Costumamos
chamar de Idade das Trevas os anos da Idade Média européia – principalmente os
primeiros anos – quando a produção e o fomento de cultura e conhecimento
ficaram mais escassos e seriamente restritos e dominados pelos círculos
religiosos.
Mas
esse período não foi de completa ausência reflexão e debate, e em geral, damos
o título de ESCOLÁSTICOS aos pensadores deste período. O termo vem lá do grego: σχολαστικός – aquele
que pertence a uma escola, daí instruído, sábio.
O
principal teólogo deste período foi Tomás do Aquino (Itália,
1225-1274), cuja obra mais proeminente – Summa Teologicæ – balizou o
corpo doutrinário católico e sua dogmática.
Na
lista abaixo, procurei apontar alguns dos pensadores cristãos que contribuíram
com a reflexão teológica nesse período escolástico, mas que não estão entre os
mais conhecidos hoje em dia.
→ João Scoto Erígena (Irlanda, 810-877) –
ü Existe uma predestinação
benévola em relação à criação pois tudo é controlado por Deus.
ü A natureza é a totalidade
das coisas, existentes e não existentes, daí se dividir em quatro partes: 1. a natureza não criada, 2. a natureza que foi criada e
que cria, 3. a
natureza que foi criada mas não cria, 4. A natureza que nem foi criada nem cria.
ü O homem é o microcosmo e
Deus é o macrocosmo do universo.
ü Universalista, afirmava que
todo homem caído no pecado seria redimido pelo Logos em sua encarnação quando o
homem – pela força iluminadora do Logos divino – sendo reabsorvido em sua
essência divina.
→ Avicena (Pérsia, 980-1037) –
ü Opunha-se a atomismo
afirmando que nada existe de absoluto dentro do mundo finito.
ü Deus é um ser perfeito e
necessário, completo e absoluto.
ü A criação se fez necessária e
o mal é um acidente da existência.
ü Os profetas adquiriram a
capacidade de entrar em contato com a inteligência superior – Deus, recebendo o
conhecimento de verdades específicas.
→ Salomão Ibn Gabirol, conhecido como Avicebron
(Espanha, 1021-1058) –
ü Todas as substâncias
terrenas e espirituais combinam força e matéria.
ü O mundo procede da unidade
divina por meio de uma série de emanações mediadas pela própria vontade divina.
ü Deus, em sua verdadeira
natureza, permanece acima da compreensão humana.
ü A vida humana não faz
sentido sem que se relacione com Deus mediante o conhecimento e a devoção, o
que conduz a dominação da natureza animal voltada para a sensualidade e
aproxima da natureza divina.
→ Anselmo de Cantuária (Itália, 1033-1109) –
ü Criou o argumento ontológico
em duas formas: 1. Deus é a realidade maior que podemos conceber, 2. A não existência de Deus é
uma contradição de termos.
ü Há uma diferença entre o
pensamento e a realidade pensada pois o que existe é apenas o conceito do ser
último.
ü O ser humano não chega a
Deus por meio de especulações mentais, mas pela iluminação divina e pela
experiência mística que comunica ao homem a verdade.
ü Ao morrer pelos homens,
Cristo proveu uma satisfação
proporcional à culpa humana, uma dádiva de si mesmo, que requer uma recompensa
proporcional: a salvação do homem.
ü Defendeu o realismo
metafísico em dois mundos: a realidade material do mundo físico e a realidade
espiritual do mundo metafísico.
ü A ética deve der
fundamentada no amor.
→ Pedro Abelardo (França, 1079-1142) –
ü Procurou desenvolver vários
conceitos fora do cotidiano da teologia dogmática.
ü Introduziu o método
dialético na Teologia tentando combinar autoridade e razão, fé e erudição.
ü Fé e razão não podem
contradizer-se pois partem da mesma fonte – a verdade divina.
ü Ocupou-se da questão das
fontes cristãs afirmando que a Bíblia é infalível, enquanto que os pais
eclesiásticos podem errar.
→ Maimônides (Espanha, 1138-1204) –
ü Mesmo sendo judeu influenciou
bastante a teologia cristã, tentando conciliar o pensamento judeu com a
filosofia aristotélica.
ü O mundo foi criado a partir
de uma agência divina e por isso não é uma matéria eterna.
ü Deus é radicalmente
diferente do mundo e por isso só podemos afirmar – pela razão – o que Deus não
é.
→ Boaventura de Bagnoregio (Itália, 1221-1274) –
ü A filosofia culmina no
misticismo, que se constitui sua mais elevada expressão, logo, razão sem fé
sempre cai no erro.
ü Todas as pessoas, por mais
simples que sejam têm uma consciência e nesta consciência está implícito um
conhecimento de Deus.
ü Para provar a existência de
Deus seguiu os argumentos de Anselmo.
ü Há no ser humano um elemento
ético que deve ser cultivado pelo busca da felicidade.
ü As constantes alterações do
mundo material não nos permitem encontrar a verdade pela simples observação.
→ João Duns Scotus (Escócia, 1266-1308) –
ü Não deixou obra escrita, mas
suas idéias foram compiladas pelos seus alunos.
ü O amor de Deus ocupa o lugar
central da teologia.
ü O homem tem intelecto, porém
este intelecto é inferior ao de Deus por está limitado pela natureza biológica;
ü Ao nascer o ser humano é uma
tabula nuta (placa nua) na qual serão escritos os conhecimentos
acumulados ao longo da vida.
ü Aceitou a autoridade da
igreja, mas somente no campo das doutrinas.
→ Guilherme de Ockham (Inglaterra 1288-1347) –
ü A partir de uma leitura
própria de Aristóteles, tentou simplificar a filosofia escolástica negando a existência de essências
intencionais, a distinção de essência e existência e entre intelecto ativo e
intelecto passivo.
ü No campo da ética afirmou
que a noção de certo e errado depende da vontade de Deus.
ü Acreditou na realidade e
confiabilidade das funções intuitivas humanas.
ü Deus não pode ser conhecido
por razões ontológicas, somente pela revelação.
ü Foi um precursor da
democracia afirmando a liberdade da vontade humana.