terça-feira, 30 de outubro de 2012

DA RADICALIDADE


Antes de prosseguir na abordagem do Sermão da Montanha como projeto de discipulado radical apresentado por Jesus, deixe-me fazer uma outra leitura:
Jesus certa vez disse que quem com ele não ajunta, espalha; quem não estivesse com ele estaria contra (está em Mt 12:30).  Aqui é expressa uma demonstração da radicalidade pretendida por Jesus para os seus seguidores.
Palavras como estas me fazem compreender que seguir a Jesus exige de cada discípulo um compromisso de exclusividade.  Ele não admite que se achegue ao Reino com um espírito dividido.  Seguir a Jesus é algo que não pode ser repartido com mais ninguém, e mais que isto, não pode se ter meias intenções.  Ou se está com Cristo e se tem tudo, ou não se está com Cristo e não se tem nada.  O quase ou o mais ou menos não existe na relação de compromisso com Jesus. 
Aproveito para fazer uma citação do livro “O Discípulo” de Juan Carlos Ortiz, ela ilustra bem o conceito de radicalidade expressa do discipulado requerido por Jesus.
Talvez alguns preferissem que não fôssemos tão incisivos.  Eles pensam que existem três caminhos, e não dois, e vivem por esta ideia.  Para eles, haveria o caminho largo, que é para os pecadores destinados ao inferno.  O caminho estreito seria para pastores e missionários.  E este terceiro caminho – que não é nem muito largo nem muito estreito, uma estrada mediana – seria para o restante dos crentes.  Naturalmente, tal hipótese não se acha nos livros de doutrina, mas no livro das realidades, que é onde as pessoas vivem.
Este caminho mediano é uma invenção humana.  A verdade é que ou nós estamos no reino das trevas fazendo o que é de nossa vontade, ou estamos no Reino de Deus fazendo a vontade dele.  Não existe uma situação intermediária. (...).
Então como é que uma pessoa pode mudar sua cidadania do reino das trevas para o Reino de Deus?
Jesus deu a solução.  Sua morte na cruz e sua ressurreição significam isto: qualquer escravo que olhar para a cruz tem a permissão para considerar a morte dele como sua morte.  Assim o escravo morre e Satanás perde o seu controle sobre ele.
Depois vem a ressurreição.  Por ela somos transportados para o novo reino.  Este fator é tão importante quanto a cruz.  Morremos para um soberano e renascemos sob o domínio de outro.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

DA ESSÊNCIA DA LEI




Tendo apresentado os seus discípulos, que são bem-aventurados, sendo sal e luz, Jesus estabelece critérios para a Lei.  “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumprir” (Mt 5:17).  A Lei foi dada por Deus para o benefício dos seres humanos.  Jesus bem sabe disto e cuida em afirmar que com ele a Lei não está ultrapassada, mas deve, sim, ser levada a sua essência radical.
Observe comigo o que Jesus diz sobre a Lei.  Em primeiro lugar que nada do que foi escrito haverá de passar.  Até as pequenas instruções ainda têm o seu devido valor.  Podem passar os céus e a terra, mas as Palavras do Senhor são infalíveis.  Tudo o que foi prometido ainda pode ser esperado e tudo o que foi ordenado ainda deve ser cumprido.
Sendo assim, Jesus afirma que qualquer que violar um dos mandamentos será considerado menor no Reino de Deus e o que os cumprir será maior.  A entrada no Reino de Deus se dá exclusivamente pela graça de Cristo, mas dentro dele, sou avaliado na medida em que me torno capaz de cumprir e fazer reais os ditames da Lei divina em minha vida.
Aqui o Mestre expressa toda a radicalidade do seu discipulado.  Seguir o Reino não é viver num playground de uma “graça barata” (é séria esta crítica feita pelo alemão D. Bonhoeffer).  É estar voluntariamente disposto a negar-se a si mesmo em prol da cruz (o tema é retomado em Mt 16:24).
E Jesus conclui: “... se a justiça de vocês não for muito superior...” (Mt 5:20).  O discípulo radical que cumpre a Lei de Deus tem que demonstrar na vida prática que sua conduta e justiça são muito superiores à daqueles que estão ao seu redor.  A vida do discípulo de Cristo é um exercício diário da prática do bem e da justiça divina na vida, superando em tudo a do mundo em que se vive.
Devo agradecer a Deus por ele ter me dado a Lei para meu proveito – uma Lei que não passará!  Contudo vou também suplicar que Deus me faça radical em cumprir a Lei integralmente em minha vida, fazendo-me melhor e mais justo que o mundo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

