Uma
definição inicial e até simplista de monoteísmo seria a crença
ou fé na existência de um único Deus e sua devoção total a ele.
Em oposição a crenças henoteístas que afirmam a possibilidade da
existência de vários deuses porém com uma supremacia absoluta de
apenas um sobre todos ou outros; ou a crença politeístas que
acredita nas existências de vários deuses compartilhando de um
panteão.
Mas
é claro esta definição não é suficiente para representar toda a
complexidade do espectro da fé exercida pelo ser humano. Nem todos
os desdobramentos cabem nestas definições clássicas.
John
Hick observando a questão do monoteísmo teórico e do henoteísmo
prático que envolve a vida de muitos seres humanos assim se
expressa:
...
empregamos nossas energias a serviços de várias deidades – o deus
do dinheiro, o da empresa de trabalho, o do sucesso, o do poder, o do
status de deus, e (por um breve período, uma vez por semana) o Deus
da fé judaico-cristã.
Assim
o conceito de crença – e consequentemente de monoteísmo – deixa
de ser apenas uma modalidade litúrgica para ganhar uma dimensão
existencial que engloba toda a vida humana.
Aqui
as observações de Paul Tillich se mostram inteiramente relevantes.
Ele compreendia que o tema do monoteísmo só poderia ser realmente
colocado depois de o conceito de realidade de Deus já estivesse
devidamente esclarecido, pois é a partir do seu conceito de Deus que
o ser humano estabelece tanto objetivamente quanto subjetivamente a
sua relação existencial consigo mesmo e com a vida que o cerca. E
mais, "o homem só pode falar dos deuses à base de sua relação
com eles".
Nesta
perspectiva, como conceituaremos então Deus? É o próprio
Tillich quem conceitua Deus como sendo "o elemento absoluto da
preocupação última do homem" e por isso mesmo exige do homem
uma "paixão absoluta".
Assim,
ainda seguindo a mesma linha de raciocínio, toda e qualquer coisa ou
pessoa que ocupe esta preocupação última no ser humano tomará um
lugar que cabe exclusivamente a Deus. Todo valor relativo que
pretenda a absolutização é um valor idolátrico e por isto mesmo
demoníaco – antidivino.
Ora,
se pensarmos na existência humana como um conjunto de complexidades
que de per si exigem soluções e que por isto não podem ser
relegadas ao subterrâneo da vida humana, então temos um conflito:
um valor exige preocupação última e em nome dele todos os outros
têm que ser deixados para segundo plano; mas por outro lado há
valores que exigem também preocupação e paixão.
Voltando
a Hick e à sua análise da religião observamos que ele propõe uma
resposta:
Então,
Deus, segundo o Judaísmo e o Cristianismo, é ou possui um ser
ilimitado e os vários "atributos" ou caracteres divinos
apresentam os mais variados aspectos, de acordo com os quais a
infinita realidade é ou existe, ou possui um ser.
Temos
então, assim, uma conceituação que pode nos conduzir a uma
compreensão deste elemento na construção da identidade do ser
humano: Monoteísmo é a paixão absoluta e a preocupação última
em um Deus que em si encerra todos os aspectos da vida e que tem
todas as respostas à finitude humana. Nas palavras do Novo
Testamento: "Cristo é tudo em todos" (Cl 3:11).
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