Recebi
no final do ano passado uma cópia do livro "VIDA
CRISTÃ E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA: para não se enganar nas
eleições"
do mestre João Ferreira Santos – com direito a dedicatória e
tudo. Sem dúvidas, eu me senti privilegiadíssimo.
Quanto
ao autor: fui seu aluno no curso teológico no Recife lá pelos anos
de oitenta e alguma coisa e desde então tenho reconhecido sua
erudição e conhecimento bíblico-teológico e pastoral. Ou seja,
ao ter o livro em mãos, antes mesmo de ler, eu já sabia que era
coisa boa.
Então
o li com a atenção e cuidado devidos. E digo: o estilo e a
capacidade continuam dignos de nota.
Mas
vamos deixar estas palavras introdutórias e falar do livro em si.
Não quero aqui fazer uma resenha técnico acadêmica do texto; bem
que merecia, inclusive para publicação em periódico especializado.
Também não convém um discurso laudatório, pois seria
desnecessário. Neste caso vou apenas fazer poucas observações
para atiçar a vontade de ler.
O
livro começa com algumas considerações preliminares sobre a
religião e a política no tempo de Jesus e, a partir daí, qual foi
a proposta do cristianismo e como ela de encaminhou até se confundir
com o próprio Império Romano. Pensa também sobre as bases
políticas que deram origem ao protestantismo para então considerar
o desafio da participação política hoje.
O
texto segue analisando o direito do voto como conquista da
democracia, da agremiação partidária como conquista do estado
moderno e da resistência como conquista da cidadania.
Bem,
até aqui eu praticamente fiz apenas citar o sumario. Mas eis que
chego ao capítulo cinco – a meu ver o mais importante: o direito à
educação como uma necessidade política. Aqui está a tese
principal da obra.
Com
um bom embasamento teórico dos clássicos e de outros textos de
reflexão moderna, João Ferreira entende que a única solução para
o problema político que o Brasil se vê emaranhado atualmente é
assumir um projeto sério e abrangente de educação política. E
aqui entendido educação política como o processo de formação do
caráter ético e moral dos que constituem a polis
– a cidade (daí os termos: política, do grego, relativo à polis
e cidadania, do latim, à cidade).
Mas
deixe-me passar a palavra ao próprio professor. É inegável que o
Brasil está em crise moral e institucional...
Ora, considerando o Brasil
como o paciente, é necessário que se entenda que a enfermidade foi
causada pelos próprios políticos, logo o remédio não pode
proceder deles. Tomando como base a ideia platônica, o remédio vem
da educação, mas no Brasil, a educação também está enferma,
confundiu-se com doutrinação (p. 60).
Como
resolver este dilema? Mais uma vez as palavras são do mestre:
Assim a educação política
não deve ser entendida como a arte de fazer quem não quer querer,
mas como a arte de fazer com que cada um descubra o que é legítimo
querer.
(...)
Assim, o educador e o educando
assumem, cada um a seu modo, a condição de sujeito do processo
educativo. Com isso, a curiosidade ingênua se transforma em
curiosidade epistêmica; a doutrinação se transforma em educação;
a pedagogia do oprimido se transforma em pedagogia da autonomia; e a
vontade de poder se transforma em vontade de saber (p. 95-96).
O
livro, que foi publicado em 2016 mas continua relevante e atual,
finaliza com valiosas dicas para não se enganar nas eleições. Sem
sobra de dúvida ele é indispensável para quem quer pensar e
entender o tempo presente e participar no projeto de um Brasil melhor
e possível. Essa precisa ser uma nossa contribuição como cristãos
neste mundo.