Na geografia das terras bíblicas, Gileade é o nome de uma região montanhosa – e por extensão uma cidade ali situada – a oriente do Jordão nos confins das tribos de Gade e Rubem (atualmente fica na Jordânia – aí do lado uma imagem atual – fonte: wikipedia.org). No relato da Bíblia, foi ali que Jacó armou suas tendas quando resolveu deixar a casa do sogro e voltar para Canaã (confira em Gn 31:25). Não muito longe dali ficava a passagem do vale de Jaboque (importante na narrativa de Israel em Gn 32:22). Também naqueles rincões ficava Tisbe, a cidade natal do profeta Elias (leia em 1Rs 17:1).
Mas certamente o que tornou aquela região famosa até os dias de hoje foi o fato de ela ter sido nomeada como cidade-refúgio e moradia de levitas por Josué (em Js 21:38) e por possuir uma fonte de águas medicinais (atente que Jeremias cita o seu bálsamo em Jr 8:22).
Creio, porém, que não seria forçar nem a ciência geográfica nem os compêndios de teologia bíblica do Antigo Testamento se eu me propusesse a aplicar um método alegórico para interpretar Gileade como uma referência a Deus. E com esta ressalva e permissão, vamos a ela.
A primeira referência é a Gileade como cidade-refúgio. Nas instruções para a ocupação da terra prometida, já nas portas da conquista, estava a de se separar algumas cidades para que os levitas habitassem (leia em Nm 35:2). E entre estas cidades ainda se deveriam escolher as que poderiam ser usadas para abrigar aqueles que fossem acusados de homicídio – pelo menos um cada tribo. Na partição, Josué apontou Gileade como cidade moradia de levitas e refúgio onde os fugitivos podiam se abrigar. Ali seria um lugar seguro de se viver sob a proteção levítica.
Pensando em Deus como nosso refúgio, posso citar vários salmos que assim o reconhecem (veja, por exemplo, os Sl 46:1 e 90:1). O Senhor tem sido para nós um Gileade, um abrigo seguro em tempos difíceis de perseguição e solidão. Quando a vida vem contra mim ameaçando-me, quando as portas se fecham e as perspectivas são sombrias; sei que sempre haverá um refúgio para onde poderei ir e lá haverá para mim acolhimento e sossego (leias as palavras de 2Tm 1:12 nesta intenção).
Gileade também é o lugar do bálsamo (ainda hoje se canta isso!). As suas fontes de água mineral favoreciam a formação de resinas medicinais que eram requisitadas como caros remédio e artigos de luxo e que, por isso, eram tanto exportados como atraiam visitantes de longe que buscavam a cura através de seus banhos.
Mais uma vez voltando meu pensamento para Deus, ainda posso ler no texto sagrado referências ao Senhor como aquele que cura (note que o Sl 147:3 é bem explícito quando afirma que só o Senhor cura os de coração quebrantado). Mas quando a dor e ferida estão abertas em minha vida – e aqui não faz diferença de a chaga é espiritual, moral ou física – a verdadeira garantia que eu tenho é saber que Cristo já a levou no Calvário (garantia profética em Is 53:5). Há sempre bálsamo curativo advindo da cruz.
Assim como no passado dos filhos de Israel quando as montanhas de Gileade se mostraram como um lugar de refúgio seguro e fonte de saúde, e para lá acorriam muitos; que também possamos hoje nos valer do nosso Senhor, a verdadeira fonte de segurança e bálsamo para aqueles que creem.
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