No
segundo versículo da Bíblia é dito que o Espírito – como um vento – de Deus
soprava sobre a terra ainda em formação.
Até então só havia silêncio e caos.
É aí que, de maneira poética, o texto diz que Deus com o seu vento
pairava sobre o nada primordial.
Essa
associação entre espírito e vento que transcorre o texto sagrado, além de
linguística, permite deixar voar minha mente e alma e ser envolvido pela beleza
e fascínio deste sopro. Com esta
poesia, veja comigo o que acontece quando sopra o vento de Deus.
Em
primeiro lugar, Deus fala. Em Gênesis
capítulo primeiro, o que domina a narração é: E disse Deus... Quando sopra
o vento do Senhor ouve-se a sua voz.
O Deus
que com seu Espírito pairou no princípio é o Deus que fala com os seres
humanos. Como um vento que sopra e toca
nossos ouvidos, o Senhor sempre fala de suas maravilhas a sua obra prima (uma
boa referência é a conversa de Jesus com Nicodemos – veja Jo 3:8; mas também a
indicação de Amós em Am 3:7).
Ainda no Gênesis, do nada o universo é criado.
Não me interessa informações astronômicas ou documentação
científica. O sopro espiritual é poesia
criativa e beleza que gera mundos.
Através
da leitura bíblica sou levado a acompanhar o processo criativo do vento divino
enquanto ele sopra. Não havia material
pré-existente – Deus não precisa disso, ele faz do nada o tudo acontecer, traz
a existência o que não existe (o texto aos Hebreus diz que aceitamos isso
somente pela fé – Hb 11:3; leia ainda como é bela e forte a resposta do Senhor
a Jó a partir do capítulo 38).
Quando
sopra o vento do Espírito, o caos se transforma em jardim: o que era deserto e
desordem, com o passar deste vento, é processado em um lugar acolhedor e belo.
O vento
soprando é a garantia que tenho na existência de um projeto maior para a
criação. Deus não criou o mundo e o
abandonou a própria sorte; ele quer que eu viva num lugar aconchegante, por
isso sopra sobre a desordem para que haja vida e bem neste lugar (a Isaías é
dito bem claro – Is 45:18; e este sentido pode também ser lido na promessa de
Rm 8:18-25).
O mesmo
Espírito que soprou no princípio ainda assobia em meus ouvidos e me enche de
vento sagrado, pois foi soprado sobre os discípulos pelo próprio Jesus (confira
em Jo 20:22). É por isso que continuo
crendo que nesta brisa divina ainda posso escutar a voz do Senhor, posso ver um
mundo novo sendo criado e nele um jardim de delícias sendo plantado.
Que
sejamos embalados neste vento que sopra sobre nós.
(Esta reflexão foi publicada originalmente
no sítio ibsolnascente.blogspot.com em 20/05/2010)