sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O AMOR DE DEUS EM CRISTO JESUS


O apóstolo Paulo não tem dúvida: Pois estou convencido de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem demônios, nem o presente, nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor Deus que está em Cristo Jesus (Rm 8:39-40).
A certeza final garantida de que nada será capaz de me separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus é sempre motivo de alegria e celebração para cristãos de modo geral e para mim em particular.  Lendo o contexto, porém, sou levado a compreendê-la não apenas como uma promessa solta; mas indicando o resultado de uma vida de entrega e engajamento completo. 
Já pouco antes, citando o Sl 44:22, Paulo apresenta a vida cristã neste modelo (volte um pouco a Rm 8:36).  E o que mais chama a atenção é a expressão: enfrentamos a morte.  Antes da garantia da vitória há a necessidade da batalha. Examine comigo melhor.
Tudo começa com a motivação: por amor.  A vida cristã começa com a certeza que tudo o que faço deve ser motivado pelo amor de Cristo que me constrange (veja ainda 2Co 5:14).  O próprio Jesus já havia dito que por amor dele era preciso deixar pai e mãe (Lc 14:26), o que deveria implicar em tomar cada dia sua cruz (Mt 16:24).  É fácil entender que se faz necessário uma disposição a morrer pelo amor de Cristo para que se viva a partir dele.
E o Salmo citado pelo apóstolo vai além: fui considerado como ovelha para o matadouro.  Ora, uma ovelha só vai ao matadouro quando é destinada à morte.  E mais, ela faz isso em silêncio.  Ou seja, como cristão que sou, o meu destino natural é morrer pelo evangelho que abracei, é assumir a minha cruz e me dispor a morrer.  Este precisa ser o meu modo de ser e de viver e Paulo sabia exatamente todas as implicações desta vida quando afirmou que foi crucificado com Cristo (confira Gl 2:20).
Agora voltemos à garantia da vitória.  Quem quiser ser mais que vencedor (bonito e saboroso em Rm 8:37!) tem que estar disposto a se entregar todo dia à morte, voluntariamente e por amor.  E a glória será do nosso Senhor. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Parábola das coisas - o violão


Instrumento musical simples e interessante, o violão é um legítimo herdeiro de uma longa e rica linhagem de instrumentos de corda.  Ele tem como irmãos o alaúde, a cítara, a guitarra, o bandolim, o banjo, o saltério, o cavaquinho, entre outros, além de primos como o violino e o celo.
Além do seu formato básico: uma caixa de ressonância (geralmente de madeira) e, partindo desta, um braço, a parte principal – claro! – são as cordas que sendo de diferentes espessuras e calibres, juntas concorrem para produzir ritmos, harmonizas e melodias que, tangidas, se oferecem com simplesmente música.
Mas quero olhar o violão moderno como ele se apresenta.  Em uma primeira vista até parece coisa bem simples, contudo, com um pouco mais de atenção dar para ver que não é bem assim.  Para se ter um bom violão é preciso que a madeira que vai formar o seu corpo seja devidamente escolhida, suas curvas e entalhes contornados com esmero e as cordas – de nylon ou aço – milimetricamente espaçadas e retesadas para que nada comprometa a sua afinação e sua sonoridade.
Não é difícil associar a confecção de um violão de primeira qualidade com a minha criação conforme me conta o poema sagrado do Gênesis.  Com um excelente projeto e modelo em mente, Deus escolheu o material apropriado, moldou e entalhou com exímio esmero todos os detalhes do meu contorno, depois retesou com precisão cada corda do que eu sou para que nada comprometa a minha afinação e minha sonoridade.
Agora atente ainda para o fato de que nada disso fará sentido algum sem a habilidade musical de um instrumentista.  O melhor violão, saído do entalhe do melhor luthier, nas mãos de um analfabeto musical jamais resultará numa tocata de Bach, num choro de Pixinguinha ou sequer numa moda de viola.
Volto a me associar ao instrumento musical – para isso é que servem as parábolas.  Como obra prima da melhor fornada do Criador Supremo, não há por que não me valorizar como peça de primeiríssima qualidade.  Mas, da mesma forma que o violão, de mim só sairá música digna quando for tocado com maestria e competência por divinas mãos, capazes de me tanger com santa arte.
Que assim de toque ele.  Para sua glória eterna.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

