Um grupo bastante distinto no Livro de Apocalipse é o dos selados. A primeira referência a eles é encontrada em Ap 7:3 – “até que selemos as testas dos servos do nosso Deus”. Seguindo-se então uma relação de cento e quarenta e quatro mil entre as tribos de Israel.
Sobre a relação numérica de tribos contida em Apocalipse, a primeira constatação a se fazer é a sua incongruência em relação às contidas no Antigo Testamento, principalmente no capítulo 49 de Gênesis ou no primeiro de Êxodo. E diante das incontáveis sugestões de interpretações para esta relação, a solução mais coerente com o texto apocalíptico dentro do contexto bíblico é a apresentada por George Ladd:
Até hoje não foi apresentada nenhuma explicação satisfatória para esta lista de nomes irregular, a não ser esta: que João queria dizer que as doze tribos de Israel não são o Israel literal, mas o Israel verdadeiro, espiritual – a igreja.
(…)
O Novo Testamento claramente considera a igreja o verdadeiro Israel espiritual. Na verdade, a palavra “Israel” nunca é usada para a igreja, a não ser em Gl 6:16; mas há divergências sobre a exegese deste texto. Não há discussão, todavia, sobre o fato que “se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3:29).
Quanto a identificação dos selados – e do selo propriamente dito – faz-se necessário o alinhamento de outros textos bíblicos para tal. Os que receberam o selo de Deus em suas testas são os que foram comprados pelo Cordeiro de toda as tribos, línguas, povos e nações para se constituírem reis e sacerdotes (deve-se comparar Ap 5:9 com 1:5-6 e 7:9). E embora eles tenham vindo da grande tribulação, o anjo do abismo não lhes pode tocar (aqui a comparação deve ser entre Ap 7:14 e 9:4 e 11).
Já no que se refere ao selo em si, a marca impingida nos que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro, a colocação paulina na Carta aos Efésios demonstra de maneira clara e espiritual o que ela deve implicar:
Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória (Ef 1:13-14).
Ainda outra colocação é pertinente aqui em si tratando de selo e selados. No capítulo treze de Apocalipse é dito que a besta ordenou a todos a “receberem certa marca na mão direita e na testa” (Ap 13:16). E pouco abaixo apresenta o número-código desta marca como sendo número humano equivalente a 666 (Ap 13:18).
Independente das diversas teorias e correntes que se propõem a tentar decifrar este enigma apocalíptico, a compreensão mais apropriada para este selamento exigido pela besta é o que Onesimus Ngundu chamou de “paródia do selo colocado sobre os 144 mil no capítulo 7”. Não podendo repetir ou requisitar para si a mesma adoração prestada pelos selados pelo Cordeiro, a besta marca os seus, imitando a marca divina. E serão estes marcados pela besta que receberão a ira da primeira taça da vingança de Deus (em Ap 16:2) e sofrerão o castigo eterno por adorarem a sua imagem (em Ap 19:20).
Leia também o livro TU ÉS DIGNO - Uma leitura de Apocalipse. Texto comovente, onde eu coloco meu coração e vida à serviço do Reino de Deus. Você vai se apaixonar por este belíssimo texto, onde a fidelidade a Palavra de Deus é uma marca registrada.
Disponível na:
AD Santos Editora