terça-feira, 3 de dezembro de 2019

CARTAS DO TINHOSO – numa primeira olhada


Entrei em contato pela primeira vez com a obra de C.S. Lewis quando ainda era seminarista, lá pela segunda metade da década de 1980.  Na época não havia disponível muita coisa em língua portuguesa, mas na biblioteca do Seminário do Norte em Recife podia encontrar alguns volumes em inglês e nos esforçávamos para ler e compreender assim mesmo.
Já se dizia então que os textos de Lewis eram leitura obrigatória, mas, confesso: não aproveitei o quanto deveria da oportunidade.
E, só para citar e saber de quem estamos falando, Clive Staples Lewis (1898-1963), professor, ensaísta e romancista britânico foi, sem dúvida, uma das mentes mais brilhantes e influentes que o cristianismo ofereceu à humanidade no século XX.   Entre as suas obras mais conhecidas está a série As Crônicas de Nárnia – popularizada inclusive a partir de produções cinematográficas.
(Nárnia mereceria reflexões à parte pelo seu simbolismo e riqueza – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa é uma impressionante representação da história cristã da salvação!)
Outros títulos que merecem citação são Cristianismo Puro e Simples e Surpreendido pela Alegria (também cada um deles valeria uma resenha própria – prometo pensar na possibilidade).
Bem, resolvi retomar a leitura de C.S. Lewis – acho que atualizar seria um bom verbo para expressar o sentido – e o fiz começando com Cartas de um Diabo a seu Aprendiz.
Quanto às Cartas propriamente ditas, elas apareceram pela primeira vez publicadas no The Guardian e depois já sob a forma de livro em 1942.  São 31 correspondências envidas por Screwtape – um diabo sênior (na edição que tenho em mãos o nome dele é traduzido como Maldanado) – a seu afilhado e pupilo Wormwood (chamado de Vermelindo), um aprendiz de tentador.
A primeira coisa que chama a atenção na obra, ao olhá-la na estante da livraria é o seu título.  E acho que o impacto da versão em português acaba sendo maior que o original em inglês.  Ao invés do nome próprio (em inglês é The Screwtape Letters), aqui ficou mais explícita sua designação: Cartas de um Diabo...
Vencida esta primeira impressão, mesmo porque dizem que não se deve julgar um livro pela capa – e nem pelo seu título – vamos à sua leitura.   E logo o estilo direto nos traz para dentro do seu enredo.
Então, é fácil constatar que, dotado de uma sagacidade e capacidade intelectual inigualável, Lewis consegue imprimir nas Cartas além da petulância, uma irreverência que seria típica do diabo.  As Cartas são também recheadas de ironia sutil, algumas vezes bem disfarçadas, mas capaz de nos fazer transitar, quase que de maneira subliminar, nas zonas sombrias e cinzentas da alma humana e na batalha cotidiana e espiritual pela posse e controle dela.
O contexto geral das Cartas é a Grande Guerra europeia de 1939-1945, mas ela – a guerra – somente lhe serve de pano de fundo para o que realmente importa: o diabo não está interessado em quantos vão morrer ou sofrer os horrores de bombardeios, mas em como a alma do paciente pode ser desviada e afastada dos braços do Inimigo.
E aqui também está um pouco da boa engenhosidade da obra.  Nas Cartas, as citações são em geral indiretas: o paciente é tratado apenas como objeto a ser conquistado; a noiva dele e demais circundantes como despersonalizados meios para se chegar ao fim desejado; a mãe como ocasião de querelas; o chefe do mundo inferior como Nosso Pai; e o Outro também nunca é reconhecido com nome e personalidade, mas apenas como o Inimigo.
Assim Lewis constrói um quadro em que nem tudo o que é prescrito pelo diabo instrutor em suas epístolas "deve ser tomado como verdadeiro, nem mesmo a partir do seu ponto de vista", afinal, como diz C.S. Lewis no prefácio, "os leitores são aconselhados a lembrar que o diabo é um mentiroso".
Acho que devo dar uma pausa por aqui.  Pensei originalmente em anotar uma simples resenha sobre o texto, mas já percebo que as minhas linhas vão se estendendo... Então vamos combinar o seguinte: já acrescentei ao título deste a indicação: numa primeira olhada e me comprometo a depois continuar a refletir sobre algumas ideias e conceitos que encontrei na leitura das Cartas.
Por hora vou apenas enfatizar: C.S. Lewis é leitura obrigatória!

2 comentários:

  1. Quero ler. Só conheci tardiamente e devido ao filme. Continue a resenha. Abraço.

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    1. Eu entendo que C.S. Lewis é realmente leitura obrigatória para todo cristão que deseja enriquecer e aprofundar criticamente sua fé e conhecimento.
      mantenho o compromisso: vou continuar a refletir sobre a obra de Lewis.

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