Na última sexta-feira (dia 10) a
Orquestra Sinfônica de Sergipe voltou a tocar no templo da Primeira Igreja Batista
de Aracaju. A noite foi maravilhosa. Pessoalmente gosto de ouvir a Orquestra – é
arte legítima, ao vivo, com tudo que isso implica. Só senti que se houvesse mais gente ali para
também ouvi-los teria sido melhor.
Acontece que aquela noite não foi
apenas mais uma noite, e seus antecedentes e contextos merecem destaques, assim
como o repertório e músicos.
Veja que disse: ...voltou a tocar. Sim, é isso mesmo. Não era uma avant-premiere. A Orquestra mantém
a Série Música nas Igrejas e já havia tocado em nosso templo (sobre isso já
falei – leia aqui). E as peças repetiam
a noite anterior no Teatro Atheneu. Mas
a noite da sexta...
Rapidamente: os antecedentes. No final do ano passado, algumas decisões
governamentais aqui em Sergipe quase encerraram as atividades da nossa
Orquestra – o que seria uma lástima. Acompanhei
a seqüência de eventos e decretos tentando entender as políticas palacianas,
mas principalmente torcendo pela manutenção do grupo. Ora, ter alguns irmãos e amigos entre aqueles
diretamente envolvidos na situação não me dá direito a isenção quanto ao tema,
e nem o pretendo.
Mas a Orquestra foi mantida e estreou
a temporada 2015 no Teatro Tobias Barreto.
Estive lá. E notar a casa cheia
foi alentador. Valeu!
Então, na quinta (dia 09), agora
no Atheneu, a Orquestra voltou a tocar. Também
fui assistir (falo já do repertório em si).
Apresentou o Conserto da Série Laranjeiras II e deu toda a impressão – acho
que certeza – que seguirá a temporada normal de apresentações. A chamada: cultura clássica de Sergipe só tem
a ganhar.
Na sexta, a programação deveria
ser a repetição da noite anterior, mas arte ao vivo nunca é cópia, e creio que também
nisso está sua grandeza. Foi bom
assistir novamente e, como disse pessoalmente ao Maestro logo após a apresentação,
se tocassem mais quatro vezes eu ia querer ouvir todas elas.
Agora uma crítica inevitável:
ontem (segunda – dia 13) fui ao site
da Orquestra e infelizmente nada há lá de novo ou que valha a pena. A última notícia é de abril de 2014. Mas há um atenuante: na página do Facebook há atualizações.
Voltemos à noite musical.
Sob a regência do Maestro Daniel
Nery – regente assistente da Orquestra – fomos brindados com uma apresentação
de música de câmara. Sentia falta deste
tipo de música em Aracaju e já havia expressado isso a alguns músicos da
Orquestra. Então me dei a ousadia de pensar
que eles assim o fizeram por minha causa
— E não precisa me dizer que é pretensão, que eu sei!
É bom destacar ainda o tom
didático que o Maestro Daniel deu ao conserto, explicando alguns termos técnicos
e situando na história as peças a serem tocadas. Só abrilhantou a noite.
O local é outro destaque – até
porque justifica o título. Aquele prédio
foi construído para ser santuário cristão, e eu particularmente prezo muito por
isso. Mas abrir suas portas para receber
arte de primeira qualidade só engrandece ao Criador que concede dons ao homens. Sei que a distinção entre música sacra e
profana traz inúmeras querelas, e isso não é de hoje e nem será aqui que
pretendo resolver esta equação. O que creio
piamente é em um Deus se agrada quando os sons alegram os ouvidos de suas
criaturas preferenciais: os seres humanos pelos quais ele morreu.
Bem, o repertório. Tenho que admitir, também com uma elevada
dose de pretensão, escolhido a dedo para me cativar. A noite foi aberta com a Sinfonia nº 29 em lá
maior (K 201) de W.A. Mozart. Uma excelente
demonstração da genialidade do compositor austríaco. Já em seu primeiro movimento é capaz fazer aflorar
sentimentos que nos engrandecem com seres humanos. Grandiosa em cada acorde.
Depois ouvimos, também de Mozart, o
Concerto nº 1 em ré maior para trompa e orquestra (K 412) tendo como solista o Emerson
Melo – também aqui a isenção e objetividade é impossível e nem pretendo. Foi brilhante, mesmo sem ostentação. Que Deus continue abençoando sua arte.
E para fechar a noite, a Suíte nº
03 em ré maior (BWV 1069) de J.S. Bach. O
compositor e a obra se justificam por si mesmos. Mas o destaque fica por conta do segundo movimento,
conhecido como a Ária na Quarta Corda (já o citei em outro texto – leia aqui). Não há muitos adjetivos para descrevê-la: talvez
sublime, magistral, tocante. E ouvi-la
no templo dá à música um tom sacro, mesmo que este não tenha sido o seu propósito
original. É que Deus faz destas coisas!
E se depender de mim, a Orquestra
será sempre bem vinda.
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