Para um tempo envolto
em um mundo caótico, o culto cristão mostra-se com apresenta-se como a reordenação
do mundo.
Uma das caracterizações mais
marcantes da Pós-Modernidade é, sem dúvida alguma, a desorganização do
mundo. Enquanto que na Modernidade o ser
humano procurou dar certa ordenação ao seu mundo, estabelecendo valores e
criando "lugar" para todos os conceitos, na Pós-Modernidade esta
ordenação não subsiste à fragmentação do mundo.
Se a ordenação da criação é o cosmo, o seu contraponto é o caos. Leonildo Campos no mesmo texto citado a pouco
argumenta:
O conceito de pós-modernidade
pressupõe uma perspectiva de descontinuidade e de rompimento das fronteiras
anteriormente delimitadas. Assim, o ser
humano estaria vivendo um processo social de atomização, tornando-se mais
individualista, desprovido de historicidade, voltando-se para si mesmo, na
busca de referências para o viver diário.
Posição com a qual Paula Muriel Belmes concorda ao
citar David Harvey: "o que parece ser o fato mais assombroso do
pós-modernismo é sua total aceitação do efêmero, da fragmentação, da
descontinuidade e do caótico". Sem
dúvida, a Pós-Modernidade não conseguiu suprir o ser humano de referências
consistentes. O caos ameaça o cosmo
pós-moderno e somente uma nova experiência fundante poderá resgatar esta
humanidade. Assim o culto cristão, como
um contato com o sagrado, pode oferecer esta nova ordenação do mundo. Rubem Alves no seu livro sobre O Enigma da
Religião, considerando sobre o que chamou de "o segundo momento da
experiência da conversão" expõe o que bem poderia ser entendido como o
resultado de uma experiência cristã de culto:
Inesperadamente, entretanto, um milagre acontece. O momento de crise e desestruturação da
personalidade encontra uma solução. A
consciência ressuscita, transfigurada, como uma nova estrutura em que tanto os
conteúdos emotivos quanto os cognitivos são radicalmente novos. A experiência tem o caráter de milagre porque
parece impossível descobrir um nexo entre o antes e o depois. O homem se sente possuído por uma inebriante
sensação de paz e alegria. As tensões
são resolvidas. Sem saber como isto
ocorreu, descobre-se transportado Nada para o Ser, das Trevas para a Luz, do
Fim para o Princípio, da Morte para a Vida.
Encontrou a salvação. Ou mais
precisamente, foi por ela arrebatado.
Experiência preservada nos mitos cosmogônicos no miraculoso e
inexplicável salto do caos para a ordem, dos abismos para a terra seca, do
turbilhão para o jardim, das águas do mar para o rio da vida.
Diante de um mundo organicamente
desestruturado onde todos têm liberdade quase absoluta de vivenciar suas
crenças e espiritualidades individuais sem compromissos, o ser humano
pós-moderno vive o dilema: ter todas as possibilidades é o mesmo que não ter
nenhuma, ou seja, com bem notou Edvar Gimenes, "pela hipervalorizarão dos
sentimentos e relativização de verdades antes absolutas, a cultura da
pós-modernidade gera conflitos entre formas mais racionais de expressões
litúrgicas e outras mais emocionais", contudo, "o espírito, a
necessidade e o desejo de adoração permanecerão!". Assim é que o culto prestado pelos cristãos é
estabelecido como a resposta possível a esta situação: o apóstolo Paulo
escreveu aos Romanos sobre a necessidade de um "culto racional" (Rm
12:1) e aos Coríntios prescreveu que "tudo deve ser feito com decência e
ordem" (1Co 14:40). O culto
cristão, mesmo sendo a expressão da alma faminta (retomo a expressão de James
Houston), contudo em sendo feito "em espírito e em verdade" (Jo 4:23)
compreende a única aceitável e melhor resposta à desestruturação pela qual
passam homens e mulheres.
Proporcionando um encontro entre o fiel cultuante e o Deus que no
princípio ordenou o cosmo a partir do caos, o culto cristão fornece a
possibilidade segura que novamente ele mesmo reordenará o mundo humano. Isto é visto mais claramente no caráter
querigmático e didático presente no culto cristão. Se ainda neste tempo o homo religiosus
procura respostas às questões sobre seu lugar no mundo e o que esperar dele, o
culto cristão didaticamente lhe anuncia "novos céus e nova terra" (Ap
21:1). Se no princípio foi a Palavra de
Deus quem criou e deu ordem ao mundo (Gn 1); será a presença da mesma Palavra
no culto através do querigma que haverá de trazer novamente ordem ao mundo
caótico experimentado pela Pós-Modernidade.
Por meio da Palavra de Deus, o culto então anuncia a reconstrução do
mundo dando-lhe significado e oferecendo soluções seguras às dúvidas
humanas.
§. Esse é um extrato retirado do meu livro:
DE ADÃO ATÉ HOJE – um estudo de Culto Cristão
Clube de autores
amazon.com
§. Leia também:
O CULTO NA PÓS-MODERNIDADE (1) – o místico e o misterioso
O CULTO NA PÓS-MODERNIDADE (2) – o transcendente e o encontro com o sagrado
Conheça mais outros livros meus:
TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse
PARÁBOLA DAS COISAS
ENSAIOS TEOLÓGICOS
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