Deixe-me
tentar compreender melhor como o humano se faz homo religiosus diante do
mundo. Ao dominar a autoconsciência, o
ser humano se vê diante do cosmo que mais lhe parece o caos. Desta percepção brotará o primeiro estímulo
do que virá a ser a sua essência religiosa.
(...)
Defrontando-se
com a realidade imensa da existência que por si só não faz sentido, nem lhe
aponta saídas, o ser humano se sente pequeno, fraco e incapaz de transformar o
deserto num jardim, o caos num cosmo, a dúvida e a incerteza na confiança e
promessa, o ser humano se faz religioso.
Em outras palavras, a sua inconteste e inevitável descoberta de si mesmo
e do mundo que o cerca transforma este ser de animal apenas em um homo
religiosus: ser humano significa necessariamente ser religioso. A vida não pode ser somente isto. É assim que a admiração se transforma em
espírito religioso: o maior-que-eu/além-de-mim eu não tenho nem controlo, mas
eu tenho a crença. A poetiza brasileira
Clarice Lispector exclamava: "Obstinada, eu rezo. Eu não tenho o poder. Tenho a prece".
Desta forma
o ser humano se constitui enquanto ente em busca do outro que possa lhe dar
sentido e completude diante de um cosmo que não lhe transmite a sensação de
contiguidade. (...) Culto e adoração para o ser humano então é a garantia de
respostas a suas indagações últimas e a certeza de que não será tragado pela
existência caótica. Na religiosidade
busca-se colocar ordem no caos, apoiando-se nos deuses e crenças para que estes
lhes sejam favoráveis.
(...)
Outra
observação teórica que posso fazer aqui é a partir das colocações do filósofo
romeno Mircea Eliade. No seu texto sobre
O Sagrado e o Profano Eliade usou a expressão homo religiosus
para descrever o ser humano, ou seja, um ser determinado acima de tudo pela sua
religião e seu senso de adoração. Na
introdução do texto o próprio Eliade observou: "o sagrado e o profano
constituem duas modalidades de ser no mundo, duas situações existenciais
assumidas pelo homem ao longo da sua história". E mais adiante, tratando mais claramente
sobre como o ser humano encara a existência: "seja qual for o contexto
histórico em que se encontre, o homo religiosus crê sempre que existe
uma realidade absoluta, o sagrado".
O sagrado determina o ser humano, dando-lhe contornos dos quais ele não
tem como escapar. Estes contornos moldam
o ser tanto na sua autocompreensão como nas suas tomadas de decisão. Ou seja, esta visão faz do ser humano alguém
que na sua existência está condicionado pelo transcendente.
(Extraído do
livro DE ADÃO ATÉ HOJE – um estudo do Culto Cristão)
O livro DE ADÃOATÉ HOJE – um estudo do Culto Cristão traz um estudo teológico sobre o Culto Cristo e está disponível no:
Conheça
também outros livros meus:
TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse
PARÁBOLA DAS COISAS
Nenhum comentário:
Postar um comentário