Resenha
do livro: O ESPÍRITO DA VIDA: uma pneumatologia integral; de Jürgen Moltmann,
publicado no Brasil pela Editora Vozes.
O fim
do século XX e o início do século XXI assistiu não somente o declínio da
modernidade com seus pressupostos de supremacia racionalista que se demonstrou
hegemônica no Ocidente deste o fim da Idade Média, como também – e conseqüentemente
– viu ressurgir valores menos “científicos”, ou seja menos empíricos e mais
experienciais. É claro que esta reação
já vinha sendo engendrada há algumas décadas, mas é o fim das utopias
históricas tal qual as conhecemos no século XX que vai decretar a chegada de
novas perspectivas aos pensamento humano ocidental.
Neste
rastro, o fazer teológico, até então dominado pelo cientificismo e racionalismo
principalmente europeu (mas também norte-americano e do terceiro mundo) começa
a exigir que se dê espaço a outras reflexões e se ouças outras vozes. E estas outras vozes começam a falar. E entre elas, o Espírito mais uma vez encontra
lugar. É neste veio que o livro de
Jürgen Moltmann se encontra. Curioso é
que o autor seja um acadêmico europeu que se tornou famoso no universo
teológico pela sua exposição técnico-científica sobre a esperança. Mas agora o tema é o Espírito: Uma Pneumatologia Integral – um Espírito que
dá Vida. É claro que não se tem por
objetivo “chegar a uma sistematização acabada” (pág. 252) do tema, como bem o
frisou o próprio autor, mas tentar perscrutar o Espírito através de suas
próprias ações e personalidade para se chegar a um conhecimento mais
significativo.
Embora
seja verdade que a ação do Espírito seja registrada nos textos bíblicos e sua
presença seja atestada desde sempre no transcurso da histórica da fé em Israel,
bem como de sua sucessora – a Igreja; também é verdade que o tema nunca mereceu
maiores estudos por parte dos doutores da Igreja. Outros temas como revelação, cristologia ou
eclesiologia sempre tiveram prioridade na agenda das questões teológicas. Somente grupos dissidentes, místicos e
visionários falavam do Espírito e ainda assim de modo clandestino. Ultimamente, contudo, o tema da pneumatologia
vem ganhando destaque em todas as discussões, não só porque a pós-modernidade
trouxe de volta a importância de uma reflexão menos racionalista e mais
experiencial como também porque os discursos antes clandestinos sobre o se
sentir espiritual agora podem se mostrar.
É aqui
que o livro de Moltmann se mostra bastante relevante e atual. O texto procura abordar o tema tanto sob a
ótica da revelação sistematizada e mediada pelos textos, como pela própria
experiência do crente em sua vivência com o Espírito, sem que nenhum dos dois
aspectos seja esquecido, porém colocado em seu devido lugar. Sem parecer contraditório, Moltmann apresenta
os dois elementos necessários para a compreensão adequada do Espírito. Citando Paul Tillich ele diz que “O Espírito
Santo não é em absoluto apenas uma questão de revelação, mas também uma questão
de vida e de fonte de vida” (pág. 19).
Mas por outro lado, “então o Espírito Santo não é um elemento de nossa
experiência de Deus, mas sim um elemento da revelação de Deus a nós” (pág. 17)
e mais adiante ele propõe a solução para a equação: “mas Revelação e
experiência só são contraditórias nas estreitas concepções da filosofia
moderna” (pág. 18).
Assim,
“teologia da revelação é teologia da Igreja, teologia dos pastores e dos
padres; teologia da experiência é prioritariamente uma teologia para leigos”
(pág. 29). E mais uma vez citando
Tillich observamos que se Deus é “aquilo que nos toca incondicionalmente” (pág.
38) então o conhecimento do espírito divino tem que advir de um revelação que
seja tanto experienciada quanto nos toque de maneira última – ou seja: eu só
conheço Deus quando sou tocado pela revelação de maneira incondicional e isto
só me acontece quando este tocar se dá pela experiência do Espírito que é ao
mesmo tempo transcendente – para ser razão última – e imanente – para
tocar. Consequentemente dois aspectos da
pneumatologia podem ser destacados no trabalho de Moltmann: primeiro o Espírito está presente na shekiná de Deus quando a transcendência
divina se faz experiência histórica do Espírito e segundo o Espírito na sua
personalidade o qual é e será sempre o outro tanto na relação trinitária quanto
na sua imanência em relação ao ser humano.
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