terça-feira, 27 de outubro de 2015

REFLETINDO NA PALAVRA DE DEUS


Prega a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda paciência e doutrina.
(2Tm 4:2)
Durante toda história da Celebração Cristã, os cânticos e demais movimentos litúrgicos sempre foram acompanhados da reflexão e estudo bíblico.  Ou seja, paralelamente às celebrações do culto cristão sempre se deu ênfase à leitura da Palavra de Deus e ao estudo dela como componente fundamental dos momentos de culto cristão.
Acompanhando este movimento, Deus sempre levantou seus servos e servas para estudarem a sua Palavra, compreenderem as suas verdades e captarem as suas lições podendo aplicá-las às vidas dos cristãos que em cada momento buscam a presença de Deus no culto para experimentar da sua companhia e receber do seu alimento.
Hoje também Deus tem levantado homens e mulheres para que possam trazer a Palavra de Deus àqueles que o buscam.  Já desde os tempos antigos Deus tem afirmado que "não faz coisa alguma sem revelar o seu plano aos seus servos, os profetas" (Am 3:7).   Assim é que Deus tem falado aos seus servos para que estes, por sua vez, falem ao povo e assim seja manifesta a vontade do Senhor no meio da igreja.
No culto cristão, hoje, os pastores exercem a função profética: são levantados por Deus, que os comissiona para serem os porta-vozes de suas intenções.  Então compreendemos que o pastor diante de sua congregação é responsável perante Deus por aquilo que diz ao povo – Deus fala por sua boca.  E compreendemos também que ao povo cabe tanto interceder para que a voz de Deus seja ouvida e claramente compreendida, como ter humildade para se submeter a esta vontade expressa.
Que Deus nos faça ouvir a sua voz através dos seus servos.

(do livro "No Baú da Adoração" publicado em 2004)

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Música, Identidade e Política

Ninguém duvida da importância da música para o indivíduo e para a sociedade. Ela é tão importante que o poeta nordestino Geraldo Azevedo chega a afirmar que "quem inventou o amor teve certamente inclinações musicais" e, Rubem Alves, "que o povo cantou a Reforma antes mesmo de entendê-la" (Dogmatismo e Tolerância, Edições Paulinas, SP, 1982).
A música é significativa na identificação de um grupo social.  Chega a ser símbolo nacional.  No caso batista, a encadernação do Cantor Cristão junto com a Bíblia, por razões econômicas e operacionais, contribuiu de forma tal para o fortalecimento simbólico do Hinário que, para alguns, a autoridade de suas letras, como as da Bíblia, deveria ser indiscutível e insubstituível.  Suas letras e melodias, continuam servindo de identidade para boa parte das reuniões de batistas.
É interessante analisar os resultados dos investimentos em educação musical, feitos pelas denominações, bem como da popularização tecnológica dos meios de reprodução de sons e partituras.  Se por um lado, eles possibilitaram o crescimento e a proliferação da produção nacional de música evangélica, por outro, contribuíram para o enfraquecimento de um dos pilares simbólicos da nossa identidade denominacional, o Cantor Cristão.
A partir desse fato, houve uma divisão entre os que defendiam a manutenção exclusiva, nos cultos, dos hinos tradicionais do referido hinário, e os que defendiam a inclusão de hinos e cânticos contemporâneos.  O HINÁRIO PARA O CULTO CRISTÃO foi uma tentativa de conciliação, mesclando hinos antigos e novos com o propósito de, sobretudo, preservar a identidade batista.  O maior obstáculo porém, a esse projeto, tem sido a tecnologia.  É que é muito mais cômodo e menos oneroso cantar lendo uma projeção de um retroprojetor do que ter que adquirir e segurar um pesado livro.  É muito mais fácil e agradável aprender novos hinos ouvindo-os através de um CD ou do rádio, no conforto do lar, do que repetindo-o, sob a orientação de um regente.
Sem perceber ou querer admitir essas realidades e na tentativa de fazer prevalecer um tipo de música em detrimento de outro, a postura de alguns tem sido a de combater a escolha musical alheia.  Subliminarmente a "argumentos técnicos", subsiste uma velada disputa política, no sentido de fazer prevalecer gostos, costumes, crenças e valores.  Em nome da boa "qualidade técnica", percebe-se a defesa de músicas oriundas de países colonizadores e a acusação das geradas na própria região ou em países subdesenvolvidos, como sendo de mau gosto e, até, demoníacas; as executadas nos encontros da elite social são as de bom gosto e as cantadas pelas massas, ruins.  Por isso, tão importante quanto avaliar a música evangélica contemporânea em seus aspectos estéticos ou teológicos, seria, também,  pôr em xeque os pressupostos sociológicos embutidos na postura de seus críticos. 
Para a maioria das pessoas, a qualidade (conceito bastante relativo) de uma música está menos ligada a sua origem geográfico-econômico-cultural e mais às lembranças e sentimentos que suscita.  Precisamos, por isso, superar o complexo de colonos, cujo ideal de vida é a vida dos colonizadores e, sem xenofobismo, investir numa educação musical democrática que garanta ao povo o direito que lhes é inerente, de fazer uso, também, do que tem sido produzido em seu círculo, a fim de que, a partir dessa experiência, se continue a construir uma qualidade musical cada vez melhor.

