terça-feira, 23 de agosto de 2011

Não estou entre os "sem-igreja"


Fachada da Igreja Batista do Corrente,
cujo legado vai muito além das fronteiras do Piaui.

Neste último fim-de-semana li em um jornal paulistano uma matéria intitulada: "Cresce o número de evangélicos sem ligação com igreja".  No texto, o articulista se propõe a analisar o resultado da POV (Pesquisa de Orçamentos Familiares) do IBGE que apresenta como resultado um salto de mais de quatro milhões de pessoas que, embora ainda se reconheçam dentro do espectro evangélico, declaram não ter vínculo com igreja alguma.
Sei que o tema não é novo para quem estuda o fenômeno religioso brasileiro, principalmente no âmbito da chamada pós-modernidade.  Há muito já havíamos detectado tal movimento.
Depois de ler o texto jornalístico, aproveitei para surfar um pouco na Internet procurando algo sobre o tema e não foi difícil perceber que ele está bem comentado – assuntos assim sempre dão o que falar!  Bem, como não é do meu feitio assumir posições acaloradas sobre assuntos da moda, então vou aproveitar este espaço para apenas declarar – já que não fui pesquisado pelo IBGE – que não estou entre os "sem-igreja".
Quero declarar com certa convicção e até um velado orgulho santo (se é que isto existe!) que não faço parte deste grupo que professa uma fé genérica sem vínculo institucional com igrejas.  Mesmo coabitando com relativa familiaridade com manifestações cristãs distintas da minha e assumindo que a impingem da pós-modernidade muitas vezes me coça as ideias, o que me leva a transitar sem traumas ou culpas por outros horizontes, mas assumo que sou um homem de igreja.  E isso é mais que uma relação profissional, é existencial.
Vou também aproveitar aqui para elencar algumas razões pelas quais me é tão caro estar vinculado a uma igreja historicamente constituída.  De saída, vou deixar de lado as questões doutrinárias peculiares da minha fé batista, mesmo compreendendo-a e aceitando-a, mas penso que devo propor uma análise das minhas posições a partir de outros pressupostos.  Estes não são os únicos, contudo se apresentam com um bom ponto de partida para uma conversa mais significativa.
Em primeiro lugar não estou entre os "sem-igreja" porque me é importante o sentimento de pertença que uma igreja historicamente institucionalizada por me proporcionar.  No transcorrer da vida não quero me sentir apenas efêmero, quero fazer parte de algo maior e mais substancial que a transitoriedade de minha curta existência.  Isto me dá senso histórico e ajuda a fornecer sentido a minha vida.
Também não sou "sem-igreja" porque percebo que a igreja institucionalizada pode contribuir para minha estabilidade social e pessoal.  Estar em uma igreja organizada e estável ajuda a me perceber também vivendo de maneira organizada e estável (o que está longe de significar ser apenas previsível!).  É mais ou menos como a fé exclusivamente monoteísta que contribui na estruturação íntima da personalidade – mais isto já é outra conversa...
Voltando às minhas razões, não faço parte do grupo dos "sem-igreja" porque claramente me parece a posição mais madura de se desdobrar a vida.  Sei que não é um assunto fechado, mas tudo na vida humana em conjunto tende a se institucionalizar.  Olhando assim, também preciso dizer que não me sinto velho e nem engessado por uma instituição monolítica (talvez isso fosse como suicídio cristão).  Reconheço que são importantes os experimentos da juventude.  Eles sempre trazem um sopro de vida a qualquer instituição, mas é na história da instituição que florescem muito das riquezas do que gerações nos contribuíram.
É certo que Jesus não institucionalizou a fé (esta verdade é inexorável e indispensável).  Mas é na comunidade historicamente estabilizada com algumas amarras institucionalizadas (com seus riscos, acertos e erros) que alguns dos melhores desdobramentos do movimento histórico de Cristo podem ser mais e melhor aproveitados.  E desta herança eu não abro mão.
E finalmente, não estou entre os "sem-igreja" pois reconheço com humildade que preciso de outros para que minha fé e vida em Cristo seja completa e significativa.  Sozinho não vou muito longe e vivo sempre carente de algo mais, mas com meus irmãos nos fazemos corpo de Cristo.  E como isso é bom!

4 comentários:

  1. É triste ver como alguns "cristãos" estão fazendo mal uso da sua liberdade.
    Concordo com suas proposições e acrescento a elas que não estou entre os "sem-igreja" porque desejo servir à Deus servindo ao meu próximo e a igreja é o melhor local para me proporcionar essa alegria.

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  2. Querido pastor Crispim,
    Bom acréscimo. Sem dúvida, a igreja é nos fornece uma excelente oportunidade de colocar em prática o imperativo cristão de amar o próximo. Seria bom que todo seguidor de Cristo se envolvesse nesta obra.
    Um abraço

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  3. Cristão sem Igreja? é a mesma coisa que cabeça sem corpo. Impossivel! A igreja é o Corpo de Cristo, revelando o seu amor e o poder do evangelho. Agora Cristão sem denominação é outra conversa. Deveriamos refletir sobre o papel das denominaçoes e o porque muitas pessoas estão deixando-as.

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  4. Com certeza eu não confundo igreja com denominação. A denominação é facial, a igreja é essencial. A denominação é circunstancial, a igreja é perene. A denominação é dispensável, a igreja é imprescindível. E mesmo tudo isso sendo verdade, enquanto vivemos na história, se afastar da denominação tem significado um distanciamento da igreja. Então que possamos prestigiar a igreja e tentar sempre trazer a denominação para o centro da igreja.

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