Eu tenho (ou tinha) um pen drive
azul, não é lá essa quintessência da tecnologia. Com "apenas" 2 GB de capacidade de
armazenamento, ele me serve muito bem para objetivos práticos: guardar
momentaneamente alguns arquivos, enquanto os transporto daqui para ali.
Não tem muita coisa guardada nele:
alguns documentos escaneados, algumas fotos e figuras que por qualquer razão
ainda não apaguei, outros arquivos de texto, algumas poucas pastas de música e
outras com filminhos que os amigos me mandam nas redes sociais e algum dia eu planejava
organizar. Nada de verdadeiramente
indispensável.
Mas não o acho já faz algum tempo. Sinto falta de sua função prática, bem mais
que seu conteúdo em si. Pus-me a
procurá-lo (a frase ficou chique assim, com dois pronomes em ênclise!). Mas nada...
não sei onde está...
E enquanto procuro, minhas idéias
vão viajando, o impulso é quase irresistível (talvez seja por isso que ainda
não encontrei – quem sabe?). Uma ideia
amarra na outra, e assim vai. E nada de
achar o dispositivo.
O primeiro pensamento é como a
tecnologia se torna tão rapidamente obsoleta – obvio! Não me acho assim tão velho, mas me lembro
dos velhos disquetes e de como eles não têm mais lugar para serem sequer lidos
no computador de mesa que eu trabalho agora; quanto mais no tablet que me acompanha e em outros gadgets que se tornaram extensões quase
inseparáveis de nossa existência hoje.
Acontece que até pouco tempo ainda
guardava uma caixa cheia dos tais disquetes.
Até que me dei conta que o tempo simplesmente o ultrapassou tudo o que
eu havia guardado ali, como uma onda – decidi jogar tudo fora e não sinto
falta.
E não me venha com o argumento de
que se estivesse em papel não se perderia tão facilmente. Além de ser simplório, não se atém ao ponto
principal: transitório => obsoleto / perene => essencial – quais as
variáveis desta equação?
Mas a vida continuou. E as idéias também.
Tem ainda a questão entre o valor
das coisas e dos meios (pen drive é mídia) em detrimento das pessoas – o já percorrido
caminho entre ter, usar e ser.
E as idéias prosseguem
pipocando...
Daí uma avaliação do tempo gasto é
inevitável: vale o tempo gasto na procura? O que invariavelmente leva a: e o tempo com os filminhos e músicas?
É verdadeiro que já não colecionamos
nem juntamos suvenir, chaveiros, folhinhas, canetas e outras cositas (vá lá, tem gente que ainda
guarda!!!) – hoje juntamos arquivos .doc .mid .jpg .mpeg .mp3 .mp4 .gif .mov
.zip .wma .exe e por aí vai. A maioria
deles só acumulamos – ficam lá no pen drive, na memória do celular, ou em uma
pasta esquecida qualquer para, quem sabe, um dia se mexer neles, nem que seja
só para apagar e aliviar a memória da máquina (e talvez a nossa própria). E depois baixar mais...
Então calmamente vou misturando
tudo no caldeirão das idéias e lembro dos disquetes que se foram, assim como o
pen drive sumido – e que depois deles virão outros, e outros, e outros, e
outros. Mas as idéias ainda estão na
minha cabeça, e depois delas virão outras, e outras, e outras, e outras. Só que elas germinarão, darão à luz mundos
novos, coisas novas, surpresas novas, idéias mais novas. E isso me moldará mais humano, mais à imagem
do Criador.
Ah! Ainda não achei o tal pen
drive. Vou dar mais uma olhada, quem
sabe!?
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