terça-feira, 10 de novembro de 2015

O ESPÍRITO DA VIDA – 1ª parte

Resenha do livro: O ESPÍRITO DA VIDA: uma pneumatologia integral; de Jürgen Moltmann, publicado no Brasil pela Editora Vozes.

O fim do século XX e o início do século XXI assistiu não somente o declínio da modernidade com seus pressupostos de supremacia racionalista que se demonstrou hegemônica no Ocidente deste o fim da Idade Média, como também – e conseqüentemente – viu ressurgir valores menos “científicos”, ou seja menos empíricos e mais experienciais.  É claro que esta reação já vinha sendo engendrada há algumas décadas, mas é o fim das utopias históricas tal qual as conhecemos no século XX que vai decretar a chegada de novas perspectivas aos pensamento humano ocidental.
Neste rastro, o fazer teológico, até então dominado pelo cientificismo e racionalismo principalmente europeu (mas também norte-americano e do terceiro mundo) começa a exigir que se dê espaço a outras reflexões e se ouças outras vozes.  E estas outras vozes começam a falar.  E entre elas, o Espírito mais uma vez encontra lugar.  É neste veio que o livro de Jürgen Moltmann se encontra.  Curioso é que o autor seja um acadêmico europeu que se tornou famoso no universo teológico pela sua exposição técnico-científica sobre a esperança.  Mas agora o tema é o Espírito: Uma Pneumatologia Integral – um Espírito que dá Vida.  É claro que não se tem por objetivo “chegar a uma sistematização acabada” (pág. 252) do tema, como bem o frisou o próprio autor, mas tentar perscrutar o Espírito através de suas próprias ações e personalidade para se chegar a um conhecimento mais significativo.
Embora seja verdade que a ação do Espírito seja registrada nos textos bíblicos e sua presença seja atestada desde sempre no transcurso da histórica da fé em Israel, bem como de sua sucessora – a Igreja; também é verdade que o tema nunca mereceu maiores estudos por parte dos doutores da Igreja.  Outros temas como revelação, cristologia ou eclesiologia sempre tiveram prioridade na agenda das questões teológicas.  Somente grupos dissidentes, místicos e visionários falavam do Espírito e ainda assim de modo clandestino.  Ultimamente, contudo, o tema da pneumatologia vem ganhando destaque em todas as discussões, não só porque a pós-modernidade trouxe de volta a importância de uma reflexão menos racionalista e mais experiencial como também porque os discursos antes clandestinos sobre o se sentir espiritual agora podem se mostrar.
É aqui que o livro de Moltmann se mostra bastante relevante e atual.  O texto procura abordar o tema tanto sob a ótica da revelação sistematizada e mediada pelos textos, como pela própria experiência do crente em sua vivência com o Espírito, sem que nenhum dos dois aspectos seja esquecido, porém colocado em seu devido lugar.  Sem parecer contraditório, Moltmann apresenta os dois elementos necessários para a compreensão adequada do Espírito.  Citando Paul Tillich ele diz que “O Espírito Santo não é em absoluto apenas uma questão de revelação, mas também uma questão de vida e de fonte de vida” (pág. 19).  Mas por outro lado, “então o Espírito Santo não é um elemento de nossa experiência de Deus, mas sim um elemento da revelação de Deus a nós” (pág. 17) e mais adiante ele propõe a solução para a equação: “mas Revelação e experiência só são contraditórias nas estreitas concepções da filosofia moderna” (pág. 18).
Assim, “teologia da revelação é teologia da Igreja, teologia dos pastores e dos padres; teologia da experiência é prioritariamente uma teologia para leigos” (pág. 29).  E mais uma vez citando Tillich observamos que se Deus é “aquilo que nos toca incondicionalmente” (pág. 38) então o conhecimento do espírito divino tem que advir de um revelação que seja tanto experienciada quanto nos toque de maneira última – ou seja: eu só conheço Deus quando sou tocado pela revelação de maneira incondicional e isto só me acontece quando este tocar se dá pela experiência do Espírito que é ao mesmo tempo transcendente – para ser razão última – e imanente – para tocar.  Consequentemente dois aspectos da pneumatologia podem ser destacados no trabalho de Moltmann:  primeiro o Espírito está presente na shekiná de Deus quando a transcendência divina se faz experiência histórica do Espírito e segundo o Espírito na sua personalidade o qual é e será sempre o outro tanto na relação trinitária quanto na sua imanência em relação ao ser humano.

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