 Este texto foi escrito pelo meu amigo e colega o Pastor Edvar Gimenes de Oliveira há mais de uma década, quando ainda pastoreava na cidade do Recife.  Como eu acredito que os argumentos continuam relevantes, e bons para começo de conversa, aí está publicado.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A PELEJA NÃO É VOSSA

Josafá foi um rei de Judá que governou em Jerusalém no século IX a.C.  Descendente direto do rei Davi, ele procurou seguir os caminhos de seu ancestral (confira em 2Cr 17:1-3) e o Senhor lhe concedeu vitórias em diversas ocasiões.
Em uma destas situações de conflito, quando seus vizinhos de Moabe a Amon se juntaram para desafiar as tropas de Judá, a notícia logo chegou aos ouvidos do rei e do povo: "Um exército enorme vem contra ti de Edom, do outro lado do mar Morto".  Embora isto tenha causado um certo temor, mais uma vez Deus se mostrou fiel e a batalha foi ganha (este é o episódio em que os levitas vão à frente do exército cantando e o Senhor triunfando – veja toda a narrativa no capítulo 20 de 2Cr).
O texto deixa claro que tudo isso aconteceu mediante a palavra profética de Jaaziel, um levita sobre quem veio o Espírito do Senhor.  Mas o que quero destacar para a reflexão aqui são duas atitudes reais que estão colocadas na narração antes e depois da intervenção divina (até parecem que se apresentam como moldura do quadro principal que é a declaração do Senhor em 2Cr 20:15 – a peleja não é vossa).
Diante da situação-problema e pressentindo o pavor rondando Jerusalém, Josafá reuniu o povo e em assembléia solene buscou ao Senhor em oração (nos versos de 2Cr 20:3-6).  Ele sabia que antes de enfrentar qualquer batalha é preciso consultar ao Senhor e buscá-lo em oração.  Mais do que um conhecimento do potencial do exército e da ameaça inimiga, o rei conhecia o Senhor e o seu poder e sabia que força e poder estão nas mãos divinas (verso 6).
Quem vê os problemas apenas se esconde e foge.  Quem tem intimidade com o Senhor dos Exércitos, ora e se fortalece.  Assim foi com Josué diante de Jericó (em Js 5:13-15); assim foi com Eliseu diante dos exércitos da Assíria (em 2Rs 6:17) e assim foi com o próprio Jesus no Getsêmani (em Mt 26:36).
Depois de ter ouvido a resposta a sua oração por boca profética, mesmo sem ter ainda visto o fim da batalha, a Bíblia conta que o rei se prostrou com rosto em terra em adoração ao Senhor (no verso de 2Cr 20:18).  A palavra de Deus é suficiente para que o coração de quem confia nele possa descansar em segurança.  O segredo não estava numa estratégia geniosa ou impressionante – lembre-se que a batalha foi ganha com louvor.  Mesmo antes da luta, já era possível cantar a vitória! 
Todo crente fiel que vivencia experiências com o Deus que é mais que vencedor sabe que pode louvá-lo desde já.  Foram estas as palavras do Sl 42 nos versos 5 e 11 e do Sl 43:5; foi esta a oração de Hacabuque (em Hc 3:17-18) e assim procedeu Paulo e Silas na prisão (leia At 16:25 – e como foi tremenda a intervenção divina!).
A história de herois da fé no passado como foi o caso do rei Josafá ainda é para nós um estímulo e um desafio.  Ainda temos inimigos a nos afrontar.  Mas principalmente ainda temos a nossa frente um Deus que é Senhor dos Exércitos e peleja por nós.  Se a confiança que moveu Judá no passado ainda é a mesma em nós, então antes de entrarmos em batalha, que consultemos e busquemos o Senhor em humilde oração e submissão e pela fé louvemos e nos prostremos agradecidos porque o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu... (exclamação de Ap 5:5).
Que esta seja a moldura de nossa vida para a glória de Deus!

