Continuando
a examinar o contexto eclesiástico das epístolas joaninas (reveja a primeira
parte aqui).
A HISTÓRIA PRÉ-EPISTOLAR DA COMUNIDADE –
A
história da comunidade joanina pode ser dividida em três fases (sugestão de
R.E. Brown): 1ª fase – antes do Evangelho; 2ª fase – enquanto o Evangelho foi
escrito; e 3ª fase – quando foram escritas as epístolas. Vindo depois a dissolução da comunidade.
A
comunidade surgiu como fruto do trabalho e do carisma do Discípulo Amado, anônimo e descrito no Evangelho como aquele que
mais compreendeu a Jesus Cristo e que esteve presente em momentos dos mais
importantes do seu ministério – por isso Jesus o amava – e este era o orgulho
da comunidade dele derivada.
Tendo
adotado uma cristologia bem mais elevada que o restante dos igrejas oriundas
dos outros apóstolos, não é de se admirar que cedo encontrou inimizade com os
judeus, o que fez logo a comunidade os identificar com o mundo (grego: κόσμος). Mas como conseqüência natural da inimizade
com os judeus, se viu forçada a abrir as suas portas para os gentios. Assim se vê que no momento em que foi escrito
o Evangelho, as relações de João com os estranhos à sua comunidade foram
decisivas para a comunidade se entender e delinear suas posições frente aos
não-cristãos e aos outros grupos de cristãos.
OS FILHOS DA SENHORA ELEITA –
Passadas
estas duas primeiras fases em que a coesão interna e a luta contra os inimigos
externos serviram de alicerces para a expansão e solidificação da comunidade
joanina, a Igreja atingiu um nível que já começava a fugir do controle da
liderança. Outro fator significativo
para a falta de controle e o surgimento de problemas é que a sua estrutura até
então tinha-se constituído de uma forma extremamente simples. Com as reuniões acontecendo nas casas dos
membros da comunidade e portanto não permitindo a formação de grandes
igrejas-núcleo mas sim uma confederação (ou convenção) das diversas pequenas
igrejas-núcleo numa determinada região ou cidade, sem que entre elas houvesse
necessariamente uma relação de interdependência ou de compromisso mútuo.
Outra
característica da estrutura simples que tinham tais comunidades é a falta de
uma hierarquia clerical organizada e funcionando. Já que as comunidades eram basicamente constituídas
de igrejas-núcleo composta de poucas pessoas e entre as igrejas não havia uma
relação necessária, o clero não só era desnecessário como realmente
inexistia. Ao que parece, a introdução
das estrutura de bispado já comum nas outras igrejas apostólicas nas igrejas
joaninas foi um dos fatores que causou a sua dissolução na década seguinte.
O certo
é que os unicos elos entre estas
igrejas-núcleo nascentes eram terem um herói comum – o Discípulo Amado – e a
leitura e aceitação do Evangelho. Mas
como esta leitura foi feita indistintamente das diversas comunidades, o
resultado foi o surgimento de pontos de divergência na interpretação do texto,
e foi isso que levou o autor joanino a escrever as epístolas: uma tentativa de
manter a comunidade unida à única interpretação que julgava correta do
Evangelho.
Continua...
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