ou em Monteiro Lobato que em deuses astronautas. Pelo menos trazem lições de moral.

7 – Jesus previu a internet. A referência é à parábola da rede. Em Mt 13:47 Jesus compara o Reino de Deus a uma rede que é lançada para apanhar peixes. Deixe-me acrescentar a ordem dada a Pedro para lançar redes e pescar (em Lc 5:4 e Jo 21:6). Quanto a internet!? Só pode ser zoeira!

terça-feira, 12 de junho de 2018

A RENOVAÇÃO ESPIRITUAL EM 1960 – algumas citações


ALGUMAS CITAÇÕES SOBRE AS QUESTÕES DA DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO NA DÉCADA DE 1960 NO BRASIL

O Movimento de Renovação Espiritual ocorreu no Brasil na década de 1960 entre as Igrejas Evangélicas. Na época, várias obras foram escritas, principalmente por aqueles que estavam diretamente interessados em um ou outro lado da questão. Vejamos o que disseram:
Em um texto de 1993, o Pastor Enéas Tognini, tendo antes observado as causas remotas da Renovação de 1960, informa que "Renovação Espiritual nasceu no coração de D. Rosalee [Mills Appleby], do Pastor [José] Rego Nascimento e no meu. Depois, o FOGO, na misericórdia de Deus, se alastrou para outras vidas, para outras igrejas e para outras denominações".
O Pastor Rego do Nascimento assim definiu o movimento de Renovação Espiritual: "Renovação Espiritual é uma mensagem bíblica no poder do Espírito Santo para sacudir as igrejas que existem, mas que dormem embaladas pelo comodismo e pela inatividade". Afinal, "um avivamento genuinamente do Espírito era a aspiração de denominações, de igrejas e de crentes em geral. Os jornais das diversas denominações evangélicas expressaram esse desejo sincero do coração, por meio de artigos, assinados por pastores e líderes evangélicos do Brasil" (citado por E. Tognini no mesmo livro).
Quanto aos pontos teológicos expostos convém frisar de início que, até a década em questão, estes temas são considerados periféricos pelos autores evangélicos; sendo inclusive completamente omissos tanto Confissão de Fé Batista de 1689 quanto no Pacto das Igrejas Batistas. Contudo assim deu parecer a Comissão dos Treze:
"(...)
II) Verificamos que a expressão "batismo no Espírito Santo" nunca foi definida em declarações de fé publicadas pelos batistas através dos séculos e sobre seu significado as opiniões de teólogos e pensadores batistas são divergentes; mas, também, reconhecemos:
1. Que a crença no batismo no Espírito Santo como uma "segunda bênção" ou seja como segunda etapa na vida cristã ou seja ainda como uma nova experiência posterior à conversão não tem sido crença que caracterize os batistas brasileiros.
2. Que a prática do que ainda hoje chamam de "dom de língua" e "dom de curas milagrosas" é igualmente estranha às crenças e práticas características dos batistas brasileiros.
3. Que o consenso geral dos batistas sobre a atuação do Espírito Santo na vida do crente é que ela se faz como um processo em toda a sua vida, processo esse que chamamos de "santificação progressiva", a qual depende da cooperação do próprio crente.
4. Que qualquer experiência emotiva ou sensível de cunho pessoal que algum crente ou grupo de crentes tenha tido e que atribuem ao Espírito Santo, por mais genuína que seja para o indivíduo ou para o grupo, de modo nenhum pode constituir um exemplo ou um padrão a ser imitado por outros crentes, nem tampouco pode constituir base para doutrinamento dos outros ou para campanhas de avivamento".
E mais. A mesma Comissão dos Treze em seu relatório apresentado na 45ª Assembleia da Convenção Batista Brasileira (Vitória/ES – janeiro de 1963) assim declarou: "Apraz-nos assinalar não haver divergência entre os batistas da Convenção Batista Brasileira nos pontos fundamentais da doutrina do Espírito Santo e que são os que constam da Declaração de Fé das Igrejas Batista do Brasil". E mais adiante: "Que os crentes e igrejas se abstenham de atitudes precipitadas e hostis mesmo quando estejam separados uns dos outros por divergências doutrinárias no tocante à obra do Espírito Santo".
Observando outras possíveis pontos de divergências, vemos que questões litúrgicas influenciaram grandemente no desenrolar dos acontecimentos, já que a Comissão dos Treze observou que nas reuniões promovidas pela Renovação Espiritual "se notam os mesmos erros próprios de reuniões pentecostais, isto é, a confusão no ambiente, a gritaria, os descontroles físicos, e falar línguas e outros excessos de emocionalismo"; embora fosse a opinião dos líderes da Renovação Espiritual que se evitassem "barulho demasiado e inútil" nos trabalhos segundo informa E. Tognini.
Sob o ponto de visto sociológico, embora Tognini afirme que "Renovação Espiritual não é o refúgio para os descontentes, aqueles que por questões políticas em sua igreja, dela se afastaram ou foram afastando-se vêm então se apoiar em Renovação"; o mesmo não tem como negar que houve um "desejo incontido de mandar, de liderar, de fechar nas mãos todo o controle da obra".
Por fim, sob o mesmo ponto de vista, observe-se também que Rubem Alves, comentando sobre a igreja evangélica no final da década de 1950, sublinhou dois pontos: "1) Uma radical rachadura teológica que separou a juventude das lideranças pastorais clássicas. 2) A formação de uma liderança leiga, livre dos controles paroquiais a que se achavam submetidos os pastores. Cada jovem tinha muito pouco a perder, pois não vivia da Igreja e, por isto mesmo, gozava de imensa liberdade".


