O Evangelho de
João começa com uma firmação categórica: No
princípio era o Verbo (Jo 1:1).  E
deixe-me logo dizer que penso que, de maneira proposital, João apontou para o
primeiro verso da Bíblia: No princípio
criou Deus (Gn 1:1).
Tudo começa
com o Verbo.  Nada havia antes dele e
tudo só existe a partir dele.  Ele é o
princípio de todas as coisas.  E é João
que não deixa dúvidas sobre quem é o Verbo: Jesus (leia 1:17).
Assim João
pode começar seu Evangelho:  Jesus é o
Verbo de Deus.  E tudo o que ele vai
contar e refletir tem que manter este pressuposto bem firmado.  Mas antes vamos entender um pouco o que
significa esta expressão: O Verbo.
A palavra em
língua grega que João usa é Λόγος (Logos).  O termo era bem conhecido tanto de gregos
como de hebreus na época do Evangelho.  A
tradução usual que damos a este termo em português é Verbo.  Mas talvez isto não
nos diga muito.  Entendo que uma tradução
mais livre como Palavra seria melhor:
No princípio era a Palavra ... e a Palavra
fez-se carne (Jo 1:1 e 14).
No primeiro
século, intelectuais usavam este termo para se referir ao princípio teórico
básico – ou conceito filosófico – que fundamentava toda a existência e seria
através dela que as divindades se comunicariam com a humanidade.
Para João este
conceito é pobre.  Ele vai além.  A Palavra é mais que um postulado teórico
filosófico, é o próprio Deus que criou o mundo e se relaciona pessoalmente com
homens e mulheres.
Não uma
espécie de deus ou derivado qualquer da divindade, também não é uma aparência
ou conceito metafísico.  É o próprio Deus
em sua essência e plenitude.
E esta Palavra
é Jesus.  João não tem nenhuma dúvida
quanto a isso.  O que poderá ser
observado não somente neste prólogo ao Evangelho, mas também ao logo do seu
transcorrer.  Para demonstrar, confira
ainda a expressão tirada da boca do próprio Cristo: Eu e o Pai somos um (Jo 10:30), e a confissão de Tomé: Deus meu (Jo 20:28).
Aprofundemos
nesse conceito: A Palavra eterna e pré-existente tinha um propósito, e o
cumpriu fazendo-se carne (Jo 1:14).
É verdade que
ninguém pode ver Deus – aqui o Evangelho cita Moisés (compare Jo 1:18 com Ex
33:20).  Contudo, a Palavra apresentada
no Evangelho de João é a expressão admirável da glória divina (1:14) e a
revelação perfeita e absoluta de Deus (1:18).
Ou seja,
embora seja verdade que a Palavra eterna seja Deus – e isso é essencial tanto
para a fé com cristã em geral, quanto para o Evangelho em especial – mas o que
João intenta demonstrar com seu texto é o Deus-Palavra que entrou na história
humana.  O sublime se fez carne.  O eterno, temporal.  
E o fez por
vontade própria, ao contrário do mundo que foi criado (compare os versos 3 e 14
onde João usa mesma expressão: fez-se
para demonstrar a essencial diferença entre Criador e criatura).
Assim, um
aspecto a se destacar na encarnação da Palavra divina é a compreensão de que ao
se fazer carne, Jesus Cristo tornou-se completa e perfeitamente humano.  Ele não somente revela toda a divindade, com
também assume toda a humanidade.  É um
com Deus e torna-se um de nós.
Assim, desde o
seu começo, João nos apresenta um Evangelho que procura refletir sobre a vida e
história de Cristo, mais que apenas narrar seus episódios.  Ele inicia apresentando a Palavra divina e
eterna, mas que se fez carne com o objetivo de revelar a luz e glória de Deus e
de nos atrair para ser seus filhos.
Que possamos
assim crer nele para fazer parte da família de Deus como filhos e desfrutar da
graça e glória divina através de Jesus Cristo.
 

 
 
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