Na manhã do dia do meu quinquagésimo aniversário, as minhas primeiras palavras foram uma prece:
— Obrigado Deus por estar completando cinquenta voltas no sol!
Sinceramente não foram palavras planejadas, estudadas ou pretendessem instigar em alguém reflexões existenciais – até porque foram ditas em silêncio. Foi apenas uma frase de gratidão que, dita espontaneamente, expôs para mim mesmo um pouco do meu submundo e castelo mental.
Depois aproveitei a sonoridade e compartilhei essa frase por aí. E gastei ainda eventualmente alguns instantes a remoendo.
Então, cada vez que completo mais uma volta no sol, entendo que é bom voltar ao tema. Não que já tenha concluído as tais profundas reflexões existenciais, mas vou compartilhar um pouco das rotas dessa viagem.
Pensar em mais uma volta no sol me aflora a humildade. Quando lembro que rodeei o sol mais uma vez, reconheço o quão minúsculo sou diante dele. E vão-se todas as arrogâncias.
Imaginar ainda mais uma volta no sol põe meu olhar em perspectiva. Eu posso olhar o nascente a partir do horizonte que tenho no leste (e aqui em Aracaju o sol nasce sempre lindo na praia). Também posso conceber o planeta girando em sua dança sideral ao redor de sua estrela, e ano após ano sucedendo estações e eras. Ambas as concepções são corretas, porém distintas. Então me convenço que a percepção da verdade desconhece o absolutismo.
Discernir mais uma volta no sol também traz a sensação de pertencimento. Não fui apenas eu, não corri sozinho, nada fiz particularmente para rodear o sol. Apenas por estava aqui na Terra eu participo de sua viagem. Faço parte de algo bem maior que eu e minha simples existência. Eu pertenço a história humana que caminha dia a dia e juntos construímos a realidade. Nunca seguirei só.
O que me leva adiante: dar mais uma volta no sol me faz constatar que efetivamente não tenho o controle nem da minha existência nem da trajetória. Por outro lado, não estou também largado ao acaso. Cada volta ao sol segue leis e forças que extrapolam em muito a minha capacidade de controle. E eu reconheço que, embora no cotidiano possa escolher entre vestir uma camisa vermelha ou azul, mas há uma cadeia de eventos que jamais estarão sob meu controle.
E, reconhecer mais uma volta no sol me expõe a compreensão de que a cada ano o nosso planeta cumpre sua trajetória elíptica ao redor do astro-rei, mas nunca se repete de forma mecânica e inalterada. Cada ano e cada volta é única, mesmo dando voltas, cada novo momento é singular no progredir de seu ciclo espiral. Assim também eu continuo não apenas rodeando o sol, mas seguindo adiante.
E agora, dando mais uma volta no sol, quer fazer minhas as palavras do salmista:
— Senhor, me ensine a enumerar minhas voltas no sol, pois só assim eu chegarei a ter um coração douto!
Jabes, você escreve muito bem parabéns!!!!
ResponderExcluirObrigado querido.
ExcluirA glória seja a Deus que conosco caminha nessas voltas ao sol.
Abr