terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Os Grandes Princípios Batistas – A SEPARAÇÃO ENTRE IGREJA E ESTADO

Este item amplia a liberdade da igreja.  Ela não está subordinada ao Estado e ela e o Estado têm esferas diferentes.  A igreja é cidadã deste mundo e sujeita-se a leis de justiça e de bom senso.  Mas deve dizer: “Mas Pedro e João, respondendo, lhes disseram: Julgai vós se é justo diante de Deus ouvir-nos antes a vós do que a Deus” (At 4.19).  A lealdade última da igreja é para com Deus e sua Palavra.  Sua pátria mais amada é a celestial.  O Estado também está sob a lei da justiça divina.  No Antigo Testamento, Iahweh escolheu Israel, mas é Senhor de todas as nações e toda a terra.  Devemos nos lembrar disto.
Na Escandinávia, os pastores luteranos são pagos pelo Estado.  No Brasil, constantemente, verbas públicas são usadas para recuperar igrejas católicas, sob desculpa de patrimônio arquitetônico ou cultural.  Mas são lugares de cultos.  Isto é contra nosso princípio de um Estado leigo, que não deve investir em nenhuma religião nem beneficiar nenhum culto.
Diferentemente de grupos anabatistas e outros radicais do século 16, os batistas não questionam o Estado por ser Estado.  Mas não o sacralizam.  O Apocalipse mostra o Cordeiro contra um Estado que deseja ser Deus.  Nosso compromisso é com a justiça, com a honestidade e com a dignidade humana.  Podemos nos rejubilar de termos em nossa história um Prêmio Nobel da Paz, o Pr.  Martin Luther King Jr, assim agraciado pela sua luta pelos direitos dos negros norte-americanos.  Mas, quando a turma de formandos do Seminário do Sul, em 1968, o tomou como seu paraninfo, alguns dos missionários americanos que lecionavam no Seminário, bem como parte da cúpula batista brasileira, ficaram indignados com os alunos.  Sintonizados com o regime militar, achavam que King era um comunista, um agitador.  Que miopia!  E perda de senso de história!
Uma igreja batista não é da direita nem da esquerda nem mesmo do centro.  É de cima.  Seus valores são espirituais e celestiais.  Uma igreja batista faz parte da igreja de Cristo, que é multirracial, multi-étnica, multigeográfica.  Sou brasileiro e não me envergonho disto.  Digo como Fernando Pessoa: “minha pátria é a língua portuguesa”, ou seja, tenho uma identidade lingüística.  Amo meu idioma, dizendo como Olavo Bilac: “em que da voz materna ouvi: ‘meu filho’”.  Foi na língua portuguesa, no Brasil, que ouvi minha mãe, Nelya Werdan, uma filha de suíços, me chamar de “filho”.  Foi neste país, o Brasil, que duas famílias estrangeiras, os portugueses Gomes Coelho e os suíços Werdan Suhett me deram origem.  Mas, mais que brasileiro e descendente de portugueses e suíços, sou cidadão do reino do céu.  Os princípios do reino celestial devem reger minha vida.
Deus não é brasileiro nem tem nacionalidade alguma.  Devemos ser patriotas, mas devemos discordar do Estado quando este invade área que não é sua.  Não lhe compete nos ditar fé ou perspectivas religiosas.  Pagamos impostos, servimos ao exército, damos nossa parcela para este país.  Mas não o sacralizamos nem o deificamos.  O culto ao Estado produziu a aberração chamada “Cristãos Alemães”, que queria uma igreja germânica, de raça pura.  Mas não admitimos a ingerência do Estado em nossa vida.  Nem transigimos nossos padrões por causa do Estado.  As casas de prostituição pagam taxas e são estabelecidas legalmente, mas a prostituição é pecado.  O que é legal nem sempre é moral.  O casamento de homossexuais pode ser tolerado civilmente, mas é pecado.  Uma batista deve dizer como Lutero: sua consciência é cativa da Palavra de Deus.
Somos cidadãos como todos os demais e não devemos esperar tratamento especial.  É errado igrejas batistas pedirem ônibus às prefeituras e órgãos públicos para fazerem piqueniques.  Se não têm dinheiro para alugar um ônibus, não andem de ônibus! Vão a pé ou não façam piquenique! Se nos incomoda ver dinheiro público sendo usado para levantar estátuas a Iemanjá em cidades da orla marítima, deveria nos incomodar também o uso de dinheiro público para monumentos à Bíblia.  O poder civil não pode patrocinar nenhuma religião! Nem a nossa!
Nunca fomos subversivos.  Mas não podemos ser coniventes com um Estado desumano, corrupto, desvalorizador do homem.  Nosso norte são os valores da Palavra de Deus.  Olhamos para eles e seguimos nossa jornada.  O que se desvia deles, isso recriminamos.  Não é se nos beneficia, mas se é um princípio bíblico.

Extraído de uma palestra preparada pelo Pr.  Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013) para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.

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