Em
1945, o filosofo francês Jean-Paul Sartre escreveu uma peça de teatro
intitulada Huis Clos (Entre Quatro Paredes, na versão brasileira)
na qual duas mulheres e um homem são condenados a permanecerem para sempre
juntos. É nessa peça que uma das
personagens profere a frase: “O inferno são os outros”.
– Mas: o que seria
realmente o inferno?
– Onde ele fica?
Para procurar respostas a essa questão humana, vou
me ater aqui a termos e expressões que a tradição judaico-cristã consagrou para
se referir ao mundo pós vida.
IMPORTANTE:
Esse NÃO é um artigo de doutrina cristã, ensaio teológico,
ou coisa parecida. É apenas um post
de curiosidade linguística!
Inferno – termo de
origem latina: infernum – derivados de inferus, que significa
"as profundezas" ou o "mundo inferior".
Detalhe: os romanos usavam a palavra no cotidiano como referência a um lugar
abaixo, ou posto sob algo.
Sheol – transliteração do hebraico שאול. Literalmente o lugar dos mortos, sepultura ou
câmara sepulcral.
Ocorre cerca de 65 vezes no Antigo Testamento Hebraico (como no Sl 6:5). Em geral, a versão grega dos LXX traduz por ᾅδης
(Hades) e a Vulgata Latina por infernum.
Em Português, tanto Almeida como a NVI traduzem sepultura.
Em alemão, Lutero usou Hölle (inferno). Em inglês, a KJV fala grave (cova). E a Reina Valera em espanhol se refere a sepulcro.
Geena (AT) – da expressão hebraica גיא בן־הנם ou גיא הנם
– o Vale [do Filho] de Hinom. Um desfiladeiro em torno da Cidade Antiga de
Jerusalém usado como um depósito onde o lixo era incinerado. Atualmente o lugar é chamado de Uádi
er-Rababi.
Aparece em cerca de 13 citações no Antigo Testamento Hebraico (como em Jr
7:31-32). Sempre com referência ao ponto
geográfico de Jerusalém.
Em geral, em tais textos, a versão grega dos LXX traduz a expressão como ἐν
φάραγγι υἱοῦ Ἑννόμ (no desfiladeiro do filho de Hennom) e a Vulgata
Latina por in valle Benennom.
Geena (NT) – no grego do Novo Testamento: γέεννα. Há 12 ocorrências nos Evangelhos Sinóticos e
mais uma em Tg 3:6 (com essa grafia não ocorre na versão grega dos LXX).
O fraseado do Evangelho (Mt 5:22), em grego bíblico, é: ... εἰς τὴν γέενναν τοῦ
πυρός. Na versão em grego moderno: ...
στη φωτιά της κόλασης (aqui a palavra γέεννα é atualizada para κόλαση – inferno).
Na Vulgata Latina, as palavras são gehennae ignis.
Lutero traduziu a expressão para o alemão como: höllischen Feuers. Em inglês lê-se na KJV: hell fire. E em espanhol na Reina Valera: infierno
de fuego.
Hades – na mitologia grega, Άͅδης era um dos
irmãos de Zeus e deus do mundo inferior e dos mortos (os romanos chamavam de Plutão).
No Novo Testamento grego o termo implica em um lugar de habitação dos mortos,
ou o mundo invisível (como em Ap 20:14).
Para essa passagem, nas versões: a Vulgata Latina: infernus; a NVI em
português: Hades; Lutero em alemão: Hölle; a KJV em inglês: hell;
e, também em inglês, a NIV: Hades.
Tártaro – no texto de
2Pe 2:4 aparece o verbo grego ταρταρόω (somente nesse texto no NT) –
"prender no tártaro". Na
mitologia grega, Tártaro era um deus primordial que personificava o mundo
inferior, o lugar mais profundo e sombrio do Hades.
Na versão moderna do grego o verbo é distendido: έριξε στα τάρταρα (jogar no
tártaro). Para a Vulgata Latina: tartarum. Lutero usou: Finsternis zur Hölle (cadeias
de escuridão).
Lago de fogo – Apocalipse usa
cinco vezes a expressão ἡ λίμνη τοῦ πυρός (no NT grego apenas no Livro da
Revelação). No grego moderno: λίμνη που
ήταν από φωτιά (um lago que era de fogo). A Vulgata Latina traduziu: in stagnum
ignis. Lutero também traduziu:
in den feurigen Pfuhl. A
versão em hebraico moderno diz: באגם אש (no lago de fogo).
Esses sãos alguns dos termos mais usados na
tradição judaico-cristã para se referir ao mundo pós vida. Num próximo post, quero explorar o que
dizem crenças, culturas e mitologias de outros lugares e origens (veja no link).
Mas antes: não devo terminar sem citar as palavras
do Evangelho:
“TU ÉS O CRISTO,
O FILHO DO DEUS VIVO.”
... sobre esta pedra edificarei a minha igreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
(Mt
16:16-18)
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