sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A CRÔNICA DO "AGÁ"

Para aqueles que julgam que para o Criador de todas as coisas há diferença entre homem e homem, e para aqueles que se julgam superiores ou inferiores a outros, prestem bem atenção nesta linhas que seguem.
Enquanto para uns no alfabeto existem letras mais importantes, existem outros que além disto fazem discriminação entre as letras.  Acham estes que um "A" ou "E", ou ainda um "C" ou um "M" ou "S" têm mais importância pois é difícil ou quase impossível se escrever um belo texto sem usá-los.
Há, contudo, letras que são ditas até desnecessárias pois quase  não as usamos, como um "X".  E o que dizer do "H"?
O "H" (que se escreve sem "h" – agá) é de uma importância incrível, por estranho que pareça.  Veja: como saberíamos a hora certa se, ao tirarmos o "H" do relógio, a gramática do tempo se transformasse em uma exclamação – ora!?
E o que dizer da pobre velha que ao roubar-lhe o "H" estaríamos pondo-a em perigo de se queimar com a parafina que provavelmente deverá escorrer da vela!
E o "H-mudo" que muitas vezes faz a diferença importante para o criador de cavalos, que ao selecionar os animais não quer que se tire o "H" de seu haras para que não tenha que pegar na enxada para arar a terra.
Há ainda palavras que precisam deste "H-mudo" para lhe dar a devida dignidade e herança histórica.  Que seria do homem, do hino, e do hebreu, entre outros, se lhe tirassem este começo, teríamos de chamá-los de 'omem', 'ino' e ' ebreu'.  Seria 'orrível'.
E o "A", quanta coisa podemos fazer juntando-lhe um simples "H".  O qual não se pronuncia.  Sem o "H" seria apenas uma preposição ou artigo.  Colocando-se depois, temos um susto, que exclamação: ah!  E antes, como as coisas existiriam se não houvesse o ?
Juntando-o com outras consoantes mudamos o sentido de certas palavras.  Temos certeza que se dormiria mais tranquilamente sem o perigo do fogo se tirássemos o "H" da chama e a transformássemos numa cama.  E aproveitando o "H" no sono para podermos ter um belo sonho.
Quem iria errar se o "H" da falha fosse calado com a voz de uma fala hábil apenas no conhecimento.
E o que diríamos de se colocar uma mala dentro de uma malha?  Seria mais fácil trocarmos o lugar do "H" e botar a malha dentro da mala.  Então exclame com um bom "H": oh!
Bem, você que acha que não tem utilidade do Reino do Mestre, lembre-se de que mais inútil é o "H", pois você é obra-prima de Deus e o "H" é apenas a oitava letra de um alfabeto criado pelo homem.
Trabalhe.  Mesmo que seja como um simples agá – ou hagá – pois para Deus até isso tem muita importância.

*** Escrevi este texto ainda adolescente – lá pelos anos 1980. 
Para publicá-lo aqui, foi preciso apenas digitá-lo,
pois o tinha guardado em versão ainda datilografada,
e fazer pequenas correções gramaticais. 
No mais, conservei as ideias e fraseado originais,
como testemunha da época.


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2 comentários:

  1. Que lindo. Primeiro amém. Parece que o senso, o bom, não lhe abndonou com a idade. Esse texto é crível é atual para além da necessidade que tenho de ler coisas inteligentes. É tão bonito ver como aproximad de Deus, da reflexão de Reino, coisas tão corriqueiras.

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    1. Obrigado querido. É bom poder compartilhar as ideias. De certo modo também me sinto recompensado em ver que com o tempo pude tentar aprimorar o estilo e as palavras

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