sexta-feira, 29 de junho de 2012

O MAIOR E O MENOR

O evangelista Lucas narra que logo após Jesus ter celebrado a última ceia com os seus discípulos surgiu também uma discussão entre eles, acerca de qual deles era considerado o maior (confira em Lc 22:24).  E desta discussão – com a resposta dada pelo próprio Cristo – e da ocasião em si que ela ocorreu, posso tirar pelo menos duas lições importantíssimas para a minha vida cristã.
Jesus tinha acabado de demonstrar histórica e concretamente o significado máximo de sua missão e sua intenção para com os seus seguidores ao falar de um corpo oferecido e de sangue derramado em favor de vocês (veja versos 19 e 20 do mesmo capítulo 22) e os discípulos estavam preocupados sobre quem dominariam sobre os outros.  A ocasião me faz compreender que não basta apenas estar posicionado ao lado de Jesus, é preciso estar de acordo, somar-se, haver ligação de propósitos e projetos entre o Mestre e seus seguidores para vir sobre nós o Reino.
Quanto à discussão e a fala de Jesus, é fácil observar que para os que querem assentar-se sobre os tronos do Reino (veja o teor do pedido no verso 30) é preciso priorizar a atitude de serviço e humildade. Afinal no Reino de Deus maior é quem serve (leia mais em Lc 22:26).  Ou seja, aquele que almeja o ministério cristão – ou qualquer outra ocupação dentro do projeto do Reino de Deus – tem que estar bem consciente de que isto só terá sentido se for para desenvolver toda uma vida de serviço a Deus e aos seus pequeninos. 
Diferentemente dos valores do mundo, no Reino apregoado por Jesus, eu devo estar é para ser serviçal e útil aos outros, para estar disponível a ajudar e cumprir as ordens que me são dadas.
Hoje quando novamente sempre que volto a celebrar o Senhor, que não se repita em mim a intenção equivocada dos discípulos de Jesus de há dois mil anos, mas que eu tenha aprendido a lição de união com os projetos de doação de corpo e sangue deixados pelo próprio Mestre, lição esta que me impõe a vida de serviço litúrgico e comunitário para lograr ser participante do Reino de Deus. 
E que assim nos faça o Senhor.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Disciplina cristã VII – SAUDAÇÃO


A saudação é sempre uma forma de interação social.  Nela alguém está estabelecendo um ponto de convívio com um outro.  Neste sentido, a disciplina cristã da saudação deve ser a ponte – o vínculo – a ser construído entre eu e meu irmão.  Uma busca de encontro, um ponto de contato saudável e amável.  A disciplina da saudação então pressupõe contato, interação imediata, reciprocidade; através dela eu me achego ao meu irmão, posso tocá-lo com compaixão e ternura, posso sentir seu toque de volta e desta forma criar laços sinceros entre nós.
A base sobre a qual é estabelecida a saudação cristã deve ser o amor.  O amor é o que deve envolver todas as ações do cristão.  Todo o seu viver e agir tem que ser sempre tendo o amor como parâmetro (considere 1Co 16:14).  Assim, a saudação entre os cristãos deve ser na medida exata do amor que há de fluir, partindo de Deus, a essência de todo amor, passando por aquele que faz a saudação e chegando ao que a recebe, também nutrido pelo mesmo amor.  Tudo pode ser então resumido desta forma: acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito (Cl 3:14).
Quanto às formas culturais que esta saudação se reveste, realmente é assunto de importância secundária.  Quando estabeleço meus relacionamentos com meu irmão baseado no amor fraternal, as formas culturais ficam para segundo plano, para que sobressaiam as verdadeiras intenções e interesses do coração (veja Rm 12:10).  Neste sentido, a saudação cristã deve expressar a cordialidade reinante entre os irmãos; expressar também o interesse verdadeiro que devemos ter uns pelos outros; e ainda a disponibilidade de servir uns aos outros.
É bom que seja dito aqui que numa saudação cristã não pode haver fingimento ou fórmulas vazias de significado.  Tudo o que falamos, ou a maneira como nos portamos, ao saudar nossos irmãos precisa ser necessariamente o resultado daquilo que o Senhor fez brotar em nossos corações.  Ou seja, não fazemos saudações para cumprir rituais sociais ou religiosos, nós o fazemos para que o Espírito que deve palpitar dentro de nós possa ser compartilhado com aquele a quem com prazer dirigimos a saudação. 
Mesmo compreendendo que as formas culturais não são primordiais; deixe-me fazer duas colocações sobre elas.  Primeiro quanto às palavras a serem ditas.  Como foi enfatizado logo acima: que haja sinceridade, mas também que ministre bênçãos ao serem proferidas.  A fórmula usual na igreja primitiva expressava bem este conceito: graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus, o nosso Senhor (2Pe 1:2).  Com cuidado e dedicação cristã, podemos sempre pronunciar palavras cheias de amor cristão: nisto está a essência desta disciplina.
Segundo quanto aos gestos.  É sempre bom estabelecer contatos físicos, pois isto faz parte da disciplina cristã.  É preciso ter muito cuidado, porém, por que nesta área pode-se dar muita brecha para a ação do inimigo (lembre de Ef 4:27).  Tradicionalmente no Brasil apertamos as mãos, oferecemos um abraço aos mais chegados e, dependendo do caso, arriscamos até um beijo.  Eclesiastes fala em tempo de abraçar, mas cita também em tempo de se conter (Ec 3:5).  Tudo isto pode ser demonstrações gestuais da disciplina da saudação, o que é bom, mas a instrução bíblica é clara: afastem-se de toda forma de mal (1Ts 5:22).  Quando for o caso de os gestos virem a ser interpretados de maneira maldosa, o mais sábio e disciplinado é evitar.  Isto vale para a prática bíblica do ósculo santo (beijo – em vários lugares como Rm 16:16 ou 1Ts 5:26).  E Pedro vai além se referindo a beijo de santo amor (1Pe 5:14).  O beijo, para ser incluído nas práticas da disciplina da saudação, tem que ser necessariamente um instrumento de transmissão de santo amor e nunca uma oportunidade para a carne (veja Rm 8:13 e Gl 5:24-25).

