O tema de reflexão que proponho hoje é quase que impositivo. Aproximando-se o segundo domingo de maio é difícil fugir de falar sobre as mães e o seu dia. Mas por outro lado, o desafio é igualmente considerável, pois muito já foi dito e ainda hoje inúmeros textos, celebrações, homenagens, loas e elegias continuam sendo cantadas.
Quanto a mim, o que sempre me coloco a fazer é refletir a Palavra de Deus. Este é o meu ofício. É assim que devo falar sobre mães.
Neste intuito volto minha atenção ao livro das origens. Em Gênesis estão narradas as histórias dos patriarcas dos hebreus: Abraão, Isaque e Jacó. Aqui o que nos interessa porém é a presença ao lado destes homens de Deus de mulheres também heroínas da fé: Sara, Rebeca e Raquel. Elas são as matriarcas.
Sabemos bem que a Bíblia apresenta sempre os seres humanos sem disfarces ou maquiagens. Eles são o que são. Também assim o texto descreve tais mulheres e de cada uma delas quero refletir sobre características bem peculiares as quais nos ajudam a falar a cerca e para as mães. Vamos a elas.
A primeira matriarca é Sara, a princesa. Quando, depois de algumas idas e vindas, os emissários do Senhor debaixo dos carvalhos de Manre anunciaram que Sara seria mãe em sua velhice, o texto diz que ela apenas sorriu ponderando a impossibilidade de tal coisa acontecer. Antes de tecer severas críticas àquela mulher, devo lembrar que ela apenas se apegou ao natural princípio da realidade. Se quando jovem, a madre não se lhe abriu, agora idosa isso aconteceria como? (confira isso em Gn 18:12).
Além da fé no intangível – que seu marido demonstrava – o que faltou a Sara foi deixar-se envolver na premissa que gerar filhos é como conceber sonhos. É um aposta apaixonada na superação do objetivo pela possibilidade do inusitado. O filho da promessa não seria consequência de sua labuta, mas recebido como dádiva (o Sl 127:3 diz bem assim).
Seguindo a linha das matriarcas, a próxima é Rebeca, a que se apega. Tendo filhos gêmeos, ela demonstrou preferências pessoais por um dos filhos. Gn 25:28 diz que ela se achegou mais a Jacó em detrimento a Esaú. Não quero aqui traçar perfis psicológicos e seus desdobramentos nas vidas dos envolvidos e nem no grupo familiar. Mas não posso negar que aquela era uma família com sérios problemas, e a atitude de Rebeca contribuía nessa desestruturação.
O que este caso reforça é a certeza de que educar e formar o caráter dos filhos exige abrir mão de alguns gostos pessoais e se dispor a amá-los indistintamente e aceitá-los como são. Tendo recebido os filhos como herança, faz-se necessário deixar que eles desabrochem naquilo que verdadeiramente são (no caso do filho pródigo, a figura é de um pai, mas demonstra bem a aceitação de ambos os filhos com suas diferenças – veja Lc 15:20 e compare com os versos 28-32).
A terceira matriarca é Raquel, a bela flor. Como esposa preferida de Jacó, Raquel sentia que lhe faltava um filho seu e levou a questão ao marido de maneira dramática: dá-me filhos ou morro! (leia em Gn 30:1). Ela tinha inveja de Lea, sua irmã e concorrente que dera a Jacó vários filhos, e por isso precisava de crianças para servir como trofeu a ser exibido: a prova da vitória e da conquista.
Raquel ainda precisava saber que ter filhos deve ser mais que isso. Tê-los não é os possuir como propriedade ou possessão. Não se tem filhos para ostentar ou conservar debaixo da saia. É para encaminhá-los à vida e a Deus. É para sentir prazer e verdadeira recompensa em vê-los criados e indo em direção ao caminho traçado pelo Senhor. É para se alegrar em saber-se apenas parte de suas vitórias (o Sl 127:4 aponta nesta direção).
Estas são as matriarcas que deram origem à nação de Israel. Estas são suas histórias e lições. Que o Senhor nos faça aprender delas e que assim abençoe as mães.
(Na foto lá em cima, uma flor de mandrágora, que Rubem trouxe para sua mãe Lea e sobre a qual o folclore oriental acreditava possuir poderes de fertilidade. Foi uma flor como aquela que atiçou as diferenças entre as irmãs - leia em Gn 30:15)
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