terça-feira, 30 de setembro de 2025

JESUS, A IGREJA E O PLURALISMO RELIGIOSO

 


É importante voltar nossa atenção aos princípios e exemplos que o Mestre Jesus nos deixou e como a primeira comunidade de cristãos se posicionou quanto ao tema do pluralismo religioso.

Jesus afirmou que estabeleceria sua igreja sobre o fundamento da crença de que ele é o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16:16-18).

Ainda respondendo aos líderes religiosos, Jesus reafirmou os dois princípios fundamentais do Reino que ele estava anunciando: o primeiro é amar a Deus e o segundo – semelhante a esse – amar o próximo (Mt 22:36-40); desses princípios haveria de derivar toda a interpretação da sua Palavra e firmar a base doutrinária da igreja.

Na vivência missionária do apóstolo Paulo, porém, observamos com maior clareza como os cristãos primitivos lidaram como pluralismo religioso de seu tempo.  E essa compreensão deve trazer lições para nossa vida hoje.

Em sua segunda viagem missionaria (At 16), Paulo e Silas chegaram à cidade de Filipos e ali encontrou uma jovem que era explorada pela religiosidade de homens que lucravam com as adivinhações dela.  A atitude deles foi libertar a jovem do espírito a afligia.  Eles sabiam que o Cristo que eles anunciavam não pode concordar com a exploração de qualquer forma ou ceder diante da degradação da vida humana.  Porque Jesus ama e morreu por cada ser humano a nossa pregação e diálogo religioso deve trazer vida e dignidade a todos.

Prosseguindo sua viagem, os missionários chegaram a Atenas – a grande e plural cidade grega (At 17).  Ali Paulo observou que o lugar estava cheio de ídolos.  Mas o apóstolo, mesmo indignado com a situação, usou o pluralismo religioso local para apresentar sua mensagem cristã: “Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio” (At 17:23).  Sem negociar seus valores e mensagem, Paulo buscou um diálogo produtivo com aquela manifestação religiosa e afim de que pudesse reafirmar e anunciar sua fé.

E do nosso tempo devemos ouvir as palavras do sul-africano Desmond Tutu “reconhecer que outros credos devem ser respeitados e que obviamente proclamam verdades religiosas profundas, entretanto, não equivale a dizer que todos os credos são iguais.  Está claro que não são iguais”.

(Da Revista DIDASKALIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

 

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

SEXTOU – prá casa!

 


Um Congresso Teológico me levou às Minas Gerais na semana passada.  Então chegou a sexta-feira e era momento de voltar para Aracaju – para casa.

 

Vamos à narrativa: sextou – prá casa!

 

Com o fim da programação na noite anterior, ficamos uns poucos para o último sono.  Boas conversas, bons momentos, restinho de fraternidade.

 

Amanheceu e, antes das seis, uma sinfonia canora me acordou (ah! não entendo de pássaros logo, não os identifiquei – sei que eram distintos!).

E não penso que o Criador os colocou ali somente por minha causa – não tenho essa pretensão.

Mas eles me despertaram e pude começar bem antes do burburinho.  É sempre salutar, antes das liturgias e das agendas, deixar a alma vibrar limpa na frequência do Eterno.

 

Descemos para um derradeiro café matinal mineiro: uma fruta, pão com ovo, um pedaço de bolo, biscoito e café quentinho feito na hora.   Simples, mas digno de um príncipe, pois foi feito na nossa intenção.  E vale mais que gastronomia gourmet.   

Deus abençoe as mãos que prepararam.

 

Pegamos a estrada em direção ao aeroporto.  O dia prometia!

 

Antes que esqueça: o Gerson foi comigo.  Além dos laços de sangue e de profissão, sempre enriquece tê-lo junto no caminho.

 

— Sim.  Em direção ao aeroporto.

 

Talvez até desse para antecipar o voo para fazer sem escalas.   Não deu.   Com as passagens marcadas, a previsão seria o dia todo aqui e ali até chegar em casa.   Assim fomos.

 

Sentamos juntos.  A conversa animada – nada de técnico ou específico: apenas fagulhas de lembranças comuns, observações pontuais dos transeuntes, uma ou outra citação e o mais...

Mas, aos poucos, as palavras vão se escasseando e os temas esparsos.  Então o silêncio chega.  Só que isso não é um problema.  Jamais.

 

Na verdade, não vou lhe definir do que se trata.

— Para certas coisas faltam palavras!

Certamente não seria obrigação, nem networking (assim em inglês fica mais ridículo ainda).

Era só a presença.  Era apenas saber que em qualquer aeroporto ou entroncamento da vida, não estávamos sós.  Estivemos ali.  Não eu e tu: nós.

E consegui me ver pensando que o Eterno se sentou na cadeira da frente, no saguão dos Confins, em silêncio, apenas como se quisesse dizer que ELE, mesmo sendo, gosta de estar.

 

Levantamos para comer, a conversa voltou a jorrar como uma fonte de renovo – ou filete da água.  Não havia secado.  Apenas guardada como tesouro que valia a pena usar no tempo certo para o próprio silêncio se revestir de preciosidade.

Nada de importante: a escolha do prato, uma ou outra citação, um diz aí...

Comemos juntos.

 

— Certas coisas têm preço.  Compartilhar uma fatia de pizza numa mesa de aeroporto tem vida e história.

 

Mais um trecho aéreo e já caia a noite quando, em Aracaju, meu filho nos apanhou na porta do aeroporto.

 

Assim: sextou – prá casa!

 

E agora o fim de semana promete.