ZAQUEU OUVIU JESUS


No Evangelho de Lucas eu leio: Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: “Zaqueu, desça depressa.  Quero ficar em sua casa hoje”.  Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria (Lc 19:5-6).
Um dos episódios mais conhecidos na vida de Jesus foi seu encontro com Zaqueu.  Os detalhes da história são bem familiares, mas aqui gostaria de ressaltar em poucas palavras apenas uma parte da fala do próprio Cristo para aquele homem: Desça depressa (no verso cinco citado).
Na história Jesus se prontificou a cear na casa de Zaqueu, com ele e a sua família, para isso requeria de Zaqueu que tivesse pressa em descer da árvore em que tinha subido para vê-lo passar.  Jesus hoje ainda se prontifica estar em minha vida e em minha casa para cear comigo e com minha família.  Mas ainda hoje também é preciso que eu desça de árvores para que possa seguir a Jesus – e isto com pressa!  A bênção de Deus é para já e preciso compreender este apelo de urgência.
Lá, Zaqueu compreendeu que não poderia deixar passar a oportunidade de cear com Jesus.  Soube ter o necessário senso de urgência da convocação do Mestre e desceu bem depressa para seguir Jesus.  E o texto conclui dizendo que houve salvação naquela casa (confira no verso nove do mesmo capítulo do Evangelho).
Hoje, também saberei compreender a urgência exigida por Jesus e ter pressa em segui-lo?

terça-feira, 16 de outubro de 2012

DA LUZ DO MUNDO




Vocês são o sal da terra...” Vimos que os discípulos de Jesus são em sua essência o sal que conserva e dá sabor a esta terra.  Agora desponta a oportunidade de observar outra característica essencial do discípulo de Cristo: “Vocês são a luz...” (Mt 5:14).  Jesus, que se apresenta como a Luz (confirme lemos em Jo 8:12 e 9:5), afirma que seus seguidores são como ele: a luz do mundo!
Quanto à luz, pelo menos três verdades posso extrair deste conceito. Primeiro: a luz não pode ser escondida.  “Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte” (Mt 5:14).  O discípulo, sendo luz, é sempre visto em tudo o que faz, não pode esconder sua essência brilhante.  É impossível viver neste mundo sem ser notado.
Segundo: a luz não brilha para si mesma.  “E também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha, coloca-a num lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa” (Mt 5:15).  O discípulo de Cristo não brilha para ser visto, mas para que a luz possa alcançar todos os cantos deste mundo e a verdade do Reino de Deus possa ser contemplada.
E terceiro: a luz finalmente glorifica ao Pai.  “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras, e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5:16).  A luz dos discípulos de Cristo deve brilhar de modo que este mundo possa observar as boas ações do Reino e, vendo, possam glorificar ao Pai.  Jesus diz que o seu discípulo, por que é luz, tem que fazer o Reino de Deus ser visto, a fazendo assim, possa gerar mais adoradores do Senhor.
Tendo certeza de ser convocado a um discipulado radical, que eu faça a minha luz brilhar diante deste mundo e glorifique a Deus.

(Na imagem lá em cima, aproveitando o ensejo do tema, a reprodução do cartaz da Campanha Missionária 2012 da Junta de Missões Nacionais da CBB)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

DO SAL DA TERRA



Tendo apresentado aqueles que são chamados às Bem Aventuranças do discipulado, Jesus usa de duas figuras para expressar a radicalidade do discipulado que ele requer: vocês são o sal... e vocês são a luz... (Mt 5:13 e 14).  São estas figuras que irão caracterizar seus discípulos e, a partir destes, a igreja.
O uso de figuras por Jesus é algo que sempre chama a atenção: são ricas em detalhes, belezas e principalmente significados (elas merecem um estudo à parte!).
Venha comigo ao texto. É bom notar desde já que Jesus não disse que o sal e a luz estariam com os discípulos, ou que eles deveria escolher viver desta ou daquela maneira.  Não há dúvida: vocês são.  Jesus está afirmando que ser discípulo é ser sal e ser luz; não sendo isto, não se é discípulo de Cristo.  Mas, vamos entender um pouco a ilustração.
O discípulo é sal – é a sua essência.  O sal é usado para preservar e conservar e também para dar sabor aos alimentos.  Um discípulo que é sal da terra, para que cumpra a sua essência, precisa preservar e conservar este mundo que jaz no maligno (esta expressão é de 1Jo 5:19).  O mundo está se deteriorando por causa da podridão do pecado, mas precisa ser preservado porque ele é o palco onde atua o amor e a justiça divina. 
O sal também é tempero – dá sabor!  Os alimentos precisam de sal para serem gostosos.  Assim deve ser a vivência do cristão-discípulo no mundo.  É preciso temperar, dar sabor, mesmo que seja no vale da sombra da morte (o conhecido Sl 23:4) ou num vale de ossos secos (aqui cito Ez 37), faz parte da minha natureza de ser, como discípulo, tornar a vida na terra mais agradável, mas saborosa (particularmente penso que esta é a dimensão mais forte no ensino do Mestre!).
Mas, e se o sal perder o seu sabor?  Se o cristão não for radical em seu discipulado e negar a sua essência salgada?  Então para nada vai prestar.  Para Jesus, ou se é um discípulo que como sal conserva e dá sabor, ou se é descartado e pisado.  Não há vida de discípulo insosso. 
Se a essência de discipulado é ser sal da terra, então que eu passe a vivê-la radicalmente.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A CEIA E A CRUZ