sexta-feira, 22 de junho de 2012

ESTA É A DE Nº 100


Esta é a de número 100.  É só contar aí do lado: foram 62 em 2011 e com esta são 38 em 2012 – o que dá exatamente cem postagens desde que abrir este sítio em 06/04/2011.  Por isso, hoje não quero trazer nenhum tema para reflexão ou análise, apenas comemorar esta marca!
Quando coloquei o primeiro post já admitia ser um recomeço; eu vinha de outras experiências com a escrita.  Mas cada novo texto é um novo desafio – duro e gratificante na maioria das vezes.  Assim, a recorrente tarefa de escrever se fez renovar a cada nova composição.  Espero que tenha cumprido o objetivo de, com as palavras, exaltar o Deus da glória, e transmitir algo que fosse tão veraz quanto saboroso.
É verdade que continuo achando que escrever é um arte.  Tem seus estilos: escreve-se romances, poemas, crônicas, ciências, reflexões, teses...  Também me mantém a convicção que, embora se aprenda redação na escola (e para mim com certeza foi que grande valia).  Mas compor textos como quem entalha palavras ou tece ideias só a lavra dos parágrafos nos confere.
Em resumo: só se aprende a escrever, escrevinhando!
Quanto a esta centésima postagem, vou me permitir apenas aproveitá-la para celebrar a ocasião.  Olhando no retrovisor, vejo que andei beliscando temas variados – sempre me dei tal liberdade.  Contudo o que mais fiz foi refletir a Bíblia – sem dúvida é para isso que me sinto vocacionado – e é o que pretendo continuar fazendo.
Assim, nesta que é a de número 100, eu desejo somente lhe fazer um convite:  louve comigo àquele que é a Palavra Encarnada, por conceder um tantinho de sua graça me permitindo ser um simples escrevinhador.  Soli Deo Gloria.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Disciplina cristã VI – TESTEMUNHO


