Depois de um mês da primeira
consulta, volto ao médico trazendo os exames para que ele os veja. Não que tenha uma queixa específica hoje para
relatar, mas há um mês eu estava cheio delas: o ácido úrico tinha se acumulado
nas juntas, as costas (rins? coluna?) me doíam, um mal-estar disperso na
barriga – coisas que a idade vai inventando!
— Já ando beirando o meio século de vida!
Uma crítica pontual – boa
expressão no contexto. A consulta de
retorno está marcada para as sete da manhã, chego pouco antes das oito. E... Serei
o décimo segundo e o médico ainda sequer viu o primeiro.
Então pouco resta a fazer além de
esperar. A ante-sala do consultório está
razoavelmente lotada e assim ficamos. Que
jeito!?
E como estrategicamente trago um tablet na mochila, então resta o consolo
de colocar frases na tela enquanto o tempo vai passando. Reconheço a praticidade da tecnologia, tanto
é que a uso, mas a expressão frases na
tela não tem o mesmo efeito de palavras
no papel! Mas vamos lá.
E os minutos se seguem às dezenas.
Não tenho um esboço ou roteiro
para o texto. Faço-o por fazer. Quem sabe o tempo adianta!
Outra coisa, também possível é
observar meus companheiros de espera. Alguns
conversam timidamente, outros de maneiras mais descontraída. Ninguém fala alto, mas o coletivo dos
sussurros faz naturalmente o volume do zum-zum-zum parecer maior. Há ainda os que cochilam e os que gastam os
dedos nos celulares. Assim é esse tempo.
Como a espera é pela consulta
médica, não é difícil deduzir que cada um nesta ante-sala tenha sua história e
suas queixas...
(Começou a atender)
Voltando: é fácil saber que
aguardando o momento de ser atendido há toda espécie de paciente. Há os que vem por necessidade, os por
urgência, os por rotina e até os por mania mesmo. Há novos e velhos, pobres e mais pobres – ninguém
é rico na fila da saúde!
E mais giros nos ponteiros do
relógio.
A posição sentado vai se tornando
incômoda e as idéias vão vagueando. Hinos
e canções antigas e novas, versos bíblicos, citações, imagens do cotidiano,
política, futebol – tudo pulula. Vale
quase tudo para ocupar a mente: relembrar velhos textos escritos, idealizar
novas produções, e, sei lá mais o quê! Já refiz na cabeça até as linhas de
ônibus de Aracaju!
Acho que devo terminar por aqui
este texto, o tédio é meu e não tenho por que cansar mais ninguém. O problema é que, como não tinha nada
planejado para escrever, também não sei como terminar.
Não tenho nenhuma reflexão
profunda sobre a vida, sobre a fé ou sobre a condição humana. Não me ocorreu nenhuma epifania (muitos menos
uma teofania). Não encontrei soluções
para problemas existenciais ou filosóficos – nem nada parecido. E o pior é que já está me dando fome!
Ah! e a bateria do tablet também já está acabando.
Bem, então por enquanto vou ficar
por aqui... Esperando...
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