Conclusão
das considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.
O
último aspecto da missão da igreja é a celebração e neste ponto
nossos olhos são postos numa leitura do texto de Apocalipse. Vale
ressaltar a princípio que esta leitura não é “um plano do
futuro. Nem sequer é um esboço das etapas da história. É mais
uma celebração e uma interpretação da fé cristã na encruzilhada
da história” (p. 141). Ou seja, segundo Costas, o livro de
Apocalipse, ao contrário de outros contemporâneos do mesmo estilo,
tem uma visão triunfante do Deus como Senhor da história sobre
todos os impérios da terra e por isto pode centralizar sua ótica na
celebração de Deus e de suas ações. Apocalipse é um livro que
desafia à missão e a celebração da igreja.
Esta
celebração é primeiramente contextual, dar-se diante do trono de
Deus, onde “não há outro lugar de onde possamos obter uma visão
tão ampla e completa das complexidades da história humana” (p.
143). É neste contexto que a igreja pode celebrar a vitória
triunfal de Deus. Mas a celebração é também comunitária: além
dos personagens celestes, “toda raça, língua, povo e nação”
(Ap. 5:9) está diante do trono unindo-se na celebração.
Finalmente
a celebração deve ser encarada como parte significativa do
compromisso e da missão da igreja porque: Deus tem o controle da
história; a missão é um processo global e dinâmico; o culto está
intrinsecamente relacionado com a ação de Deus na história e a
conversão das nações ao Deus trino e uno e o Deus que o Senhor da
história é o Deus da cruz.
Costas
conclui:
A missão
é portanto uma causa para celebração. Em vista do que se trata,
devemos celebrá-la com humildade, com gratidão e com confiança (p.
153).
Numa
visão geral a obra de Orlando Costas é singular por abordar a
missão da igreja sob uma ótica protestante latino-americana;
bibliografia tão carente entre nós. Mas também seu valor recai em
ser uma obra objetiva, direta, contudo profundamente teológica e
prática, como se requer da reflexão cristã. O texto mostra-se bem
circunscrito dentro do ambiente cristão que o fez nascer e alimentou
sua reflexão e, talvez por isto mesmo, serve perfeitamente como
instrumento fomentador do fazer teológico. Contudo vale lembrar que
o universo cristão latino-americano não é, em hipótese alguma, um
universo uniforme, logo esta variedade não pode ser representada de
maneira unívoca em qualquer obra; mas a obra de Costas também
mantém este mérito de mesmo focando seus olhos no seu ambiente
próprio, propõe uma missiologia que pode ser lida e reinterpretada
em qualquer ponto onde o cristianismo se faça presente – mesmo nos
rincões distintos da América Latina.
Há
um aspecto porém que poderia ser acrescentado. Enquanto que no
primeiro capítulo o texto procurou abrir a discussão com uma visão
histórica da missão na América Latina – e o faz acertadamente –
a conclusão poderia acrescentar uma observação sobre como a igreja
hoje tem encarado os diversos aspectos da missão e seu compromisso
em relação a cada um deles, propondo alternativas para que a igreja
se mantenha centralizada na sua missão.
A
pergunta seria: tem a igreja hoje na América Latina comprido
fielmente com o compromisso da missão diante deste mundo de
incerteza em que vivemos? Parece-nos que embora haja pontos de
acertos na vida da igreja, hoje a igreja latino-americana ainda
precisa enfatizar alguns aspectos da missão. Quanto a isto só nos
resta acreditar que também em relação ao cumprimento da missão
cristã em terras latino-americanas: “porque Deus é o que opera em
vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fl
2:13).
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