 

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

TEMPERANDO A AÇÃO DIVINA

 


No livro TU ÉS DIGNO – uma leitura de Apocalipse – que escrevi e publiquei pela AD Santos Editora em 2021, no contexto do toque das sete trombetas do Apocalipse, eu procurei entender e tempero da ação divina na história.

Leia a citação:

 

Nesta perspectiva, permita-me olhar para o texto como quem olha para a feijoada sendo temperada na panela.  Entendo que um pouco de pimenta é indispensável, mas somente mãos hábeis sabem com maestria acertar-lhe o ponto.  De menos se dilui e se torna imperceptível.  De mais, intragável.  Assim a ira divina tempera a história no ponto certo.  Nem de menos para não ser tida como irrelevante.  Nem de mais que ofusque seu amor.  Assim, atada à justiça divina que permeia toda a história humana, deve sempre estar alinhavado o seu amor imensurável que não deseja que, afinal de contas, ninguém se perca (confirme esta verdade no Antigo Testamento em Ez 18:32 e no Novo em 2Pe 3:9).

Volto a Apocalipse com esta convicção lida nas páginas bíblicas citadas aí.  A cena vista com a sexta trombeta reflete exatamente a mesma verdade.  João sabe que o problema é que a humanidade atingida pelas pragas não se arrependeu das obras das suas mãos; e não pararam de adorar os demônios e os ídolos (...) também não se arrependeram dos seus assassinatos e das feitiçarias (Ap 9:20-21).  Entendo que aqui está a chave de compreensão de toda a desgraça liberada.  O objetivo de Deus é sempre claro, e Apocalipse é constante em reafirmar.  O destino de toda a criação é adorar única e exclusivamente ao Criador (anote Is 43:7).  E quando este rumo é perdido, Deus derrama sua ira santa na tentativa de trazer de volta homens e mulheres à posição para a qual foram criados: adoradores. 

Só relembrando: Apocalipse é um livro de adoração!

 

 


Leia todo o livro TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse.  Texto comovente, onde eu coloco meu coração e vida à serviço do Reino de Deus. Você vai se apaixonar por este belíssimo texto, onde a fidelidade a Palavra de Deus é uma marca registrada.

Disponível na Amazon.com

terça-feira, 2 de setembro de 2025

EPAFRAS E DIÓTREFES

 


Durante o período do Novo Testamento, muitos líderes se agregaram ao grupo primitivo.  Alguns foram bem referenciados, enquanto outros, mal são citados.

Por exemplo: o Livro de Atos dos Apóstolos nos informa que, em suas viagens missionárias, Paulo contou com a companhia de cristãos como Priscila e Áquila, Barnabé, Silas, Lucas, João Marcos e Timóteo entre outros.

Dentre esses personagens que pouco – ou quase nada – se sabe estão os dois que você citou.  Mas vamos recolher algumas informações que podemos catar nas páginas bíblicas.

 

EPAFRAS (em grego:  Ἐπαφρᾶς – alguns sugerem que seu nome signifique: “aquele que espuma”).  Pela tradição, diz-se que ele deve ter nascido em Colossos, na Anatólia central e foi alcançado para o Evangelho pelo trabalho do Apóstolo Paulo.  Nesse sentido, é bem provável que ele tenha sido um dos fundadores da comunidade cristã ali.

Ele é citado literalmente em três versos do NT:

& Em Cl 1:7 Paulo o cita como um “amado colaborador, servo fiel de Cristo” e também alguém que tinha ajudado o apóstolo em seu trabalho.  E no verso seguinte ele é dito como testemunha do amor que o Espirito tinha dado aos cristãos colossenses.

& Em Cl 4:12 o texto faz referencia a ele como “um de vocês” (o que pode indicar sua origem étnica).  Ele envia saudação à Igreja ali.  E Paulo completa: “Ele está sempre batalhando por vocês em oração, para que, como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus”.

& No encaminhamento do bilhete a Filemom, Paulo observa que Epafras era companheiro de prisão em Cristo Jesus (em Fm v. 23).

Essas indicações nos apontam para um líder da igreja, fiel, cooperante, evangelista.  Alguém que foi bastante valoroso para o progresso do Caminho em Colossos, Hierápolis e Laodiceia.  E Paulo o tinha em boa conta.

 

DIÓTREFES (em grego:  Διοτρέφης – seu nome, de origem grega, significa literalmente "nutrido por Zeus").  Um líder da igreja joanina em Éfeso.

& A única citação desse personagem se encontra na terceira carta de João onde é descrito como um líder da comunidade mas que “gosta muito de ser o mais importante” e que usa de sua posição para atrapalhar o contato do apóstolo com a igreja, além de que também “ele se recusa a receber os irmãos, impede os que desejam recebê-los e os expulsa da igreja” (vs. 9-10).

Diante disso, Joao se dispõe a, quando o encontrar, chamar a atenção dele para o que está fazendo com suas palavras maldosas contra os crentes.

 

 

Esses são dois exemplos de homens que se colocam à frente da igreja de Deus, mas que usam de suas prerrogativas de liderança para propósitos bem diferentes.

Epafras era um fiel colaborador do Evangelho, exemplo a ser seguido.  Diótrefes era ambicioso, orgulhoso, desrespeitoso da autoridade apostólica, rebelde e rude.

Enquanto um com certeza, foi canal de bênção para toda a igreja, o outro alguém que se servia da posição hierárquica para proveito próprio, sendo assim bastante prejudicial para o progresso do Evangelho e do Reino de Deus.

 

Oxalá o Senhor da igreja nos dê mais Epafras e menos Diótrefes em nossos ajuntamentos cristãos.