Para um tempo de
perda de esperança, o culto cristão é a esperança.
Voltando a observação à
Pós-Modernidade posso notar que a situação de caos ou de desprovimento de
historicidade levada aos seus últimos termos conduzirá a uma história sem
esperança e a um presente sem futuro. Ao
amputar o passado como referência para estruturar o presente, a Pós-Modernidade
negou a possibilidade de expectativa de futuro.
Cito Tarsis Lemos:
Todo esse caos moderno que levou a humanidade a um impasse
radical, perdida nos labirintos de sua razão pura, sem solução no plano de sua
horizontalidade finita, fez com que o olhar ensinado e aprendido a apenas se
encantar com o espelho, redescobrisse a amplitude do firmamento. A solução única está em se olhar para
cima. Não se critica a tecnologia que
gerou o progresso, mas o progresso que avançou destruindo a civilização. Progresso sem civilização é regresso ao
estado de barbárie. Nossa preocupação é
com a sofisticação da barbárie que cria um retrocesso desumano.
O britânico Krishan Kumar comenta:
"O pós-modernismo representa a ruptura interminável com o passado, por
mais radical que este tenha sido em sua própria época; é o que dá ao modernismo
o seu significado". E, mais
adiante, desvenda as consequências deste posicionamento: "Ao agir assim,
de onde a teoria da pós-modernidade recebe seu principal impulso: não do
anúncio de alguma coisa nova, em sentido positivo, mas na rejeição do velho, do
passado da modernidade".
Ao se defrontar com este
desenraizamento histórico que torna sombrio e obtuso qualquer futuro e esperança,
o culto cristão se volta para aquele que é, que era, e que há de vir (Ap
1:8). Na celebração cristã não está
simplesmente a constatação do progresso contínuo do presente – como propunha a
Modernidade – nem "eternização" do presente atemporal como demonstra
a Pós-Modernidade; mas, como nos diz Paul Tillich:
No louvor à majestade divina, está incluído o louvor ao
destino da criatura. É por isto que o
louvor a Deus desempenha um papel tão decisivo em todas as liturgias, hinos e
orações. Certamente, o homem não louva a
si mesmo quando louva a majestade de Deus; mas ele louva a glória da qual
participa através de seu louvor.
Compreendendo assim o culto como celebração, ainda
que dentro da história, mas apontando para eventos supra históricos, é válido
citar a observação do teólogo norte-americano Harvey Cox:
Na festividade, intensificamos nosso envolvimento na
história e, paradoxalmente, nos abstemos de fazer história. O evento que celebramos é histórico, passado
ou futuro, tanto assim que nos ajuda a rememorar e a esperar. Mas durante a celebração nós paramos de fazer e simplesmente estamos aí; movemo-nos, como diria
Norman Brown, do "acontecer" para o "ser", e também isso é
crucial. Se não tivéssemos nem passado
nem futuro para celebrar, vítimas seríamos dum presente a-temporal e
anistórico. Se, por outro lado não
cessássemos jamais de fazer história nem nunca celebrássemos, descambaríamos
igualmente num mourejar ininterrupto, já não conhecendo nem descanso, nem
alegria, nem liberdade.
Para um mundo pós-moderno
desenraizado e principalmente sem poder oferecer perspectivas futuras, onde
homens e mulheres não conseguem vislumbrar esperanças, nem mesmo em sua
crescente busca religiosa, nem na espiritualidade que não lhe promete nada
porque sabe não poder cumprir, o culto cristão apresenta a este ser humano o
encontro com uma esperança concreta a qual se inicia no tempo presente e
desemboca num futuro glorioso. Sendo o
culto uma celebração a ser realizada em meio da coletividade de fiéis que se
congregam não somente para buscarem um encontro místico com o sagrado, mas
também para se relacionarem com um Deus pessoal que se revela na comunidade,
então esta celebração revestida do seu caráter diaconal e comunal apresenta uma
esperança concreta que faz cada cultuante experimentar a certeza de coabitar
desde já na comunidade de fé – a comunhão dos santos – a antecipação da
"glória que em nós será revelada" (Rm 8:18). É participando deste culto coletivo que o
cristão então se torna consciente de não ter "aqui nenhuma cidade
permanente", mas ter os seus olhos postos na "que há de vir" (Hb
13:14).
É esta crença e esperança que ele celebra em seu culto: o encontro com
Cristo "a esperança da glória" (Cl 1:27).
§. Esse é um extrato retirado do meu livro:
DE ADÃO ATÉ HOJE – um estudo do Culto Cristão
Está disponível no:
§. Leia também:
O CULTO NA PÓS-MODERNIDADE (1) – o místico e o misterioso
O CULTO NA PÓS-MODERNIDADE (2) – o transcendente e o encontro com o sagrado
O CULTO NA PÓS-MODERNIDADE (3) – a reordenação do mundo
Conheça
mais outros livros meus:
TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse
PARÁBOLA DAS COISAS
ENSAIOS TEOLÓGICOS
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