Para nos aprofundarmos no estudo da disciplina do testemunho é necessário trazer para a reflexão dois textos:
Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra.
(At 1:8)
Isto foi o que o próprio Jesus falou aos seus discípulos que assistiram o momento de sua ascensão aos céus revestido de glória.  O Espírito Santo era uma promessa divina que seria derramado sobre o povo de Deus (Pedro reconhece como o cumprimento da profecia de Joel – veja At 2:16-21).  Mas a certeza da presença do divino Espírito Santo no meio da nova igreja não tinha como objetivo apenas proporcionar a eles uma variedade de experiências novas e diferentes.  O que o Senhor pretendia era capacitar cada um daqueles homens e mulheres a serem testemunhas eficazes e poderosas.
Aqui os dois lados se complementam e se interpenetram.  Não há verdadeira experiência de enchimento do Espírito Santo sem que isto resulte em uma vida de disciplinado testemunho do poder de Deus e suas realizações na história.  Também não haverá testemunho significativo enquanto não formos tomados por completo pelo controle do Espírito de Deus derramado entre nós (leia Ef 5:18).  Ou seja, a disciplina do testemunho começa quando o Espírito da promessa vem sobre nós com o seu selo (confira Ef 1:13) e a partir daí não há como não se viver intensamente moldados por esta disciplina.
O outro texto vem das palavras de Jesus no Sermão da Montanha:
Vocês são a luz do mundo.  Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.  (...) Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus.
(Mt 5:14-16)
O Mestre nos qualifica como luz no meio deste mundo de trevas.  Ser luz não é uma opção para aqueles que seguem Jesus e vivem como cidadãos do Reino de Deus.  E por ser luz não há como se viver escondidos.  Observe, contudo, que ele nos fala sobre decisões a serem tomadas e responsabilidades que devem ser assumidas.  É preciso assumir com responsável decisão as implicações de uma vida disciplinada de fazer a luz brilhar, mesmo em meio as mais densas trevas.  Não é somente uma questão de esperar para ver o que pode acontecer com a luz que há em nós – ou aguardar alguma oportunidade de dizer certas palavras as quais mostrem que compomos o esquadrão do exército de Deus. 
A questão principal é demonstrar com coragem e decisão em cada atitude da vida que somos comprometidos com o Reino de Deus e seus valores (veja Mt 6:33).

sexta-feira, 15 de junho de 2012

DE UM MODO DIGNO


Em Fl 1:27 eu leio: Somente portai-vos, de um modo digno do evangelho de Cristo.  Retirando um pouco a expressão do contexto, porém sem ferir a palavra apostólica, quero apontar aqui, de um jeito sucinto, como deve o cristão se portar para que viva de um modo digno do evangelho.
Acompanhe meu raciocínio:
Comece assim: seja educado!  Aqui incluo conceitos como gentileza, delicadeza, fineza, cavalheirismo.  Um comportamento que seja digno do evangelho de Cristo tem que ser um fino trato que nos faça gentil e educado no meio de uma sociedade cada vez mais individualista e arrogante.  Esta parece ser também a intenção de Paulo em Rm 12:10.
=> Cuidado!  Ser macho (!!!) não significa ser bruto nem grosso.  Trate bem as pessoas.  Também: liderar não é o mesmo que pisotear.  Exerça influência sem atropelar.
Partindo daí: cuide de sua língua!  A minha maneira de falar tem que sobressair como demonstrativo do modo digno do evangelho de Cristo que abracei.  Além das instruções de Tiago, a frase em 2Tm 1:13 demonstra bem isto.
=> Cuidado!  Você pode ser verdadeiro e franco sem que isso machuque ninguém.  Ainda: um elogio na hora certa vale ouro.
Na mesmo linha: escolha as palavras!  Aqui tem a ver com o uso sistemático de expressões de cuidado e fraternidade.  Num mundo de relações frias, eu, como discípulo de Cristo, preciso mostrar com o meu linguajar que estou revestido do mesmo sentimento de amabilidade que houve também em Cristo Jesus (lembre-se de Fl 2:5).
=> Cuidado!  O hábito (ou a falta dele) às vezes nos derruba.  Acostume-se a escolher bem as palavras que vai usar.  E mais, o domínio correto do bom vocabulário só ajuda.
Para terminar, vou apenas citar as palavras de 1Pe 3:8-8: Finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, cheios de amor fraternal, misericordiosos, humildes, não retribuindo mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; porque para isso fostes chamados, para herdardes uma bênção.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Disciplina cristã V – COMUNHÃO


