Sobre a questão da origem do mal, em geral devemos
dividir em duas abordagens: (1) o mal em si; e (2) o mal moral. Vamos tratar de modo separado.
(1) O mal em si. Essa seria mais uma questão da Filosofia da
Religião que da Teologia em si (para a Teologia a segunda abordagem será mais
relevante).
A questão da dualidade na realidade, em que
existem paralelamente o bem e o mal, as diversas mitologias tentaram dar
respostas com um mínimo de coerência e que satisfizessem os questionamentos existenciais
humanos.
Para os antigos – como os povos da Mesopotâmia e
do Egito – o bem e o mal sempre coexistiram, e da ação conjunta dessas forças
(deuses) o mundo fora criado.
Os maniqueístas – doutrina que flertou com o cristianismo
na sua origem – criam basicamente na existência de um conflito cósmico entre o
reino da luz (o Bem) e o das sombras (o Mal) – como forças equiparadas.
Agostinho de Hipona, que dominou a Filosofia e a
usou para defender a fé cristã contra os maniqueus, argumentou que o Bem é a
essência da criação de Deus, assim como a Luz criada por Deus. O Mal, por outro lado, é o “não-criado”,
aquilo que carece na criação para que esta se manifeste em supremo bem, assim
como as trevas não existem enquanto ente criado, mas apenas como ausência de
Luz.
Como comecei dizendo, é uma questão
filosófica. Mas como definição do mal
em si, é como podemos tratar: o mal é a carência, a ausência dentre a
criação.
(2) O mal moral. Vamos partir das teses de Agostinho, para
compreender como o mal se manifesta.
Essa é a questão teológica que realmente importa.
O Bispo Africano dedica toda uma secção de suas Confissões
para argumentar sobre o problema de Deus e o problema do mal (Livro VII). Ele declara:
“Procurei o que era a maldade e não encontrei
uma substancia, mas, sim uma perversão da vontade da substancia suprema
– de Vós, ó Deus – e tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as
suas entranhas e se levanta com intumescência”.
Sendo o mal em si a carência da criação,
essa, contudo, só se mostra efetiva na existência humana como é movida – ou
ativada – pela vontade da criatura. Ou
seja, é a pura vontade do ser humano, que usa de sua liberdade, o que gera o mal
moral. E por esse, homens e mulheres
sempre serão responsabilizados.
E para ecoar nas Sagradas Escrituras, Tiago, em
sua Epístola, afirma que a tentação – a inclinação para o mal – não tem origem
em Deus, mas cada um é levado à maldade quando se deixa seduzir pela concupiscência
(a vontade), e é desse desejo que o mal é gerado (confira Tg 1:13-15).
Meu querido pastor e amigo. É errado afirmar que a origem do mal é a rebelião de Lúcifer contra Deus?
ResponderExcluirÉ certo atribuir a origem do mal à rebelião de Lúcifer (Is 14); mas nesse caso estamos tratando do mal moral - quando a vontade de uma criatura se manifesta em escolher as trevas rejeitando a origem da Luz do Criador.
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