(Foi publicado originalmente no sítio ibsolnascente.blogspot.com em 23 de abril de 2010)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Os 10 Mandamentos - quadro comparativo

Tanto o Judaísmo como as diferentes vertentes histórias do Cristianismo reconhecem as Leis e Mandamentos de Deus catalogados em 10 princípios básicos.  Ate aqui tudo bem.  O problema é que, embora todos tenham a mesma base, a distribuição dos mesmos mandamentos não é uniforme em cada uma delas.  Veja no quadro a seguir uma comparação entre elas:

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

PREPARANDO PARA A ADORAÇÃO

Prepare-se para encontrar-se com o seu Deus, ó Israel.
(Am 4:12)
Mexendo no baú da Adoração, seria bom hoje retirar um pouco a poeira daqueles que contribuem para que a igreja cultue ao Senhor de maneira efetiva e relevante.
Deus é cultuado pelo seu povo, mas há uma parte desse povo que faz do seu trabalho uma preparação para que todos tenham a oportunidade de adorar melhor.  E aqui queria começar pensando especificamente de fora para dentro – começando a olhar para aqueles cujo trabalho nem sempre aparece.  Deus tem sido louvado no trabalho de irmãos e irmãs que fazem o melhor de si para que tudo esteja no lugar e funcionando durante a execução do Culto Público: são aqueles que cuidam de áreas como limpeza, som e iluminação do local de culto; recepção e acolhimento dos que chegam para adorar; atenção para as crianças durante o momento do culto; etc.  Todos estes cultuam a Deus com as suas atividades específicas.
No texto de Ef 4 nós lemos que o Espírito de Deus capacitou alguns no meio de povo para exercer atividades específicas tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos.  Assim nós aprendemos que todos os que servem na igreja preparando ou durante o culto em primeiro lugar foram capacitados por Deus, logo a ele prestarão contas das suas obras.  Em segundo lugar foram colocados nas suas respectivas funções para contribuir para que a igreja se aperfeiçoe em sua adoração, logo a prioridade deve ser sempre o grupo cristão e não a individualidade.
Estes são os que Deus tem usado na preparação do culto, que estejam submissos à sua vontade e disponíveis para servir ao Corpo de Cristo.

(do livro "No Baú da Adoração" publicado em 2004)

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O contexto eclesiástico das epístolas joaninas – 3ª parte

