Lia o
livro de Salmos, e cheguei ao 42. O
autor do salmo estava cativo. Talvez
tivesse sido levado escravo em alguma invasão dos arameus. Sente saudades da sua terra. Fala do Jordão, o Hermon e o Mizar, talvez um
pico do Hermon. Lembra-se do templo. Canta sua dor.
Mas tem
saudades de Deus. Do templo. Do culto.
De ir com a multidão à casa de Deus (v. 4). A saudade é tão grande que ele chora tanto
que as lágrimas são o seu alimento (v. 3).
Para nós, cristãos, esta figura perdeu sua força. Deus não está confinado a um templo ou a um
lugar. Mas naquele contexto da revelação
estava. Ele está longe do solo sagrado. No cristianismo não há terra santa, pois Deus
não habita numa terra, mas nas pessoas. Para
o salmista havia a terra de Deus. Tinha
saudades dela.
Diz-se
que a palavra “saudade” só existe na língua portuguesa. Grande coisa.
“Borogodó” também. Ter saudades
não é privilégio de falantes da língua de Camões. Em outras línguas, o conceito é expresso por
outras palavras. Não há a palavra, mas
há o sentimento.
Temos
saudades do que nos é valioso. Não temos
saudades de uma doença. Nem de uma
provação esmagadora. Mas, o que nos é
valioso? Do que temos saudades? Os hebreus, no deserto, tinham saudades do
Egito: “Nós nos lembramos dos peixes que comíamos de graça no Egito, e também
dos pepinos, das melancias, dos alhos porós, das cebolas e dos alhos” (Nm 11.5). Não era de graça. Pagavam caro pelas cebolas e alhos:
chicotadas nas costas. Mas seu coração
estava no Egito, então romantizavam o passado, esquecendo-se de como fora ruim. Há cristão com saudades do mundo. Queixa-se das provações que enfrenta na
peregrinação por esta vida, esquecido que antes era pior. Ou se não era, o destino seria pior. Escravo não tem futuro.
Saudades
de Deus! Que bonito! Para quem ama a Deus, o melhor lugar do mundo é a igreja. O melhor momento da vida é o culto. Não ir à igreja ou perder um culto traz um
vazio! Garret chamou a saudade de “gosto amargo de infelizes”. É frustrante: podemos estar em qualquer
lugar, mas se nosso coração é do Senhor, ficar longe de sua igreja, do seu
povo, do culto, é gosto amargo e infeliz.
Saudades
de Deus! Diz o hino 484, do Cantor Cristão: “Da linda pátria estou mui
longe/Triste eu estou/Eu tenho de Jesus saudades/Quando será que vou?”. Muitos cristãos se apaixonaram pelo mundo e
não têm saudades de Jesus e da linda pátria.
Não são mais peregrinos. Naturalizaram-se
cidadãos do Mundo. Não cantam mais o Céu. O coração não está lá. Não se tem saudade do que não se ama.
Você
tem saudades de Deus? Lembra-se dos bons momentos do passado e sente falta
deles? Estando longe, tem saudades da igreja? Ou tem saudades do mundo, quando
está na igreja? Saudades da casa de Deus ou do Egito?
Tenha
saudades das boas experiências com Deus.
Queira-as de volta. Busque-as.
No último dia 1º o Senhor recolheu para
si o Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho – um dos grandes de nossa geração. Como distinção ao seu legado, publico aqui
este artigo de sua autoria publicado originalmente na pastoral do boletim da
Igreja Batista Central de Macapá em 14/07/2013 e recolhido no sítio
http://www.isaltino.com.br/2013/07/saudades
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