sexta-feira, 8 de junho de 2018

EU JÁ FIZ MINHA ESCOLHA – conclusão


Ultimamente tenho visto campanhas falando em educação escolar, formação de cidadania, consciência social ou moralidade pública (e o pior é que às vezes até nossas igrejas colocam tais proposições como prioridade em suas agendas!). A verdade é que nada disso transfigurará o Brasil, a menos que comecemos em nossas casas um verdadeiro compromisso e disposição de servir ao Senhor.
E sabe mais? Sem aquilo que nos acostumamos chamar de educação cristã de berço, todo o nosso projeto eclesiástico de educação religiosa está fadado ao fracasso. Somente quando incutirmos em nossas casas, começando pelo compromisso dos líderes, verdadeiros valores espirituais e morais como: amor a Deus e ao próximo, serviço cristão, submissão humilde entre outros é que poderemos almejar por impregnar marcas relevantes em nossa sociedade (já experimentou aplicar instruções como Lc 10:27; Ef 5:21 e Fl 2:3 em sua casa?).
Para o último destaque da fala de Josué, quero mais uma vez me fazer valer da palavra em língua hebraica. O termo ali é servir cuja tradução e implicação mais usual é exatamente descrevendo um ato de render culto (como em Êx 12:25).
Mas penso que não seria de todo uma aberração ao sentido semítico da expressão se a atrelássemos à conotação em língua portuguesa: servir como trabalhar para, ou estar à disposição de. Mediante esta sugestão, então Josué estaria se colocando, junto a sua casa, para trabalhar e se empenhar em favor do Senhor como um servo prestativo e obediente. Ou seja, uma família pronta para o serviço, para entregar seu suor e vontade à inteira vontade de Deus.
Creio que posso entender as palavras do apóstolo Paulo na sua despedida dos líderes de Éfeso na mesma linha (também aqui numa tradução livre): Em minha vida, nada mais importa que me gastar no serviço do Senhor Jesus (leia o discurso em At 20, e o verso em destaque é o 24).
Contudo, quero insistir na compreensão de serviço como culto, celebração e adoração (se não me engano, a língua inglesa costuma empregar o termo assim!). Sendo assim, a escolha feita por Josué diante do povo, naquele dia em Siquém, seria que, começando por ele e abarcando toda a sua casa, ele preferia cultuar ao Senhor.
E aqui entendo esta como uma boa definição de culto em família. Entendendo o culto como um estar na presença do sagrado e dele desfrutar sua companhia, então é correto afirmar que Josué escolheu permanecer na presença do Senhor, tendo-o em sua companhia, como havia sido sua experiência toda a vida. E isso ele queria também para sua família. Era seu compromisso.
Diante de variedade de deuses, entidades e forças cósmicas, Josué decidiu que ele e sua família só se submeteriam em adoração ao Senhor Deus com o qual já tinha experiência. A companhia divina tinha sido certa, constante e soberana ao longo da caminhada.
Josué nascera ainda no Egito, ainda em tempos de escravidão, presenciou o mar aberto para que a libertação acontecesse, peregrinou pelo deserto, espiou a terra e a conquistou, sucedendo a Moisés. Ele sabia que isso era resultado da ação direta do Senhor. Sim, valia continuar servindo em adoração este Deus que nunca faltou em uma só de suas promessas (note a sua convicção em Js 23:14-15).
Foi assim que o grande líder israelita se comprometeu em estabelecer o culto ao Senhor como o único aceitável em sua casa. Nada além disso. Nada aquém disso.
Em conclusão, não posso deixar de considerar que nossas famílias hoje, de modo igual, continuam expostas a uma multiplicidade de deuses antigos e da modernidade, formatos religiosos e de culto, objetos de veneração e preocupação última. Todos eles querendo a primazia de nossa alma. A necessidade de escolha continua então imperiosa a cada um de nós: A quem vocês vão servir? A quem invocarão em adoração? Quem será sua companhia e preocupação última?
Que o próprio Senhor da Igreja nos dê líderes, servos e servas que digam: Eu já fiz a minha escolha. Eu e os da minha casa nos comprometemos em servir ao Senhor.
(Da revista "EDUCADOR" – ano XXII – nº 85 – 2T14)