VENTO LIVRE


Ouvi pela primeira vez o musical Vento Livre ainda no meu tempo de seminarista, logo depois de ele ter sido produzido pela Igreja Batista do Morumbi, lá pelo final da década de 1980.  Lembro-me bem que na época nos juntamos e realizamos uma encenação da obra – nada muito profissional, mas com um verdadeiro espírito amador – e o apresentamos no Recife (confesso que ainda sonho em refazê-la aqui em Aracaju).
Voltei a ouvi-lo recentemente (agora em CD) e devo reconhecer que aquele som ainda continua me tocando a alma.  É sempre assim com a boa música: não tem idade.  E quando consegue aliar a qualidade musical com a história sagrada, seus efeitos são eternos.
A história, resultado da lavra de Guilherme Kerr Neto e Nelson Bomilcar, apresenta a vida de Jesus sob a ótica do evangelho de João.  Ela começa com a declaração de que desde o princípio era o Verbo e que este virou gente e habitou entre nós para, em seguida, serem citados episódios da vida e ministério de Jesus. 
Com certeza, contudo, para mim em particular, a mais significativa e tocante canção é a que dá voz à mulher samaritana.  Num musical cantado por vozes masculinas, o solo à beira do poço, em primeira pessoa, de certo modo instiga a olhar diferente para o episódio.  É tudo surpreendente!
Nos campos de Samaria, uma mulher apresenta seu desalento: cansada sob o sol, sem vislumbrar um fim e, mesmo com uma fugaz alegria, só lhe restava a exclamação: não sei o que fazer!  Mas, parem tudo.  Eis ali um homem judeu, é estranho querer conversar.  E do inusitado diálogo sobre a água, aquela que se via desiludida encontrou razão para viver.
A presença e a história da samaritana sobressai no musical como uma declaração de que o Vento Livre, entrou na história concreta das pessoas, ocupou-se de questões bem humanas, olhou para os marginalizados, atentou para nossas frustrações e apresentou novas perspectivas.
O musical prossegue para mais adiante pontuar a crucificação, cantada como uma noite de horror, e a contrapor com a alegre madrugada da ressurreição, dando ênfase no enxugar das lágrimas de Maria e na necessidade de missão: ide dizer que Cristo ressuscitou. 
Na conclusão, quase como um recitativo, ouvimos João lembrando que há, porém, tantas outras que Cristo fez e falou, mas estas que foram escritas são suficientes para crer nele e ter vida eterna em seu nome.  Um amém final fecha a obra e só nos resta dizer: Glória a Deus pelo Vento Livre!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Salmo 51 - uma leitura


Davi era poeta, e sempre usou de sua arte para expressar o que havia em sua alma, colocando-a diante de Deus.  Quando Natã lhe apontou o pecado, em espírito de arrependimento e confissão, Davi escreveu o Sl 51.  A beleza e a profundidade das palavras são realmente incomparáveis.  Somente alguém que já tinha experimentado da maravilha que é a companhia divina e a tinha perdido poderia expressar-se desta maneira:
Tem misericórdia de mim, ó Deus,
por teu amor;
por tua grande compaixão
apaga as minhas transgressões.
(Sl 51:1)
Desta forma o salmo prossegue com um reconhecimento sincero de culpa: reconheço as minhas transgressões (v. 3); contra ti pequei (v. 4); sei que sou pecador (v. 5).  Mas sempre a confissão é acompanhada da súplica pelo perdão: lava-me de toda a minha culpa (v. 2); purifica-me com hissopo (v. 7); apaga todas as minhas iniquidades (v. 9); livra-me dos crimes de sangue (v. 14).  Para então desembocar na petição central:
Cria em mim um coração puro, ó Deus,
e renova dentro de mim um
espírito estável;
(Sl 51:10)
Estando certo de que sua culpa foi expiada, e que novamente já foi aceito na presença santa do Senhor, pode então Davi concluir seu salmo:
Então te agradarás dos
sacrifícios sinceros,
das ofertas queimadas e dos holocaustos;
e novilhos serão oferecidos
sobre teu altar.
(Sl 51:19)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O Senhor está...