Quando a igreja celebra a Ceia do Senhor, a referência direta é sempre à cruz de Cristo e aos elementos que dela advêm.  Assim, ao celebrarmos hoje devemos trazer em memorial os eventos do Calvário e seus significados.  Vejamos pelos menos dois deles:
A cruz é lugar de humilhação.  Paulo nos fala que Cristo “esvaziou-se a si mesmo até a morte (...) e morte de cruz” (leia em Fl 2:8).  Na cruz está a mais completa humilhação e vergonha a que um ser humano podia se expor.  Jesus Cristo suportou levar às últimas consequências a sua humilhação e esvaziamento para lá do meio de todo o seu nada poder resgatar o ser humano que se aviltou pelo pecado.  A cruz demonstra a vergonha de uma vida sem Deus, sujeita a toda a sorte de abandono.  Assim, na humilhação da cruz está a nossa glorificação.
Outro elemento presente na cruz é a maldição. Em Dt 21:23 a Lei de Deus afirma que “aquele que é pendurado no madeiro é maldito de Deus”.  Isso nos faz reconhecer que ao decidir ir à cruz, Jesus se fez maldito em nosso lugar.  A cruz era lugar de maldição, símbolo da rejeição completa da parte de Deus.  É por isto que Deus abandona o crucificado.  Toda a ira e julgamento de Deus recaem sobre aquele madeiro sem mácula para que nós não precisássemos suportar todo aquele desprezo.  Então, na maldição da cruz está a nossa bênção.
É com este memorial que hoje nos colocamos diante dos elementos da Ceia do Senhor.  Hoje temos vida, santificação e bênção somente porque nos foi outorgado pela cruz de Cristo.  Louvemo-lo por isso.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

DAS BEM-AVENTURANÇAS


 “Vendo as multidões...” Assim Mateus começa a narrar as lições do Sermão da Montanha (confira Mt 5:1).  Tudo começa com um olhar de Jesus.  A palavra grega que Mateus usa nesta passagem significa mais que passar a vista em algo ou alguém.  Mateus diz que Jesus olhou as multidões e isto lhe tocou profundamente, incomodou e impulsionou a fazer algo.  É este fazer que gera o Sermão da Montanha que agora estudamos.
O Sermão abre-se com as declarações das Bem-Aventuranças.  Cada sentença em si é poética, bela e rica.  Mas deixe-me destacar aqui de modo geral duas observações.  Estas Bem-Aventuranças não estão colocadas aqui por acaso.  Mateus sabe que Jesus começa seu discurso identificando seu público alvo: os bem-aventurados, felizes; aqueles dos quais é o Reino, os que herdarão a terra, os que verão a Deus.  É para estes que Jesus irá propor todos os ensinamentos que virão a seguir, nos próximos capítulos.
Importante também é notar como Jesus os qualifica.  Para o Mestre estes que inicialmente são carentes e estão marginalizados por serem humildes, chorarem, terem fome e sede, serem perseguidos são realmente felizes por agora estarem sob o domínio do Reino de Deus – um Reino que é “escândalo para os judeus, e loucura para os gregos” (vá a 1Co 1:23).  Os valores do Reino pregado por Jesus no Sermão da Montanha não são deste mundo, logo estão abertos àqueles que, com uma recusa radical, voltam-se para o vindouro.
Então Jesus conclui esta sua introdução: “Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (Mt 5:12).  Não poderia ser diferente!
Para ser discípulos radicais é necessário abandonar este mundo com seus valores crueis e voltar-se para o Reino do Deus.  Que o Mestre me faça assim.