Tenho pensado em suas colocações e elas merecem
algumas considerações. Mas, antes,
deixe-me dizer algo: como não ouvi toda
a pregação, não estou em condições de opinar sobre todo o contexto. Então vamos dar atenção apenas a sua questão
em particular.
Pelo que entendi, a pregação versou sobre o
episódio do encontro de Jesus com a mulher do fluxo de sangue, narrado em Mc
5:24-34. E fez um paralelo com a Lei antiga
que trata das secreções corporais.
A passagem que trata especificamente das secreções
corporais é o capítulo 15 do Livro de Levítico.
O texto apresenta as situações das emissões
normais e anormais de homens e mulheres – sêmen, menstruação, corrimentos,
sangue, entre outros. Pelas normas da
Lei qualquer pessoa que emitisse secreções ficaria “cerimonialmente impura”
(Lv 15:2). Também aponta os rituais
necessários para as devidas purificações.
Sobre o caso da mulher que tocou nas vestes de
Jesus (lá na narrativa do Evangelho), seria o caso de fluxos anormais – o que
estaria explícito na Lei a partir de Lv 15:25-30.
Aqui chegamos à questão que você me apontou: “ela
era imunda e que, se fosse casada, provavelmente seria separada do marido. Após
a cura ela poderia casar novamente? Com o marido ou com outro?”
E vamos separar as questões para responder por
parte:
#1° – ela estava sim cerimonialmente impura. Na Lei havia distinção entre a vida civil e
as delimitações rituais religiosas, mas em gerais tais restrições se confundiam
e as pessoas que se tornassem impuras para as cerimônias religiosas
também eram consideradas imundas para a vida comum. Então esse seria o caso da mulher.
#2° – não há referência para a situação de
casamento da mulher. Então vamos olhar
somente para as prescrições da Lei.
Todas as restrições descritas no texto do Levítico não fazem distinções
sobre o impuro ser solteiro ou casado. É
dito apenas que se de um homem ou de uma mulher sair qualquer fluido, ele (ou
ela) ficará impuro e excluído da vida religiosa e social. Isso valeria para todos.
#3° – as regras de impureza não implicariam em se
desfazer do casamento. Apenas que seja
evitado qualquer toque – inclusive sexual.
Ou seja, a situação de corrimento, ou fluxo anormal, não seria
indicativo para anulação de casamento ou divórcio. Assim, a pessoa – no caso, a mulher – que estivesse
casada ao identificar o fluxo anormal, manteria seu casamento e, nesse caso,
tanto o homem quanto a mulher deveriam manter seus compromissos familiares,
evitando apenas o contato físico.
#4° – após o fluxo anormal cessar, algumas regras
cerimoniais e sanitárias deveriam ser cumpridas e então a pessoa poderia voltar
a vida normal: se casado, voltaria para sua vida familiar retomando o direito
ao toque e a intimidade – uma vez que o impedimento já não existia.
No caso do milagre acontecido após o toque da
mulher no manto de Jesus, a saúde da mulher foi restaurada de maneira completa,
tornando-a pura e prontamente apta para voltar a sua própria vida sem
impedimento ritual nenhum.
— Vá em paz.
Volte para sua vida, toque, abrace, viva, desfrute sua intimidade! Seu
sofrimento acabou. (Mc 5:34)
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