terça-feira, 5 de junho de 2018

A MISSÃO COMO CELEBRAÇÃO


Conclusão das considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

O último aspecto da missão da igreja é a celebração e neste ponto nossos olhos são postos numa leitura do texto de Apocalipse. Vale ressaltar a princípio que esta leitura não é “um plano do futuro. Nem sequer é um esboço das etapas da história. É mais uma celebração e uma interpretação da fé cristã na encruzilhada da história” (p. 141). Ou seja, segundo Costas, o livro de Apocalipse, ao contrário de outros contemporâneos do mesmo estilo, tem uma visão triunfante do Deus como Senhor da história sobre todos os impérios da terra e por isto pode centralizar sua ótica na celebração de Deus e de suas ações. Apocalipse é um livro que desafia à missão e a celebração da igreja.
Esta celebração é primeiramente contextual, dar-se diante do trono de Deus, onde “não há outro lugar de onde possamos obter uma visão tão ampla e completa das complexidades da história humana” (p. 143). É neste contexto que a igreja pode celebrar a vitória triunfal de Deus. Mas a celebração é também comunitária: além dos personagens celestes, “toda raça, língua, povo e nação” (Ap. 5:9) está diante do trono unindo-se na celebração.
Finalmente a celebração deve ser encarada como parte significativa do compromisso e da missão da igreja porque: Deus tem o controle da história; a missão é um processo global e dinâmico; o culto está intrinsecamente relacionado com a ação de Deus na história e a conversão das nações ao Deus trino e uno e o Deus que o Senhor da história é o Deus da cruz.
Costas conclui:
A missão é portanto uma causa para celebração. Em vista do que se trata, devemos celebrá-la com humildade, com gratidão e com confiança (p. 153).
Numa visão geral a obra de Orlando Costas é singular por abordar a missão da igreja sob uma ótica protestante latino-americana; bibliografia tão carente entre nós. Mas também seu valor recai em ser uma obra objetiva, direta, contudo profundamente teológica e prática, como se requer da reflexão cristã. O texto mostra-se bem circunscrito dentro do ambiente cristão que o fez nascer e alimentou sua reflexão e, talvez por isto mesmo, serve perfeitamente como instrumento fomentador do fazer teológico. Contudo vale lembrar que o universo cristão latino-americano não é, em hipótese alguma, um universo uniforme, logo esta variedade não pode ser representada de maneira unívoca em qualquer obra; mas a obra de Costas também mantém este mérito de mesmo focando seus olhos no seu ambiente próprio, propõe uma missiologia que pode ser lida e reinterpretada em qualquer ponto onde o cristianismo se faça presente – mesmo nos rincões distintos da América Latina.
Há um aspecto porém que poderia ser acrescentado. Enquanto que no primeiro capítulo o texto procurou abrir a discussão com uma visão histórica da missão na América Latina – e o faz acertadamente – a conclusão poderia acrescentar uma observação sobre como a igreja hoje tem encarado os diversos aspectos da missão e seu compromisso em relação a cada um deles, propondo alternativas para que a igreja se mantenha centralizada na sua missão.
A pergunta seria: tem a igreja hoje na América Latina comprido fielmente com o compromisso da missão diante deste mundo de incerteza em que vivemos? Parece-nos que embora haja pontos de acertos na vida da igreja, hoje a igreja latino-americana ainda precisa enfatizar alguns aspectos da missão. Quanto a isto só nos resta acreditar que também em relação ao cumprimento da missão cristã em terras latino-americanas: “porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fl 2:13).