O evangelista João termina a
narração do milagre da primeira multiplicação de pães observando que, depois de
todos receberem o suficiente para comer e ficarem saciados, Jesus disse aos
seus discípulos: "Ajuntem os pedaços que sobraram. Que nada seja desperdiçado" (em Jo 6:12).
A experiência do milagre é sempre surpreendente:
cinco pães de cevada e dois peixes pequenos alimentarem uma verdadeira multidão
não se vê todo dia! Tal fato por si só nos
fala do poder e cuidado de Jesus. Mas o núcleo
miraculoso do episódio não deve impedir de prestar a atenção devida aos
contornos da narração; eles estão no texto sagrado e com certeza também podem
trazer lições importantes.
Assim é que quero me deter um
pouco no por que Jesus ter atenção em que seus discípulos recolhessem a sobra
do milagre. Nesta reflexão procurarei
apontar pelo menos três razões pelas quais, depois de ter vivenciado o milagre,
devo ainda me ocupar com o que restou daquilo que Deus faz por mim.
Até a sobra do milagre que acontece
comigo é importante porque tudo o que me vem como resultado da ação direta de
Deus em minha vida tem muito valor. O
Senhor é grandioso e majestoso, logo toda vez ao dele me toca – mesmo que seja
apenas uma fagulha – é de valor inestimável.
Ou seja, mesmo parecendo apenas sobra ou resto de algo, mais ainda assim
o seu valor intrínseco vale o cuidado.
Sobre isso é preciso lembrar que o
próprio Cristo asseverou que se até pais humanos com inclinações más são
capazes de dar boas dádivas aos seus filhos, quanto mais o Pai Celestial também
não galardoa seus filhos com boas dádivas (leia em Mt 7:11).
Outra razão a se considerar a
cerca do cuidado requerido pela sobra do milagre é por que tudo o que Deus me
dá a mais – e ele sempre dá além do que pedimos ou pensamos (considere Ef 3:20)
– não pode ser desperdiçado, pois ainda serve para abençoar outros.
Em relação a este ponto
específico, deixe-me ir numa pequena digressão.
Em nenhum lugar o texto sagrado dá margem a que o cristão tenha uma vida
de opulência, ostentação ou regalias.
Pelo contrário, a indicação é sempre ter como meta a vida simples, mesmo
que diante da experiência de ter todas as necessidades supridas (como exemplo
veja Mt 6:25-27).
Voltando à sobra do milagre e a
importância de ajuntá-la. A sobra da bênção
e do milagre é importante porque ela sempre se configura em minha vida como uma
oportunidade de serviço. Em outras
palavras: depois de saciado com aquilo que Deus me concedeu então devo
trabalhar para que a abundância do favor divino não seja descartada, mas ainda
possa continuar abençoando a outros.
É como se Jesus estivesse me
dizendo que depois de ter me servido do milagre devo juntar o que sobrou, fazer
alguma coisa. O milagre só ele faz, mas os
resultados, ou desdobramentos, deste tenho que cuidar conforme minha capacidade
de administração (o sábio já falava sobre isso em Ec 9:10).
Ainda hoje Deus tem feito milagres
em minha vida – isso é inconteste. Ele
tem derramado bênçãos sem conta, e como elas têm sobrado! É por isso que a instrução do Mestre de dar a
atenção devida às sobras do milagre é também ainda pertinente, para que nada se
perca daquilo de valor que Deus tem me dado abundantemente. Que eu continue trabalhando para encher
cestos dos pedaços que sobram do milagre em minha vida.