Trago
hoje em minha memória a cena de Jesus no Getsêmani. Ali era um
jardim onde os judeus haviam plantado várias oliveiras e para lá
iam em busca de um lugar tranquilo a fim de orar e encontrar a paz.
Lucas
conta que Jesus também tinha este costume (confira Lc 22:39). Mas a
cena em especial que os evangelistas narram com tendo acontecido
pouco antes da páscoa parece se configurar de contrastes gritantes.
Na companhia de alguns dos seus discípulos mais achegados, o Mestre
foi àquele lugar para se encontrar com o Pai na perspectiva da hora
fatal que se aproximava. Neste sentido, o jardim antecipava o
calvário e se mostrava como um drama profundamente humano.
O
contraste começa a se descortinar quando comparamos o ambiente do
jardim com o estado de espírito de Jesus. Na Bíblia a oliveira é
sempre símbolo de alegria e o seu florescer a certeza de que Deus
renovou sua bênção para com o seu povo. Um bom exemplo é a
história de Noé quando, ainda na arca, recebeu a pomba de volta com
um ramo de oliveira e então soube que o castigo do dilúvio tinha
acabado (leia em Gn 8:11).
Entre
as oliveiras do jardim, o ânimo de Jesus era exatamente o oposto.
Ele disse: "minha
alma está profundamente triste, numa tristeza mortal"
(Mt 26:38). Toda a beleza e alegria que o cercava não foram
suficientes para mudar o abatimento e o desconsolo que se enraizava
em sua alma. O homem Jesus estava triste no meio daquela alegria.
Mas
isso tinha um porquê. Aquela agonia humana de Jesus era resultado
de dois outros contrastes que ele vivenciava naquele instante.
O
homem Jesus era a encarnação do Verbo – a segunda pessoa divina
(leia Jo 1:14). Esta afirmação implica em dizer que o Cristo na
eternidade experimentara a presença íntima, a companhia que
interpenetra na Trindade. Ali o homem antecipava a solidão absoluta
do martírio (atente para o grito na cruz em Mt 27:46). Este
contraste atormentava Jesus. E nem os discípulos o acompanhavam
(estavam dormindo com diz Mt 26:40 e 43).
Mas
também o Deus-Filho era o criador da vida e a sua verdadeira
essência (leia ainda Jo 1:4), e mais na eternidade ele se apresenta
como o que
era, o que é e o que há de vir, o Todo-poderoso
(em Ap 1:8) – aquele que existe por si só. Naquele momento a
certeza da morte, da limitação, da finitude assombrava Jesus em
flagrante contradição com sua essência imortal. E ainda viu seu
suor transformado em sangue (narrado por Lc 22:44).
Naquele
jardim Jesus encarnou uma humanidade: amedrontada, solitária e
mortal, coabitando com a sua divindade: poderosa, solidária e
eterna.
Assim,
trazendo em minha memória a cena de Jesus no Jardim do Olival, louvo
a Deus porque ele passou por aquilo tudo por me amar e hoje a minha
própria alma pode se sentir livre daquele terror. Glória a Cristo!
(Publicado
originalmente em ibsolnascente.blogspot.com
– 17/09/2010.
A imagem lá em cima eu achei no Wikimapa e retrata o local atualmente)
A imagem lá em cima eu achei no Wikimapa e retrata o local atualmente)