Todo
nordestino que se preze sabe que ninguém representou melhor a nossa gente e a
nossa cultura como o pernambucano Luiz Gonzaga (1912 – 1989). Com a sua música – a nossa música – seus trajes,
causos e tradições o filho de Januário expressou o jeito e a alma deste povo de
cá para os de lá como jamais alguém havia feito.
Desde a
seu primeiro instrumental: Vira e mexe
– um chamego gravado em 1941 ainda em 78 RPM; passando por sua mais famosa
música: Asa Branca – feita em
parceira com Humberto Teixeira; até as últimas gravações já em 1989, ele tocou
e cantou o Nordeste brasileiro. Foi
inigualável. Sem dúvida, o Rei do Baião.
Em
forró, xote, baião, xaxado e tal, ele falou das alegrias, tristezas,
esperanças, paixões, fraquezas e forças das terras nordestinas. Se você quiser exemplos, eles não
faltam. Sugiro ouvir Xote das Meninas, Pense n'eu, Forró de Cabo
a Rabo, Respeita Januário, A Triste Partida e por aí vai. É tanta música boa que fica até difícil falar
delas!
Mas o
que me chama a atenção de verdade foi a sua capacidade expressar a fé desse
nosso povo, pois é disso que eu entendo.
E por vezes é no Véio Lua que
eu encontro a sinceridade singela da crença sertaneja. É uma fé e religiosidade nem sempre clara e
desenvolvida, de teologia troncha, com desvios bíblicos acentuados, mas, na
maioria das vezes, piedosa e reverente.
Assim é
que destaco a Súplica Cearense
(gravada originalmente em 1979, mas já hoje com várias versões). Gosto dela até por Luiz Gonzaga ser apenas o
seu intérprete (é de autoria de Gordurinha e Nelinho). Afinal foi isso que ele sempre foi: nosso
intérprete!
O
Nordeste estava vivendo uma incomum inundação.
As chuvas concentradas transformaram o semi-árido. Depois de tanto sofrer com a falta de água,
agora era o seu excesso que atormentava.
Então a prece mudou. Oração
verdadeira tem que ter cheiro de terra para tocar o céu.
Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar
Oh! Deus, será que o Senhor se zangou
E só por isso o sol se arretirou
Fazendo cair toda chuva que há
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar
Oh! Deus, será que o Senhor se zangou
E só por isso o sol se arretirou
Fazendo cair toda chuva que há
E a
súplica continuou confessando a mágoa no coração nordestino pelo sol cruel e a
necessidade de aprender a orar.
Confissão e súplica sempre andam juntas.
Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração
Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração
Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar
É quase
um choro. Os olhos mareados. A alma ressecada. Sinceridade, humildade e piedade mesmo que de
doutrina rala. E eu acho que tocou o
coração de Deus, como sempre ainda toca o meu.
Muito bom, me fez repensar assuntos esquecidos.
ResponderExcluirQue bom querido!
ExcluirAlgumas vezes estão neste assuntos assuntos algumas das preciosidades que o Mestre reserva para nós.
Um abraço
Lindo texto! Refleti outro dia sobre essa canção. Concordo, é desse jeito!!!
ResponderExcluirQue bom que você gostou!
ExcluirQuando quiser refletir sobre canções como esta, compartilhe conosco.
Um abraço
Excelente reflexão! A aproximação crítica entre Evangelho e cultura é interessante e o forró do nordeste é um ótimo ambiente para o diálogo! Abraços, pastor!
ResponderExcluirObrigado querido. Minha súplica é que Deus continue usando nossa cultura nordestina para seu louvor e glória.
ExcluirAbr.