sexta-feira, 27 de maio de 2011

SOB AS ÁGUAS

Nesta última terça-feira, Aracaju esteve sob as águas de um temporal.  Foi realmente muita chuva, o que provocou um princípio de caos na cidade.  Por ter nascido e vivido nesta cidade entendo que isto ocorre, um pouco pela falta de planejamento urbano para enfrentar situações como esta, mas também – e eu diria principalmente – por que nossa cidade foi edificada sobre mangues e quando a água que vem do ceu encontra seu caminho cheio das águas da maré, torna-se impossível escoar.  E não adianta lutar contra as leis da natureza!
Imagem do Bairro 13 de Julho em Aracaju na década de 1960, 
onde dá para perceber que a cidade foi construída sobre mangues.
Deixando de lado as questões sócio-ambientais e de urbanismo – sei que há fóruns especializados nisto – preciso hoje colocar meus olhos teológicos sobre a situação.
Agora que o ímpeto das águas arrefeceu, começo procurando pelo arco-íris e não sei se não consegui vê-lo por que as chuvas ainda haverão de cair, ou se por que já há tanto concreto nesta terra que o ceu não está mais à mostra.  Ambos os casos exigem de mim uma séria reflexão bíblica.
Quando o ceu não pode mais ser contemplado; quando ele já não está ao alcance da minha vista e realidade; quando a sua perspectiva já foge do meu alcance; muito provavelmente seja porque eu já não esteja dando a necessária relevância aos assuntos de cima.  Tão ocupado estamos com os afazeres do cotidiano que o Reino de Deus fica em segundo plano (em Mt 24:36-39 Jesus faz um alerta para dias assim!). 
É então que eu preciso realmente procurar o arco-íris.  O arco no ceu foi estabelecido por Deus logo após passarem as águas do dilúvio.   Segundo a narrativa bíblica, Noé e sua família saíram da arca, o patriarca edificou um altar, Deus se agradou do cheiro do holocausto e então fez uma aliança com a humanidade de nunca mais haver outro igual e depois se referindo ao arco nas nuvens declarou: "Esse é o sinal da aliança que estabeleci" (confira a história em Gn 8-9 e a citação em Gn 9:17).
O arco no ceu deve me fazer lembrar que mesmo sob as águas, em meio a todo o caos urbano e tormentas da vida, eu ainda posso confiar num Deus de alianças que continua favorável a mim.
Mas há um outro aspecto a se observar.  E aqui tiro os meus olhos do ceu e os aponto na horizontal, para meu povo sergipano.  Se ainda haverá chuvas, e elas tendem a ser destruidoras, cabe a igreja, enquanto emissária de Deus na terra, em primeiro lugar se solidarizar com as vítimas sob as águas (entendo as palavras de Jr 29:7 como dirigidas a minha realidade).
Só que não pode ser só isso!  Só pedir a Deus que mande alguém para suprir as necessidades dos carentes é disfarçar e fugir da responsabilidade (preciso confessar que também sou tentado a fazer está oração e me manter na zona de conforto e preguiça espiritual – isto também é pecado conforme 1Jo 4:20-21).
As águas sob as quais minha cidade se viu submersa devem me desafiar, enquanto igreja de Cristo, a assumir a responsabilidade e compromisso de encarnar meu verdadeiro cristianismo entre aqueles que precisam de forma concreta conhecer e reconhecer o poder transformador do evangelho que prego.
Ao tempo que agradeço a Deus por que minha casa resistiu ao temporal e minha igreja continua reunida em oração, mesmo sob as águas.  Oro para que o Senhor não nos permita deixar de ver o arco nas nuvens nem de estender as mãos a quem precisa nesta hora.  E nisto o Pai será glorificado.

2 comentários:

  1. Pastor belo texto. |Que deus continue abençõando o senhor e sua familia sempre e que esse tom se prolongue cada vez mais ......beijo Lili

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  2. Oi Lili
    Obrigado pelas suas palavras. Continuo orando para que o Senhor me conceda ser instrumento de bênçãos, assim como creio que ele tem feito em sua vida.
    Um abraço.

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