terça-feira, 2 de outubro de 2018

MONOTEÍSMO – um único Deus


Uma definição inicial e até simplista de monoteísmo seria a crença ou fé na existência de um único Deus e sua devoção total a ele. Em oposição a crenças henoteístas que afirmam a possibilidade da existência de vários deuses porém com uma supremacia absoluta de apenas um sobre todos ou outros; ou a crença politeístas que acredita nas existências de vários deuses compartilhando de um panteão.
Mas é claro esta definição não é suficiente para representar toda a complexidade do espectro da fé exercida pelo ser humano. Nem todos os desdobramentos cabem nestas definições clássicas.
John Hick observando a questão do monoteísmo teórico e do henoteísmo prático que envolve a vida de muitos seres humanos assim se expressa:
... empregamos nossas energias a serviços de várias deidades – o deus do dinheiro, o da empresa de trabalho, o do sucesso, o do poder, o do status de deus, e (por um breve período, uma vez por semana) o Deus da fé judaico-cristã.
Assim o conceito de crença – e consequentemente de monoteísmo – deixa de ser apenas uma modalidade litúrgica para ganhar uma dimensão existencial que engloba toda a vida humana.
Aqui as observações de Paul Tillich se mostram inteiramente relevantes. Ele compreendia que o tema do monoteísmo só poderia ser realmente colocado depois de o conceito de realidade de Deus já estivesse devidamente esclarecido, pois é a partir do seu conceito de Deus que o ser humano estabelece tanto objetivamente quanto subjetivamente a sua relação existencial consigo mesmo e com a vida que o cerca. E mais, "o homem só pode falar dos deuses à base de sua relação com eles".
Nesta perspectiva, como conceituaremos então Deus? É o próprio Tillich quem conceitua Deus como sendo "o elemento absoluto da preocupação última do homem" e por isso mesmo exige do homem uma "paixão absoluta".
Assim, ainda seguindo a mesma linha de raciocínio, toda e qualquer coisa ou pessoa que ocupe esta preocupação última no ser humano tomará um lugar que cabe exclusivamente a Deus. Todo valor relativo que pretenda a absolutização é um valor idolátrico e por isto mesmo demoníaco – antidivino.
Ora, se pensarmos na existência humana como um conjunto de complexidades que de per si exigem soluções e que por isto não podem ser relegadas ao subterrâneo da vida humana, então temos um conflito: um valor exige preocupação última e em nome dele todos os outros têm que ser deixados para segundo plano; mas por outro lado há valores que exigem também preocupação e paixão.
Voltando a Hick e à sua análise da religião observamos que ele propõe uma resposta:
Então, Deus, segundo o Judaísmo e o Cristianismo, é ou possui um ser ilimitado e os vários "atributos" ou caracteres divinos apresentam os mais variados aspectos, de acordo com os quais a infinita realidade é ou existe, ou possui um ser.
Temos então, assim, uma conceituação que pode nos conduzir a uma compreensão deste elemento na construção da identidade do ser humano: Monoteísmo é a paixão absoluta e a preocupação última em um Deus que em si encerra todos os aspectos da vida e que tem todas as respostas à finitude humana. Nas palavras do Novo Testamento: "Cristo é tudo em todos" (Cl 3:11).

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