terça-feira, 5 de outubro de 2021

DO TRABALHO DE CRÍTICA BÍBLICA

  


Modernamente se tem compreendido a crítica como sendo uma atividade do espírito humano pelo qual avaliamos e atualizamos a realidade, tornando-a relevante para nós.  É este espírito que tem levado a igreja a avaliar os documentos bíblicos de que dispõe, buscando chegar o mais próximo possível de um original verdadeiramente relevante dos textos neotestamentários.

Embora que desde a antiguidade a avaliação do material já estivesse de certo modo presente a vida da igreja – e em especial no que se refere aos Evangelhos – somente a partir dos trabalhos de J.J. Griesbach no século XVIII e de H.J. Holtzmann um século depois é que o trabalho de crítica bíblica se tornou uma disciplina realmente relevante no estudo bíblico.

Hoje se compreende o trabalho de crítica bíblica em três aspectos: a Crítica da Redação, a Crítica das Fontes e a Crítica da Forma.  Partindo-se do último para o primeiro temos então o estudo iniciando do texto, como nós o lemos hoje e a sua Teologia, para chegar ao que Jesus realmente falou, passando pelas tradições orais na igreja e o seu registro por escrito.

Nos primeiros anos do cristianismo, a espera da volta iminente do Senhor Jesus fez com que a nascente igreja não se ocupasse em registrar e manter as tradições acerca de quem foi e do que disse o Mestre.  Surgiu então uma tradição simplesmente oral no seio da igreja que manteve as palavras de Jesus em logias (ou Quelle) que serviriam depois de base na confecção dos textos evangélicos.  Desta tradição se vai se ocupar a Crítica da Fonte.

Nesta etapa do trabalho crítico a tarefa é observar quais foram as "fontes" que os autores bíblicos – note aqui a introdução do evangelho de Lucas (1:1-4) – usaram quando se puseram a escrever o seu texto.  B.D. Hale chama a atenção para o fato de que "a pregação e ensino dos apóstolos e outros líderes da igreja, lógica e naturalmente, dariam uma forma fixa às narrativas acerca da vida de Jesus".  Assim, antes mesmo do aparecimento dos textos escritos já havia uma espécie de "evangelho oral" que era transmitido e respeitado como sendo a reprodução fiel daquilo que disse Jesus e do que aconteceu com ele.

Quanto a Crítica da Forma, ainda segundo Hale: "é um método que lida com o estágio pré-literário da tradição dos Evangelhos".  Ao selecionar sua fonte de informações, os autores evangélicos definiram quais os aspectos lhes seriam relevantes na sua construção teológica, dando assim uma forma ao texto que vai convergir ou divergir dos seus paralelos.  Sammers nos chama a atenção que:

A forma do material foi afetada pelo interesse prático; o relato oral foi moldado para servir aos fins imediatos.  É o produto resultante que aparece em forma escrita.

Com o texto pronto, entra em ação a Crítica da Redação – mais recente que as demais não somente no seu campo de pesquisa como também no seu interesse pelos teólogos modernos.  Embora sempre estivesse presente nos trabalhos de interpretação do Novo Testamento, somente no século XX é que esta escola ganhou corpo nas academias teológicas.

O trabalho da Crítica da Redação pressupõe já terem sido feitos os trabalhos das Críticas da Fonte e da Forma e agora, com o texto mais definido e confiável, deve-se então questionar sobre quais eram verdadeiramente as intenções teológicas dos autores e por que eles selecionaram este ou aquele material, por que deu esta ou aquela arrumação ao texto e assim tentar dialogar com ele sobre suas propostas teológicas para seus primeiros leitores.

 

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