Os
Salmos 42 e 43 formam um conjunto poético unificado escrito pelos filhos de
Coré – ou coraítas – que era um grupo de levitas de Jerusalém, os quais foram
nomeados por Davi para cuidarem das portas do Templo (1Cr 26) e com frequência
estavam ligados à prática do louvor (2Cr 20:19).
Demonstrando
um abatimento profundo e um estado de espírito decaído, estes salmos apresentam
a inquietação pelo distanciamento de Deus e consequente sucessão de sofrimento
espiritual:
Abismo chama abismo
ao rugir das suas cachoeiras;
todas as suas ondas e vagalhões
se abateram sobre mim.
(Sl 42:7)
ao rugir das suas cachoeiras;
todas as suas ondas e vagalhões
se abateram sobre mim.
(Sl 42:7)
Analisemos
o poema do Salmo a fim de que soe para nós com mais propriedade o
questionamento levantado ao salmista.
O Salmo
42 começa enfatizando que a alma do poeta bíblico anseia por Deus como a corça
pelas águas. A corça, ou cervo, é um
animal de hábitos solitários que se alimenta de ervas, geralmente apenas no
nascente e no pôr-do-sol. Por estas
características, a corça sempre foi um animal preferido para a caça tanto
humana como de outros animais predadores.
Assim, a sobrevivência dele estava diretamente relacionada a sua
capacidade de encontrar um abrigo seguro com água fresca onde podesse se
defender de seus perseguidores.
É a
esta busca que o salmista se compara: assim como a corça anseia por águas
correntes, a minha alma tem sede de Deus (Sl 42:1-2). Sabendo que seus predadores estão à espreita
como homens traidores e perversos (Sl 43:1) o salmista exclama que tem necessidade
de encontrar Deus pois sabe que ele é meu salvador e o meu Deus (Sl 42:11 e
43:5).
Alguns
outros destaques ainda podem ser notados no poema que nos ajudam a entender a
dor do salmista. Diante da solidão e da
necessidade de se reencontrar com um Deus que é abrigo seguro (Sl 31:20) e água
que dessedenta (Sl 107:9), o autor do Salmo insiste em trazer à lembrança os tempos
em que junto com a multidão de fiéis ia em procissão à casa de Deus (Sl 42:4);
parece que neste momento é só o que lhe resta!
O
salmista sabe que quando a vida resseca a alma é preciso não perder de vista o
foco nem a lembrança dos tempos na presença do Senhor para não perder também a
esperança nem a certeza de que somente no abrigo divino se haverá de encontrar
o refúgio necessário e água viva (Jo 7:38).
Mas a
espera parece estar sendo longa demais:
Quando poderei entrar
para apresentar-me a Deus?
(Sl 42:2)
para apresentar-me a Deus?
(Sl 42:2)
É neste
contexto que o questionamento feito ao salmista lhe soa mais incisivo e duro: “Onde está o seu Deus?” (Sl 42:3 e 10). Sentindo carência de Deus e procurando consolo
e abrigo num Ser que lhe parece tão distante, tudo o que resta nesta vida é experimentar
uma agonia mortal (Sl 42:10) provocada pela zombaria dos seus adversários e se
nutrir das próprias lágrimas (Sl 42:3) na tentativa desesperada de encontrar
respostas.
E o
pior é que nem em seu próprio íntimo o salmista encontra refúgio. Se os outros lhe questionam sobre onde está o
Deus que não acode os seus, quando estes estão sendo perseguidos; a alma do
salmista é tomada de uma profunda tristeza, melancolia e desespero:
Por que você está tão triste,
ó minha alma?
Por que você está tão perturbada
dentro de mim?
(Sl 42:5 e 43:5)
ó minha alma?
Por que você está tão perturbada
dentro de mim?
(Sl 42:5 e 43:5)
Talvez
mais difícil que não ter resposta àqueles que são seus inquisidores é sentir o
ânimo fraquejar diante da solidão divina.
O salmista sabe que mais aterrador que a pergunta feita pelo mundo sobre
seu Deus é o vazio interior, e com a alma sedenta ele exclama:
Como água me derramei,
e todos os meus ossos estão
desconjuntados.
Meu coração se tornou cera;
derreteu-se no meu íntimo.
(Sl 22:14)
e todos os meus ossos estão
desconjuntados.
Meu coração se tornou cera;
derreteu-se no meu íntimo.
(Sl 22:14)
Diante
desta situação o salmista sabe que lhe resta uma saída: voltar-se para seu Deus
e dele esperar uma solução para o seu caso.
Esta postura vai, contudo exigir duas atitudes: em primeiro lugar é
preciso elevar uma súplica sincera pedindo pelo auxílio divino, afinal o autor
bíblico sabe que não há problema espiritual que a companhia do Senhor não
resolva:
Conceda-me o SENHOR o seu fiel amor de dia;
de noite esteja comigo a sua canção.
É a minha oração ao Deus que me dá vida.
(Sl 42:8)
de noite esteja comigo a sua canção.
É a minha oração ao Deus que me dá vida.
(Sl 42:8)
Esta
primeira atitude leva a uma segunda. A
oração ao Deus que dá vida e a canção de adoração ao Senhor do amor fiel produz
uma esperança inabalável no interior do seu servo. Somente aquele que consegue esperar confiadamente
nas providências divinas pode ter respostas aos questionamentos dos seus
adversários e as suas dúvidas mais profundas.
A confiança no Senhor produz esperança e esta esperança não nos
decepciona (Rm 5:5). É por isso que o
salmista pode repetir por três vezes com toda convicção:
Ponha a sua esperança em Deus!
Pois ainda o louvarei;
Ele é o meu Salvador e o meu Deus
(Sl 42:5; 42:11 e 43:5)
Pois ainda o louvarei;
Ele é o meu Salvador e o meu Deus
(Sl 42:5; 42:11 e 43:5)
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