A instrução que lemos em At 1:4 é
para os discípulos ficarem em Jerusalém aguardando o cumprimento da promessa. Por esta indicação podemos notar que esta
cidade foi o ponto de partida do movimento cristão após a morte e ressurreição
de Jesus. Ali os seguidores do Mestre
ficaram e a partir daquele ambiente urbano o movimento começou a se expandir.
Para entender melhor o contexto
onde os fatos aconteceram, vejamos um pouco a descrição da cidade de Jerusalém
no primeiro século cristão. Jerusalém, a
fortaleza dos Jebuseus, foi conquistada por Davi no século X a.C. que a
transformou em sua capital (confira em 2Sm 4:6-15). A partir dai, a cidade passou a ser tanto o
principal centro político como cultural e religioso da nação – e o foi por muitos
anos, inclusive na época do NT.
No século I, a cidade possuía
cerca de 50 mil habitantes fixos (podendo quadruplicar nas festas regulares) e,
economicamente, sua população podia ser dividida em dois grupos: uma minoria
que vivia do serviço estatal e religioso: governantes, funcionários e legiões
estrangeiras ali estabelecidos e o clero em geral; e a maioria empobrecida.
Enquanto os primeiros viviam
regaladamente em casas com relativo conforto, o povo humilde se amontoava em
casas em geral de madeira, barro ou palha sem nenhuma infra-estrutura
sanitária.
A base da alimentação era o pão,
feito a partir da farinha de trigo ou cevada, mas podia conter, entre outras,
misturas de azeite, hortelã, cominho, lentilha, pepino, cebola, mel e canela;
além de leite, queijo e carne principalmente de cabra e ovelha; frutas e vinho.
O mercado público ficava fora das
muralhas e o comércio era baseado em trocas de mercadorias com a população
local ou negócios a dinheiro com os estrangeiros. As principais ocupações masculinas urbanas
eram comerciais e fabris (artesãos) e à mulher cabia apenas a administração
doméstica e a criação de filhos – era indispensável ser mãe.
Politicamente, Jerusalém vivia sob
o domínio romano que a administrava através de um procurador – Pôncio Pilatos
exerceu esta função entre os anos 26 e 36 d.C.
– e de reis vassalos – a dinastia de Herodes – que exercia seu poder
através da força e da truculência do exército romano sempre presente nas ruas
da cidade.
Quanto à vida religiosa na cidade
de Jerusalém, esta era naturalmente dominada pela existência e centralidade do
Templo (reconstruído por Neemias e reformado por Herodes) que, mesmo não tendo
o brilho do original de Salomão ainda exercia seu papel de referência do culto
judeu. Podemos afirmar que tudo em
Jerusalém, de certa forma, tinha a ver com o Templo, sua administração, seu
funcionamento e preservação.
Além do Templo e seu serviço,
alguns grupos religiosos dominavam a cena na cidade: os saduceus ligados
diretamente aos sacerdotes; os fariseus que pregavam uma reforma socialmente
progressista, mas espiritualmente legalista; os essênios de orientação mística
e práticas monásticas; além de grupos pequenos como os zelotes, os nazireus, os
sicários entre outros. É bom citar que
tais grupos competiam entre si pelo controle e primazia da tradição da fé
judaica e aceitação popular.
Foi num ambiente assim que Cristo
foi crucificado, a igreja foi formada e iniciou seu ministério.
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