Continuando a examinar o contexto eclesiástico das epístolas joaninas (reveja a primeira parte aqui e a segunda parte aqui).
AS IDÉIAS DISSIDENTES –
Basicamente as idéias dissidentes abrangiam quatro áreas (e aqui julgo como corretas as idéias que assim foram aceitas pelos cristãos dos séculos seguintes e que canonizaram o texto bíblico): a cristologia, a ética, a escatologia e a pneumatologia.  A ênfase recaindo nas duas primeiras.
A partir do que condenado nas epístolas – e só daí temos documentos confiáveis – podemos deduzir que a cristologia dissidente dentro da comunidade joanina era uma interpretação híbrida de gnosticismo e docetismo do Evangelho.  Em resumo, criam que o Jesus histórico era distinto do Cristo pré-existente e que este último incorporou o primeiro por ocasião do batismo e que o deixou momentos antes de sua morte pois o Cristo – éon imortal de Deus – não podia jamais passar pelo sofrimento pois isso só caberia à carne mortal, assim como as paixões.  Para refutar tais idéias, o autor foi conclusivo: "Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus" (1Jo 4:2 – conferir também 3:23; 4:15 e 5:1-5).
Quase que conseqüência desta primeira idéia, pensavam os dissidentes que por terem intimidade com Deus e este não ter pecado, então eles também tinham uma áurea de impecabilidade, sendo assim livres de qualquer regra ética ou moral pois qualquer coisa que chegassem a fazer isso não implicaria em culpa ou pecado.  Outra desdobramento era o total desprezo aos mandamentos de Deus e a outros textos bíblicos.  Contudo é bom ressaltar que ressaltar que não há provas de que, na prática, os adversários do autor levavam uma vida de libertinagem imoral.  Se a disputa era no campo da interpretação do Evangelho, o autor afirmou então que "se dissermos que não temos pecados nenhum ... a verdade não está em nós" (1Jo 1:8 – conferir também 1:6-10; 2:4-9 e 4:20).
Os dois outros pontos caminham quase que em paralelo: pensavam eles que a escatologia e a pneumatologia já haviam sido consumadas e portanto nada se poderia esperar deste mundo – enquanto o autor trilha a idéia de que o Espírito (grego: Παράκλητος) estava ao lado da igreja para lhe acompanhar no desenrolar de sua história.
IDENTIFICAÇÃO HISTÓRICA DOS DISSIDENTES –
Finalmente se faz necessário uma rápida identificação histórica de qual grupo possuía as características do item anterior e portanto mereceram o repúdio do autor joanino.
Num análise a priori as idéias dissidentes parecem se casar com as dos docetas que não criam na encarnação do Verbo (grego: Λόγος).  Mas as implicações disto é diferente nos adversários joaninos e nos docetas, pois enquanto os últimos viam a Jesus como uma simples configuração (aparência) humana, não possuindo corpo físico concreto, os primeiros apenas parecem não aceitar que o Jesus histórico e o Cristo pré-existente fossem a mesma pessoa.
Tradicionalmente têm-se visto os gnósticos como os tais adversários por conta da aproximação destes com os escritos joaninos, o quem facilitaria uma interpretação sob seus próprios modos do Evangelho.  Mas se este tivesse sido o caso – o que parece ser pouco provável pois os gnósticos só chegaram a ser significativamente notados no seio da igreja a partir do segundo quartel do segundo século – uma aproximação das epístolas e do próprio Apocalipse com o grupo que teria sido inconcebível.  O que deve ter acontecido é que tal aproximação além de casual, foi posterior ao problema que originou a escrita das epístolas.
Outra opinião que tem ganhado corpo é que o grupo seria o dos nicolaítas, mencionados em Ap 2:6 e 14-15 como um grupo rejeitado e de certo modo relacionado com a comunidade de Éfeso, para onde devem ter sido destinadas as epístolas.  Mas se fosse assim, como se explicaria a total omissão tanto deste grupo como dos seu líder nas epístolas?
A verdade é que qualquer conclusão sobre quem seriam concretamente este grupo não passará de especulação.  Provas a favor e contra sempre existirão, para todos os casos.
CONCLUSÃO –
"Lembra-te, Senhor, de tua igreja, para livrá-la do todo mal e aperfeiçoá-la no teu amor; reúne esta igreja santificada dos quatro ventos no teu reino que lhe preparaste, pois teu é o poder e a glória pelos séculos.  Amém" (Didaquê 10:5).

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

CARTA ABERTA AO PAPA BERGOGLIO

Ao Papa Bergoglio,

Saudações cristãs.