A disciplina cristã da comunhão, embora deva ser desenvolvida a partir de uma disposição interior inabalável de seguir as determinações do nosso Mestre, como o próprio tema já sugere, tem que ser vivenciada entre os irmãos de fé, no meio da igreja.  A comunhão dos santos (um bom conceito para descrever a igreja!) é o resultado da soma dos esforços pessoais de cada crente que se aplicam para manter unido o povo de Deus, tendo o mesmo objetivo e submissos ao mesmo Senhor.
Para aprofundarmos nosso estudo sobre esta disciplina espiritual é preciso realçar pelo menos três verdades, as quais devem estar gravadas na vida e coração de cada fiel cristão para que, só então, a comunhão venha se tornar uma realidade na experiência da igreja.
Em primeiro lugar, a igreja primitiva tinha uma convicção certa de quem exercia o senhorio sobre ela: Jesus Cristo.  Sendo Jesus o Senhor de tudo – aquele que tudo possui (Sl 24:1) e tem todo o controle (Lc 12:6-7) – então tudo o que resta é nos submeter à sua vontade.  Ninguém é dono de nada, nenhum cristão, por mais fiel que seja.  E se tudo pertence ao Senhor então devo colocar tudo à sua disposição a fim de que ele use para o desenvolvimento da comunhão do corpo de Cristo. 
Escrevendo à Igreja em Filipo, o apóstolo Paulo exorta: nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmo (Fl 2:3).  Este é um excelente método para que a disciplina da comunhão seja gerada em nosso interior e daí flua para a igreja; esta é a segunda verdade: ter um conceito humilde em relação ao meu irmão, considerando-o como digno de maior relevância em relação a mim mesmo.
E ainda, uma terceira verdade: a única relação de dívida a ser considerada no trato com meus irmãos é o amor fraternal – ou recíproco: Não devam nada a ninguém, a não ser o amor uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a Lei (Rm 13:8).  Nossa base de relacionamento tem que ser alicerçada num entranhável afeto que transborde para a vida comunitária (veja Fl 2:1-4).
Só um dado estatístico para ilustrar a força do conceito desta disciplina nas páginas do NT: a expressão uns aos outros indicando a necessidade de haver reciprocidade nas relações cristãs aparece 54 vezes no Novo Testamento.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

CORPUS CHRISTI


Esta semana nos proporcionou mais um feriado.  Creio que não preciso de estatísticas para demonstrar que para uma considerável quantidade de patrícios nossos foi apenas mais um dia sem ter que enfrentar a rotina do labor ou as bancas escolares.
Obedecendo ao calendário litúrgico pelo qual nos guiamos (não vou aqui discutir se o Brasil é um país laico!), este feriado é denominado de Corpus Christi (do latim: Corpo de Cristo), uma festa de preceito católica observada a partir do século XII, cuja ênfase se dá na lembrança do corpo de Cristo personificado na hóstia. 
(Se você quiser saber mais sobre a celebração e suas implicações, tenho certeza que na própria Internet você pode achar um vasto material, mas por hora, vamos deixar esta discussão de lado...)
Mesmo não sendo eu de tradição católica romana, mas, como cristão que também sou, entendo que é bom aproveitar o ensejo da festa para fazer três leituras do Corpus Christi na Palavra de Deus e lembrar sua importância em nossa fé cristã.  Vamos aos textos:
Is 53:5 – Pelas suas pisaduras fomos sarados.  Antes mesmo dos eventos pascoais, o profeta não só já previa o que aconteceria com o corpo de Cristo, mas também, e principalmente, oferecia uma interpretação teológica adequada para as chagas e sofrimentos do Messias no madeiro.
Se pela fé eu posso acreditar que há cura para o meu corpo ainda hoje e que na eternidade tomarei posse de maneira definitiva desta bênção, é porque aquele corpo humano foi moído em meu lugar.
Lc 22:19 – Isto é o meu corpo.  Quando celebrou a última ceia com seus discípulos, Jesus se serviu do pão para representar o seu corpo que, como aquele alimento, também foi dado e repartido entre os fieis e relembrado de maneira repetida e sistemática a fim de que nunca seja esquecido o seu sofrimento redentor.
E ainda hoje assim o fazemos.  Sempre que comemos do pão, trazemos de maneira grata, alegre e solene à memória aquilo que Cristo fez por nós, e anunciamos a sua morte até que ele venha.
1Co 12:27 – Vós sois o corpo de Cristo.  O apóstolo Paulo usou da figura do corpo para ilustrar a unidade e coesão que deve haver na igreja.  Mais do que uma história contada e recontada, ou um memorial litúrgico, a vida da própria igreja, como corpo ligado à Cabeça, é a personificação do corpo glorificado, enquanto estamos na travessia desta história.
Sendo você cristão como eu, independente da tradição ou coloração denominacional a que esteja ligado, encontre seu lugar neste Corpus Christi.  E não se esqueça que Cristo amou a igreja e entregou-se por ela para santificá-la e para entregá-la a si mesmo como igreja gloriosa, santa e inculpável (leia em Ef 5:25-27).  Para a glória dele.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Disciplina cristã IV – MEDITAÇÃO


