Pretendo me manter alheio às discussões sobre se é certo cantar forró na igreja. Tenho pra mim que esse é o tipo de conversa que não vai a lugar nenhum. É a mesma coisa que perguntar se valsa pode fazer parte da celebração cristã, ou jazz, ou guarânia, ou country, ou samba, ou barroco, ou sertanejo. No mesmo balaio eu deixo a questão da sanfona: dá no mesmo querer saber qual o lugar no culto para o piano, o atabaque, o violino, a guitarra, a zabumba ou o órgão de tubo.
— Oxente! E lembra o tempo em que se cismava em cultuar só em latim?
Em todos os casos a resposta será
sempre a mesma! Então não vamos arengar por isso e vamos ao que interessa.
Nasci brasileiro e nordestino – e
como isso é bom! Como cuscuz e macaxeira desde que me entendo por gente. Só conheço duas estações no ano: o tempo de
chuva e a falta dela (a maior parte do ano – primavera e outono só existem nos
livros escolares e na televisão!). Falando
em escola, lá eu aprendi o abecedário e brinquei de manja.
E tem mais: hoje Aracaju já tem
até catinga e barulho de cidade grande, mas o aboio ainda faz bem aos meus
ouvidos, e o cheiro de mato molhado renova sempre o pulmão e a alma. Sem dúvida, o sertão convive em minhas veias,
mesmo sendo do litoral – com sol e tudo.
Mas falemos de música. Entre tanta música que já ouvi na vida, e me
levaram para mais perto do meu Deus – de J.S. Bach a Fanny J. Crosby –, poucas
realmente conduzem minha liturgia e meu espírito em adoração festiva, exultante
e celebrativa ou em contemplação sublime, reflexão introspectiva e prostração
submissa (eita quanto palavreado difícil!) como um forró pra Jesus.
Bem, não sei se você conhece a
diferença entre o verdadeiro forró pé-de-serra, o baião, o xaxado, o xote, a
toada — 'pera aí que tem mais: o
aboio (já citei), a embolada, o repente, a cantiga de ciranda — 'tá bom! Cada um tem sua musicalidade,
com ritmo, melodia e harmonia próprios. Seu
jeito e tempero. E por isso mesmo, cada
um me leva a Deus de uma maneira.
— Se não conhece isso tudo, deixe de leseira, tome uma umbuzada e
escute cada uma delas e se enriqueça.
E não se avexe não que eu vou
confessar: em cada um destes ritmos e cantos está estampado um aspecto de mim
mesmo. E eu não somente os valorizo
individualmente como também careço deles todos para que me sinta inteiro. E minha alma vibra assim. É por isso que sei que um bom e autêntico
forro pra Jesus me faz louvar em espírito e em verdade ao meu Senhor.
Com o aboio ou a toada eu me sento
calmamente na Sala do Trono do Altíssimo e ali minha alma é pacificada. O pé-de-serra e a embolada reavivam as
narrativas santas e o testemunho das bênçãos (aqui considere o cordel também). O xaxado e o baião levantam a poeira e a
adoração. E por aí vai.
Mas toda questão tem que ser
resolvida à luz da Bíblia, nossa referência.
O Sl 150 desafia: tudo que tem fôlego, louve ao Senhor e o Sl 47 instrui
a louvar o Senhor com harmonia e arte. E
o povo nordestino muitas vezes ficou conhecido como um povo sofrido, explorado,
ignorante, vivendo numa terra ressecada e sem esperança – e as vezes é isso
mesmo. Esse povo, porém, é cheio de
cantorias, belezas, musicalidade, cultura e também de fé sincera e disposição
de colocar tudo no altar divino para adorá-lo com o que tem de melhor em sua
alma. E assim faz para glória do Eterno,
Senhor de toda melodia, harmonia e ritmo.
Antes de terminar, deixe ainda aproveitar
a umbuzada para sugerir alguns nomes para quem quiser se iniciar no forró pra
Jesus. Sugiro conhecer os pernambucanos
da Banda Sal da Terra, os candangos da Xote Santo, o baiano Sandro Nazireu, o
também pernambucano Toinho de Aripibu, e Nelito – o sanfoneiro de Cristo. Há mais gente boa por aí. Mas para você ouvir e louvar, já dá pra o
começo.
Um adendo. Recentemente reencontrei o baiano Cláudio
Couti que conheci cantando axé, mas que nos últimos trabalhos vem fazendo uma
releitura interessante de canções já tradicionais, adicionando um bom tempero
nordestino. Não deixa de ser também uma
boa pedida.
Então, venha louvar e adorar com
um forró pra Jesus. E sei que o Senhor da
glória vai se achegar para ouvir e aceitar seu culto como um cheiro suave.