terça-feira, 3 de setembro de 2024

JUDEUS E SAMARITANOS – uma história de racismo


Quando da divisão do Reino de Israel, após a morte de Salomão (século IX a.C.), as dez tribos do norte ficaram sob a liderança de Jeroboão, filho de Nebate, com capital em Samaria – em oposição às duas tribos do sul que restaram sob a controle de Roboão, filho de Salomão (a separação está narrada em 1Rs 12). 

Duzentos anos depois, os exércitos da Assíria invadiram Israel e conquistaram Samaria, sob o comando do rei Sargão II, que registrou em seus anais:

 

Cerquei e ocupei a cidade da Samaria, e levei comigo 27 280 dos seus habitantes como cativos.  Tomei-lhes 50 carros, mas deixei-lhes o resto das suas coisas.

 

O registro bíblico afirma que isso aconteceu porque os israelitas adoraram outros deuses, apesar das advertências claras do Senhor contra isso (leia em 2Rs 17:7-12).

Com a deportação dos israelitas de Samaria, e seguindo a política de colonização assíria, a terra foi maciçamente ocupada por outros povos que trouxeram seus costumes, línguas e, principalmente, seus cultos e religião para o norte da região de Israel.

Pouco mais adiante na história, com a queda também do reino do sul – levados para Babilônia no final do século VII – toda a terra ficou sob domínio estrangeiro.

Mas o período de exílio e deportação chegou ao fim com o decreto de Ciro da Pérsia que permitiu a reconstrução de Israel, de Jerusalém e do seu templo (confira 2Cr 36:22-23 e Ed 1:1-2).

Aconteceu que o projeto de reconstrução liderado por homens como Esdras, Neemias, Zorobabel e Ageu – com o expurgo dos estrangeiros, principalmente das mulheres – não teve a adesão dos habitantes do norte, ficando eles isolados em guetos sociais. 

A situação só veio a piorar com o domínio helênico dos selêucidas, ao estabelecer a separação entre judeus (no sul) e samaritanos (ao norte) em províncias distintas.  Chegando à época de Jesus com uma total inimizade entre habitantes das duas províncias.

E ainda sobre o mapa da Palestina no tempo do Novo Testamento, uma observação importante: mais ao norte da província de Samaria, moravam os galileus – um enclave de judeus que ficaram separados dos do sul pela presença dos samaritanos.  Esses eram considerados como um povo pobre e de pouca cultura (em geral o termo galileu era usado como um insulto, ou como marca de desprezo e preconceito).

 

Ainda havia a questão religiosa.  Os judeus sulistas (assim como os galileus) em geral estigmatizavam os samaritanos por os considerar impuros quanto aos rituais da Lei, logo, indignos de frequentaram os ambientes sagrados das sinagogas e do templo central em Jerusalém e, portanto, separados da aliança com o Eterno. 

Os samaritanos do norte, por sua vez, adotavam como livros sagrados apenas os cinco livros de Moisés (o Pentateuco), rejeitando os Profetas e os Escritos Restantes que eram lidos como sagrados entre os judeus.  Eles acusavam os judeus de terem acrescido à Revelação textos não autorizados, e assim defraudado a Palavra do Senhor.

 

Em todo caso, e apesar de viverem política e militarmente subjugados aos romanos, os judeus na época do Novo Testamento se viam como um povo especialmente superior a todos os outros. 

A própria crença generalizada da esperança messiânica entre os judeus do primeiro século demonstrava que aquela situação política desfavorável não fez arrefecer o sentimento de superioridade.  Por essa crença, Deus haveria de enviar um Messias para unificar as diversas facções de judeus (inclusive os impuros samaritanos) e liderar um exército contra os invasores latinos e os levaria à vitória, fazendo com que o povo voltasse a ser a grande nação da terra.

Os judeus se apegavam a herança e descendência de Abraão e a aliança feita com Moisés no Sinai para se jugarem raça escolhida e um povo essencialmente superior a qualquer outro.  Daí alimentar um posicionamento de preconceito racial com qualquer outro povo ou grupo.

E, finalmente, para se ter uma ideia de como esse sentimento era forte entre os judeus, veja duas citações: (1) debatendo com Jesus, os líderes religiosos argumentaram sua posição de superioridade afirmando que, por serem descendentes de Abraão, nunca teriam sido escravos – ou estiveram em posição se inferioridade (leia o diálogo em Jo 8 começando no verso 31 e a frase dos judeus no verso 33).

(2) Também, mesmo já em plena expansão missionária da igreja primitiva, o apóstolo Pedro – judeu de nascimento e tradições – precisou de uma visão especial e sobrenatural para que se livrasse da visão preconceituosa que tinha contra os não-judeus e se dispusesse a pregar na casa do romano Cornélio e aceitasse que o Espírito também estaria sendo derramado a todos os povos da terra (veja toda a narrativa em At 10).

 

 

Sobre o tema do Racismo, leia também:

 

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