Embora reconheça a dignidade eclesiástica do nome Francisco, permita-me chamar-te pelo teu nome de batismo: Jorge Mario Bergoglio – quero dar um tom mais pessoal a essa missiva.
Recentemente as redes sociais às quais tenho acesso se viram abarrotadas de ruído com comentários sobre tua Homilia nas Vésperas com sacerdotes e religiosas, proferida no último dia 24 de setembro na St Patrick's Cathedral, em Nova Iorque.  A expressão em questão foi a tua declaração sobre "o fracasso da cruz!" (a exclamação é por minha conta).
Como é do meu feitio, antes de emitir qualquer opinião ou comentário, fui buscar te ouvir.  Achei a gravação na internet e a escutei com espírito desarmado e acurada atenção – também do meu feitio.
Ainda antes porém de tecer algo sobre a homilia em si, entendo ser de bom alvitre dar umas palavras iniciais, assim como fizeste, somando-se aos islâmicos numa prece a Deus nosso Pai Todo-poderoso e misericordioso.  Não sei se Jesus Cristo diria as mesmas palavras, mas com certeza diria amém àquela oração.
Quanto aos ruídos e comentários espalhados pelas redes; com ousadia apenas faço minhas as palavras do crucificado, quando exclamou: "perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo" (Lc 23:34).  É que muitas vezes o rigor da verdade sobrepõe ao carisma da agape cristã.
Achei interessante também destacar que a homilia foi proferida na língua de Isabel de Castela (mais um motivo para usar o nome de batismo), e te ouvindo, mesmo na América do Norte, deu até para sentir um pouco o gostoso acento portenho.  Como me sinto em casa entre os herdeiros protestantes e reformados, percebo que há verdades tão viscerais que carecem da língua materna para moverem a alma.  É por isso também que decidi te escrever na última flor do Lácio, como diria Olavo Bilac.  Sei que me compreenderás.  Além do mais, creio piamente que toda homilia verdadeira deveria fazer vibrar o espírito assim.
 Vamos à homilia.  Começaste citando a epístola de Pedro (1Pe 1:6) e ressaltando: "temos que viver nossa vocação com alegria".
Como disseste: o texto apostólico aponta duas reflexões que nos  ajudam a seguir fieis como povo de Deus, mesmo diante de grande tribulação.  Em primeiro lugar é preciso manter um espírito de gratidão.  Releio Pedro que diz: "alegrem-se".  Deus tem nos dado inúmeras bênçãos, mesmo em meio aos dissabores da caminhada da vida.  Então concordo quando dizes que a verdadeira alegria só brota de um coração agradecido.
Depois destacaste que é preciso um espírito de laboriosidade.  O termo conota tecnicidade, mas teu comentário bem o aclarou: "um coração agradecido é, espontaneamente, impelido a servir o Senhor e a abraçar um estilo de vida diligente.  No momento em que nos damos conta de tudo aquilo que Deus nos deu, o caminho da renúncia a si mesmo a fim de trabalhar para ele e para os outros torna-se um caminho privilegiado de resposta ao seu amor".  Fora disto só resta uma "espiritualidade mundana".
Neste ponto da prédica chegamos à citação sobre a cruz.  Ora, confesso que criticar ex tempore uma citação sem dar-lhe a devida atenção à toda a contextualização é no mínimo desleal.  O que foi dito até aqui alinha-se estreitamente com a nossa fé, e o parágrafo a seguir certamente se coaduna com os ditames do Evangelho cristão. 
Se entendi corretamente a tese que queres defender, fazes uma oposição clara entre a vocação do evangelho e os valores do mundo, que buscam o sucesso exterior, como o que governa o mundo dos negócios.  O problema é que tal padrão não é – nem pode ser – divinamente referenciado, pois "o verdadeiro valor do nosso apostolado é medido pelo valor que o mesmo tem aos olhos de Deus".
Aqui ressalta o exemplo da cruz de Cristo.  Nos moldes humanos, Jesus findou seu ministério terreno numa cruz de maldição (tomo como base as palavras paulinas em Gl 3:13) – uma retumbante demonstração de fracasso: o fracasso da cruz! (a exclamação continua sendo minha).  Mas deste fracasso Deus faz surgir todo o seu poder e graça.  Assim são os valores do Reino.  Assim é o evangelho.  Este tem que ser o nosso padrão.
Entendo que é desta absurda contradição que Jesus falava quando se referiu à necessidade do grão morrer na terra para que venha a dar frutos (leio em Jo 12:24).
Antes de terminar, fizeste ainda uma advertência quanto ao ócio como valor deste tempo, pois ele ofusca a força da chamada diária de Deus à conversão e ao encontro com ele.  Seguiram-se então palavras de apoio e reconhecimento ao ministério eclesiástico feminino – devidamente aplaudido.
E finalmente, a citação ao Magnificat – verdadeira oração cristã.  É verdade que neste ponto temos algumas discordâncias pontuais e profundas, mas que elas não nos impeçam ao comum anseio pelo Reino e a certeza de prosseguir no caminho da fidelidade a Jesus Cristo.
Querido Bergoglio, oro para Jesus Cristo, o Senhor da Igreja, fazer profícuo teu ministério e que mantenhas a eclesia sempre chamada e atraída pela cruz.
Fraternalmente em Cristo
SOLI DEO GLORIA

Jabes Nogueira Filho
Pastor e escrevinhador