sexta-feira, 12 de junho de 2020

PRECISO FAZER LIVE?


Desde que a função de veículo prioritário para comunicação à distância foi ocupado pelo celular (os lusitanos preferem chamar o aparelho de telemóvel - eu gosto dessa palavra).

Mas... começando de novo ainda em português brasileiro.

Desde que a função de veículo prioritário para comunicação à distância foi ocupado pelo celular, a forma de trocar informação tem se modificado, não apenas via celular especificamente, mas de um jeito geral.

E nestes tempos de distanciamento necessário, novos hábitos, novas tendências e novos jeitos ganham espaço implacável.

Olhando agora para o aparelho é fácil observar como a comodidade caminhou nas mãos, via celular.

Primeiro se ligava e falava, depois migramos para o hábito de escrever as mensagens e o passo seguinte foi gravar um áudio e enviar (confesso que ainda tenho dificuldades com os áudios em minhas redes sociais).

Mas agora a tendência é fazer live.  Uma mistura de tudo isso aí no parágrafo anterior só que ao vivo (acho que no português europeu seria em direto).  Ou seja a transmissão é feita simultaneamente.

E, se já não me sinto muito à vontade com áudios, imagine quando me cobram:

— Você precisa fazer live!

Geralmente nesse ponto eu paro e penso antes de responder.  Não é que tenha algo contra as mídias modernas - estou nas redes sociais e mantenho ativa uma página na internet.  Também não é um problema falar diante de pessoas - como pastor e professor, o desafio do auditório se fez costumeiro.

— Então, por que não faz live?

— Então ...

Para falar bem a verdade, eu gosto da palavra escrita, sempre preferi.  Eu me sinto em casa e à vontade com o texto redigido.  É só uma questão de preferência pessoal mesmo.

Dizem que escrevendo se perde entonação e sotaque.  Além de não se ter o controle completo da mensagem que chega ao leitor pois ele pode atribuir ênfases e significados múltiplos e diversos.

É verdade.  É um risco.  E por isso, um desafio.

Mas gosto do desafio.  Gosto da magia da escrita e do efeito gráfico.  Gosto também da briga com a palavra, do garimpo do léxico e das nuances da sintaxe.  E isso é coisa que exige tempo, paciência, engenhosidade e revisões intermináveis que só a escrita pode ofertar.

Assim, um texto nunca fica pronto até que um leitor qualquer (ou específico) o tome e o decifre.  Por isso, gosto particularmente de oferecer uma possibilidade de caleidoscópio de significados a quem me lê.  Acho que é essa alquimia que me mantém escrevendo mesmo num mundo onde gradualmente menos se lê e mais se ouve e vê.

— Será que estou ficando anacrônico?

— Preciso mesmo fazer live?

 

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