O mundo no qual estamos vivendo só conhece a meditação como demonstrada pelas religiões orientais e esotéricas.  Em geral o que propõem estas configurações religiosas é uma meditação que procura esvaziar o ser humano – sua mente e sua alma – para que este possa encontrar-se com o seu destino.  Ora, esta proposta não pode encontrar lugar na mensagem cristã, pois não está nos homens e mulheres o próprio destino; nem será esvaziando-se apenas que encontraremos nosso destino (compare com a lição ensinada por Jesus em Lc 11:24-26).
A disciplina da meditação, conforme é instruída aos cristãos, pelo contrário, não se esgota num esvaziamento, mas tem que conduzir a um revestimento – enchimento – do Espírito Santo de Deus (veja Ef 5:18).  A meditação cristã é basicamente uma busca pela presença real e constante do amado de nossa alma.  Não é uma busca pelo vazio silencioso da alma sedenta, mas o encontro com o silêncio cheio de Deus.  A meditação conforme descrita na Bíblia é quando deixamos o barulho das aglomerações humanas para nos encontrarmos na aparente solidão da gloriosa companhia do Mestre (Jesus fez isso várias vezes enquanto esteve aqui na terra).
A meditação como disciplina cristã é refletir, pensar, comparar, trazer à mente tudo aquilo que Deus fez e está fazendo em nossa vida particular e na história para atualizar a nossa confiança inabalável naquilo que ele ainda poderá fazer em nós e conosco (veja Fl 4:8).  Deus nos deu uma mente fértil em pensamentos e imaginação, e na meditação todo este potencial é colocado à disposição do Altíssimo para que ele aprofunde as nossas ideias, traga paz ao nosso espírito interior, cure nossas feridas de alma, faça-nos compreender melhor sua Palavra e sua vontade e nos enriqueça espiritualmente.
É preciso exercitar a disciplina da meditação sempre que nossa alma precise estar em conexão com o Espírito divino.  A meditação sempre nos ajudará a encontrar respostas para questões que aparentemente não têm solução.  Na meditação nossa alma e mente poderão vagar por lugares e estados onde somente o Senhor poderá nos guiar e lá – no lugar do encontro mais certo com o Pai – ele nos encherá de sua Palavra e poder.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O FARISEU E O PUBLICANO


A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano”.  Assim Lucas introduz a bem conhecida parábola do Fariseu e do Publicano (este é o verso 18:9 e a parábola é narrada a seguir até o verso 14).
Permita-me uma análise rápida da história.  O fariseu e o publicano eram dois personagens bem comuns dos dias de Jesus, e com alguns deles o próprio Jesus se deparou várias vezes em seu ministério.  E são estes os personagens que ele escolheu para usar como ilustração nesta parábola.
Na parábola os dois sobem ao templo para orar e lá se diferenciam enormemente na busca da súplica ao céu.  É exatamente esta diferença, a princípio absurda e incoerente, que Jesus destaca.
A distinção pode ser observada por três ângulos distintos: (1) olhando-se pela ótica popular, (2) pela ótica dos próprios orantes e (3) pela ótica divina.  Analise comigo cada uma delas. 
(1) Para o povo: o fariseu seria aquele que estaria ritualmente limpo e apto para comparecer diante de Deus em oração.  O publicano seria o avarento traidor do povo – e de Deus – logo sem condições de estar na presença sagrada.  Assim, o primeiro receberia coerentemente uma resposta ma sua oração.
Mas estas observações são apenas exteriores.  O inusitado da parábola está em o Mestre propor uma leitura alternativa do episódio.  Continuo com outra perspectiva.
(2) Para os próprios personagens: o fariseu é aquele que não se compara com os demais pecadores pois estaria acima dos vícios e defeitos dos outros – comparativamente melhor!  Por sua vez o publicano se sabe o indigno pecador e – sem comparações – apenas suplicante das misericórdias divinas.
Jesus não credita ao próprio coração humano a prerrogativa de bom juiz.  O desfecho da parábola também não será determinada por direitos reivindicados.  Contudo, falta ainda o último ângulo de visão.
(3) Para Deus, que ouve a oração: o fariseu é o arrogante que, preso às suas convicções, não é capaz de merecer nada além do que ser estimado pelo populacho – pois só é isto que receberá!  Por outro lado, o publicano é o humilde que, buscando a Deus em sua sinceridade e a despeito de todos os pecados e falhas, pode voltar para casa abençoado, pois foi ouvido por Deus.
Certamente estes dois personagens estão ainda hoje diante de nós: a qual dos dois nos compararemos.