terça-feira, 5 de junho de 2018

A MISSÃO COMO CELEBRAÇÃO


Conclusão das considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

O último aspecto da missão da igreja é a celebração e neste ponto nossos olhos são postos numa leitura do texto de Apocalipse. Vale ressaltar a princípio que esta leitura não é “um plano do futuro. Nem sequer é um esboço das etapas da história. É mais uma celebração e uma interpretação da fé cristã na encruzilhada da história” (p. 141). Ou seja, segundo Costas, o livro de Apocalipse, ao contrário de outros contemporâneos do mesmo estilo, tem uma visão triunfante do Deus como Senhor da história sobre todos os impérios da terra e por isto pode centralizar sua ótica na celebração de Deus e de suas ações. Apocalipse é um livro que desafia à missão e a celebração da igreja.
Esta celebração é primeiramente contextual, dar-se diante do trono de Deus, onde “não há outro lugar de onde possamos obter uma visão tão ampla e completa das complexidades da história humana” (p. 143). É neste contexto que a igreja pode celebrar a vitória triunfal de Deus. Mas a celebração é também comunitária: além dos personagens celestes, “toda raça, língua, povo e nação” (Ap. 5:9) está diante do trono unindo-se na celebração.
Finalmente a celebração deve ser encarada como parte significativa do compromisso e da missão da igreja porque: Deus tem o controle da história; a missão é um processo global e dinâmico; o culto está intrinsecamente relacionado com a ação de Deus na história e a conversão das nações ao Deus trino e uno e o Deus que o Senhor da história é o Deus da cruz.
Costas conclui:
A missão é portanto uma causa para celebração. Em vista do que se trata, devemos celebrá-la com humildade, com gratidão e com confiança (p. 153).
Numa visão geral a obra de Orlando Costas é singular por abordar a missão da igreja sob uma ótica protestante latino-americana; bibliografia tão carente entre nós. Mas também seu valor recai em ser uma obra objetiva, direta, contudo profundamente teológica e prática, como se requer da reflexão cristã. O texto mostra-se bem circunscrito dentro do ambiente cristão que o fez nascer e alimentou sua reflexão e, talvez por isto mesmo, serve perfeitamente como instrumento fomentador do fazer teológico. Contudo vale lembrar que o universo cristão latino-americano não é, em hipótese alguma, um universo uniforme, logo esta variedade não pode ser representada de maneira unívoca em qualquer obra; mas a obra de Costas também mantém este mérito de mesmo focando seus olhos no seu ambiente próprio, propõe uma missiologia que pode ser lida e reinterpretada em qualquer ponto onde o cristianismo se faça presente – mesmo nos rincões distintos da América Latina.
Há um aspecto porém que poderia ser acrescentado. Enquanto que no primeiro capítulo o texto procurou abrir a discussão com uma visão histórica da missão na América Latina – e o faz acertadamente – a conclusão poderia acrescentar uma observação sobre como a igreja hoje tem encarado os diversos aspectos da missão e seu compromisso em relação a cada um deles, propondo alternativas para que a igreja se mantenha centralizada na sua missão.
A pergunta seria: tem a igreja hoje na América Latina comprido fielmente com o compromisso da missão diante deste mundo de incerteza em que vivemos? Parece-nos que embora haja pontos de acertos na vida da igreja, hoje a igreja latino-americana ainda precisa enfatizar alguns aspectos da missão. Quanto a isto só nos resta acreditar que também em relação ao cumprimento da missão cristã em terras latino-americanas: “porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fl 2:13).


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