terça-feira, 14 de abril de 2015

DE VOLTA À IGREJA

Na última sexta-feira (dia 10) a Orquestra Sinfônica de Sergipe voltou a tocar no templo da Primeira Igreja Batista de Aracaju.  A noite foi maravilhosa.  Pessoalmente gosto de ouvir a Orquestra – é arte legítima, ao vivo, com tudo que isso implica.  Só senti que se houvesse mais gente ali para também ouvi-los teria sido melhor.
Acontece que aquela noite não foi apenas mais uma noite, e seus antecedentes e contextos merecem destaques, assim como o repertório e músicos.
Veja que disse: ...voltou a tocar.  Sim, é isso mesmo.  Não era uma avant-premiere.  A Orquestra mantém a Série Música nas Igrejas e já havia tocado em nosso templo (sobre isso já falei – leia aqui).  E as peças repetiam a noite anterior no Teatro Atheneu.  Mas a noite da sexta...
Rapidamente: os antecedentes.  No final do ano passado, algumas decisões governamentais aqui em Sergipe quase encerraram as atividades da nossa Orquestra – o que seria uma lástima.  Acompanhei a seqüência de eventos e decretos tentando entender as políticas palacianas, mas principalmente torcendo pela manutenção do grupo.  Ora, ter alguns irmãos e amigos entre aqueles diretamente envolvidos na situação não me dá direito a isenção quanto ao tema, e nem o pretendo.
Mas a Orquestra foi mantida e estreou a temporada 2015 no Teatro Tobias Barreto.  Estive lá.  E notar a casa cheia foi alentador.  Valeu!
Então, na quinta (dia 09), agora no Atheneu, a Orquestra voltou a tocar.  Também fui assistir (falo já do repertório em si).  Apresentou o Conserto da Série Laranjeiras II e deu toda a impressão – acho que certeza – que seguirá a temporada normal de apresentações.  A chamada: cultura clássica de Sergipe só tem a ganhar.
Na sexta, a programação deveria ser a repetição da noite anterior, mas arte ao vivo nunca é cópia, e creio que também nisso está sua grandeza.  Foi bom assistir novamente e, como disse pessoalmente ao Maestro logo após a apresentação, se tocassem mais quatro vezes eu ia querer ouvir todas elas.
Agora uma crítica inevitável: ontem (segunda – dia 13) fui ao site da Orquestra e infelizmente nada há lá de novo ou que valha a pena.  A última notícia é de abril de 2014.  Mas há um atenuante: na página do Facebook há atualizações.
Voltemos à noite musical.
Sob a regência do Maestro Daniel Nery – regente assistente da Orquestra – fomos brindados com uma apresentação de música de câmara.  Sentia falta deste tipo de música em Aracaju e já havia expressado isso a alguns músicos da Orquestra.  Então me dei a ousadia de pensar que eles assim o fizeram por minha causa
— E não precisa me dizer que é pretensão, que eu sei!
É bom destacar ainda o tom didático que o Maestro Daniel deu ao conserto, explicando alguns termos técnicos e situando na história as peças a serem tocadas.  Só abrilhantou a noite.
O local é outro destaque – até porque justifica o título.  Aquele prédio foi construído para ser santuário cristão, e eu particularmente prezo muito por isso.  Mas abrir suas portas para receber arte de primeira qualidade só engrandece ao Criador que concede dons ao homens.  Sei que a distinção entre música sacra e profana traz inúmeras querelas, e isso não é de hoje e nem será aqui que pretendo resolver esta equação.  O que creio piamente é em um Deus se agrada quando os sons alegram os ouvidos de suas criaturas preferenciais: os seres humanos pelos quais ele morreu.
Bem, o repertório.  Tenho que admitir, também com uma elevada dose de pretensão, escolhido a dedo para me cativar.  A noite foi aberta com a Sinfonia nº 29 em lá maior (K 201) de W.A. Mozart.  Uma excelente demonstração da genialidade do compositor austríaco.  Já em seu primeiro movimento é capaz fazer aflorar sentimentos que nos engrandecem com seres humanos.  Grandiosa em cada acorde.
Depois ouvimos, também de Mozart, o Concerto nº 1 em ré maior para trompa e orquestra (K 412) tendo como solista o Emerson Melo – também aqui a isenção e objetividade é impossível e nem pretendo.  Foi brilhante, mesmo sem ostentação.  Que Deus continue abençoando sua arte.
E para fechar a noite, a Suíte nº 03 em ré maior (BWV 1069) de J.S. Bach.  O compositor e a obra se justificam por si mesmos.  Mas o destaque fica por conta do segundo movimento, conhecido como a Ária na Quarta Corda (já o citei em outro texto – leia aqui).  Não há muitos adjetivos para descrevê-la: talvez sublime, magistral, tocante.  E ouvi-la no templo dá à música um tom sacro, mesmo que este não tenha sido o seu propósito original.  É que Deus faz destas coisas!
E se depender de mim, a Orquestra será sempre bem vinda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário