terça-feira, 12 de dezembro de 2023

A IMPUREZA DO FLUXO DE SANGUE

 

Tenho pensado em suas colocações e elas merecem algumas considerações.  Mas, antes, deixe-me dizer algo:  como não ouvi toda a pregação, não estou em condições de opinar sobre todo o contexto.  Então vamos dar atenção apenas a sua questão em particular.

 

Pelo que entendi, a pregação versou sobre o episódio do encontro de Jesus com a mulher do fluxo de sangue, narrado em Mc 5:24-34.  E fez um paralelo com a Lei antiga que trata das secreções corporais.

A passagem que trata especificamente das secreções corporais é o capítulo 15 do Livro de Levítico. 

O texto apresenta as situações das emissões normais e anormais de homens e mulheres – sêmen, menstruação, corrimentos, sangue, entre outros.  Pelas normas da Lei qualquer pessoa que emitisse secreções ficaria “cerimonialmente impura” (Lv 15:2).  Também aponta os rituais necessários para as devidas purificações.

Sobre o caso da mulher que tocou nas vestes de Jesus (lá na narrativa do Evangelho), seria o caso de fluxos anormais – o que estaria explícito na Lei a partir de Lv 15:25-30. 

Aqui chegamos à questão que você me apontou: “ela era imunda e que, se fosse casada, provavelmente seria separada do marido. Após a cura ela poderia casar novamente? Com o marido ou com outro?

 

E vamos separar as questões para responder por parte:

 

#1° – ela estava sim cerimonialmente impura.  Na Lei havia distinção entre a vida civil e as delimitações rituais religiosas, mas em gerais tais restrições se confundiam e as pessoas que se tornassem impuras para as cerimônias religiosas também eram consideradas imundas para a vida comum.  Então esse seria o caso da mulher.

#2° – não há referência para a situação de casamento da mulher.  Então vamos olhar somente para as prescrições da Lei.  Todas as restrições descritas no texto do Levítico não fazem distinções sobre o impuro ser solteiro ou casado.  É dito apenas que se de um homem ou de uma mulher sair qualquer fluido, ele (ou ela) ficará impuro e excluído da vida religiosa e social.  Isso valeria para todos.

#3° – as regras de impureza não implicariam em se desfazer do casamento.  Apenas que seja evitado qualquer toque – inclusive sexual.  Ou seja, a situação de corrimento, ou fluxo anormal, não seria indicativo para anulação de casamento ou divórcio.  Assim, a pessoa – no caso, a mulher – que estivesse casada ao identificar o fluxo anormal, manteria seu casamento e, nesse caso, tanto o homem quanto a mulher deveriam manter seus compromissos familiares, evitando apenas o contato físico.

#4° – após o fluxo anormal cessar, algumas regras cerimoniais e sanitárias deveriam ser cumpridas e então a pessoa poderia voltar a vida normal: se casado, voltaria para sua vida familiar retomando o direito ao toque e a intimidade – uma vez que o impedimento já não existia.

 

No caso do milagre acontecido após o toque da mulher no manto de Jesus, a saúde da mulher foi restaurada de maneira completa, tornando-a pura e prontamente apta para voltar a sua própria vida sem impedimento ritual nenhum.

 

Vá em paz.  Volte para sua vida, toque, abrace, viva, desfrute sua intimidade! Seu sofrimento acabou. (Mc 5:34)

 

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