terça-feira, 8 de outubro de 2013

SAUDADES…

Lia o livro de Salmos, e cheguei ao 42.  O autor do salmo estava cativo.  Talvez tivesse sido levado escravo em alguma invasão dos arameus.  Sente saudades da sua terra.  Fala do Jordão, o Hermon e o Mizar, talvez um pico do Hermon.  Lembra-se do templo.  Canta sua dor.
Mas tem saudades de Deus.  Do templo.  Do culto.  De ir com a multidão à casa de Deus (v. 4).  A saudade é tão grande que ele chora tanto que as lágrimas são o seu alimento (v. 3).  Para nós, cristãos, esta figura perdeu sua força.  Deus não está confinado a um templo ou a um lugar.  Mas naquele contexto da revelação estava.  Ele está longe do solo sagrado.  No cristianismo não há terra santa, pois Deus não habita numa terra, mas nas pessoas.  Para o salmista havia a terra de Deus.  Tinha saudades dela.
Diz-se que a palavra “saudade” só existe na língua portuguesa.  Grande coisa.  “Borogodó” também.  Ter saudades não é privilégio de falantes da língua de Camões.  Em outras línguas, o conceito é expresso por outras palavras.  Não há a palavra, mas há o sentimento.
Temos saudades do que nos é valioso.  Não temos saudades de uma doença.  Nem de uma provação esmagadora.  Mas, o que nos é valioso? Do que temos saudades? Os hebreus, no deserto, tinham saudades do Egito: “Nós nos lembramos dos peixes que comíamos de graça no Egito, e também dos pepinos, das melancias, dos alhos porós, das cebolas e dos alhos” (Nm 11.5).  Não era de graça.  Pagavam caro pelas cebolas e alhos: chicotadas nas costas.  Mas seu coração estava no Egito, então romantizavam o passado, esquecendo-se de como fora ruim.  Há cristão com saudades do mundo.  Queixa-se das provações que enfrenta na peregrinação por esta vida, esquecido que antes era pior.  Ou se não era, o destino seria pior.  Escravo não tem futuro.
Saudades de Deus! Que bonito! Para quem ama a Deus, o melhor lugar do mundo é a igreja.  O melhor momento da vida é o culto.  Não ir à igreja ou perder um culto traz um vazio! Garret chamou a saudade de “gosto amargo de infelizes”.  É frustrante: podemos estar em qualquer lugar, mas se nosso coração é do Senhor, ficar longe de sua igreja, do seu povo, do culto, é gosto amargo e infeliz.
Saudades de Deus! Diz o hino 484, do Cantor Cristão: “Da linda pátria estou mui longe/Triste eu estou/Eu tenho de Jesus saudades/Quando será que vou?”.  Muitos cristãos se apaixonaram pelo mundo e não têm saudades de Jesus e da linda pátria.  Não são mais peregrinos.  Naturalizaram-se cidadãos do Mundo.  Não cantam mais o Céu.  O coração não está lá.  Não se tem saudade do que não se ama.
Você tem saudades de Deus? Lembra-se dos bons momentos do passado e sente falta deles? Estando longe, tem saudades da igreja? Ou tem saudades do mundo, quando está na igreja? Saudades da casa de Deus ou do Egito?
Tenha saudades das boas experiências com Deus.  Queira-as de volta.  Busque-as.

No último dia 1º o Senhor recolheu para si o Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho – um dos grandes de nossa geração.  Como distinção ao seu legado, publico aqui este artigo de sua autoria publicado originalmente na pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá em 14/07/2013 e recolhido no sítio http://www.isaltino.com.br/2013/07/saudades

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