O Senhor está no barracão da favela
E a fome é menos rude e o frio é mais ameno
O Senhor está nos ônibus barulhentos
E o cansaço é mais leve e o perigo é menor
O Senhor está no cais onde os homens trabalham
E os fardos são mais leves e as horas menos lentas
O Senhor está ao lado dos guardas da noite
E o medo não existe e não há solidão
O Senhor nos asilos onde os órfãos anseiam
E sua presença aquece como um retorno de mãe
O Senhor está nos hospitais de indigente
E a dor desaparece e o sono logo vem
Bendito seja o Senhor.  Bendito seja, amém!

(Este poema foi recitado pelo Diácono João Fernando no Retiro Espiritual de nossa igreja há um ano e desde então eu queria publicá-lo.  Creio que chegou a hora!)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

HÁ NOVIDADES


O novo, o inusitado, o surpreendente e o inesperado sempre acompanharam o Cristianismo.  Conceitos como estes foram, e continuam sendo, muito caros para nós.  A própria definição de evangelho passa por esta ideia básica: o bom anúncio, a boa notícia, a novidade.
Os cristãos primitivos entenderam isto muito bem desde o princípio.  A essência de sua fé e de sua pregação era que eles tinham uma novidade verdadeira para contar: o Deus soberano e eterno tornou-se humano, veio buscar e salvar que se achava perdido, e que tudo isso – bem com a própria história humana – deve estar convergido no madeiro do Calvário (a sequência de textos bíblicos é Jo 1:1-5/14; Mt 18:11 e 1Co 1:22-23).
Duas passagens do Novo Testamento nos ajudam a entender melhor como aqueles irmãos compreendiam e vivenciavam a novidade do evangelho.  O primeiro deles está em 2Co 5:17.  O apóstolo Paulo diz literalmente que estar em Cristo implica deixar-se ser nova criação, renegar as coisas velhas e assumir a novidade de vida.
Encarando com seriedade esta passagem temos que reconhecer que não existe fé cristã sem novidade essencial.  Tudo o que agora somos, o que pensamos, o que falamos e gostamos passou por uma transformação radical e se tornou algo maravilhosamente novo (os ingleses diriam: a amazing new life in Christ!).
A segunda passagem, penso que mais ampla e significativa, é Ap 21:5.  Depois que o livro das revelações narra todos os episódios cataclísmicos finais, aquele que está assentado no trono diz: "Estou fazendo novas todas as coisas!"  E aqui está então a força e grandeza da novidade cristã.  Aqui está o fundamento de nossa fé e esperança.  Pois uma fé e esperança que o valha é aquela que me faz tanto assumir antecipadamente a novidade de vida como principalmente olhar para frente e para o futuro – para aquilo que estar por vir.
Observe, contudo, que esta novidade a qual aguardamos acontecerá não como resultado ou consequência de nada que vemos hoje (se não me engano é Rubem Alves quem diz que o presente não está grávido do futuro!).  É Cristo que irromperá o tempo, a partir da eternidade, e concretizará o Reino definitivo.  Não sou eu ou minhas pequenas atitudes que instaurarão o novo que há de vir – reconheço-me impotente frente à realidade – mas sim aquele que faz novas todas as coisas.
Sendo assim, o que me resta a fazer neste tempo, além de celebrar antecipadamente porque sempre há e haverá novidades em Cristo Jesus, é fazer minhas as palavras apostólicas: deixando para traz o que vai ficando pelo caminho, continuo olhando para meu alvo, aquele que é autor e consumador da minha fé.