Toda celebração
religiosa se dá em algum lugar específico, no lugar onde o sagrado pode ser
sentido mais nitidamente e onde o participante do culto é colocado no papel de
fiel. O cristianismo como religião
surgiu no seio do judaísmo e foi exatamente seguindo os modelos dos seus locais
de culto que surgiram os primeiros templos cristãos. Com a consolidação do cristianismo europeu
medieval, toda uma forma de edificar templos foi desenvolvida privilegiando a
contemplação como elemento primordial do culto cristão católico.
Descendente
desta tradição, o catolicismo brasileiro edificou templos em estilo barroco que
se tornaram marcas da fé cristã em terras brasileiras. E mais, se considerarmos o catolicismo como
religião hegemônica no Brasil colônia e aliada íntima da Coroa Portuguesa,
então é fácil perceber que qualquer tentativa contrária seria severamente
rechaçada – as guerras contra franceses (huguenotes reformados) no Rio de
Janeiro e holandeses (protestantes de liturgia também reformada) em Pernambuco
configuraram-se para os portugueses como guerra santa.
Porém,
com a necessidade da aproximação portuguesa com a Inglaterra, e principalmente
com a independência do Brasil em 1822 começou-se então a se conceber a idéia de
se ter pluralidade de cultos no Brasil – mais ainda não pluralidade de
templos! A Constituição Imperial
promulgada por D. Pedro I, embora reconhecesse a possibilidade de haver cultos
de caráter “privados e domésticos” que fossem não-católicos, os templos
construídos para atender a estes cultos, segundo o artigo 5º desta Constituição
“não teriam aparência exterior de templo”.
Foi sob esta lei que vigorou até o advento da República em 1889 que o
protestantismo de missão chegou ao Brasil.
Aliado
a isto, fatores econômicos e principalmente a busca da simplicidade em oposição
a ostentação católica fez com que as nascentes igrejas protestantes no Brasil
arquitetassem suas edificações para culto muito menos rebuscadas que suas irmãs
norte-americanas e principalmente européias.
No pentecostalismo estes fatores tornam-se mais pronunciados e,
analisando este aspecto, Leonildo Campos assim afirma:
O pentecostalismo, salvo exceções, fez com que o
espaço de culto abandonasse a arquitetura gótica ou rebuscada e se instalasse
em antigas garagens, lojas comerciais e desativados galpões industriais,
comerciais ou áreas de lazer. Buscava-se
então o Deus dos místicos, que habita o interior de seus adoradores, não
importando que a sua invocação se dê num espaço às vezes dedicado à
apresentação de filmes pornográficos ou num ponto comercial.
Modernamente
contudo já se pode observar uma preocupação maior, tanto no protestantismo
tradicional quanto entre os pentecostais, no que se refere a arquitetura dos
seus templos. Os modernos templos
protestantes, contudo, procuram apresentar elementos mais funcionais e menos
estéticos, não mais ligados a estrutura gótica ou barroca que na tradição
cúltica brasileira de origem católica sempre estiveram ligados ao lugar do
culto.
Por sua
vez, já na década de 1960 a Casa Publicadora Batista – depois JUERP – fez
publicar o trabalho do missionário norte-americano J.E. Lingerfelt intitulado Vamos Construir Templos Melhores. Embora destinada originalmente ao público
batista, a obra expressa a preocupação protestante de erguer construções e que
cada igreja em particular possua um templo que “seja adequado às suas
finalidades e à altura do seu povo, seus membros e aqueles que deseja ganhar
para Cristo”. E, embora na mesma página
esteja escrito que “o templo (…) é o centro do culto, o lugar de alimentação
espiritual para todos”, contudo nitidamente a preocupação da obra é com a
técnica da construção em si, sem se deter em momento algum com uma reflexão
teológica que justifique a presença ou a ausência de qualquer elemento dentro
do projeto de construção.
Entre
os pentecostais históricos, embora não haja exemplos tão significativos, mas
também já começa a haver um encaminhamento, embora ainda discreto, neste
sentido. No seu item X-1, o Regulamento
interno a Igreja Pentecostal Deus é Amor delibera que “todos os Templos a serem
construído deverão ter o seu projeto, tipo dois andares e com galerias, e o
projeto aprovado pela Diretoria”, logo a seguir apresenta, como justificativa
teológica para tal, a citação dos textos bíblicos de Is 54:2-3 e Is 6:1, sem
qualquer comentário.
Examinando
a Igreja Universal o Reino de Deus que Leonildo Campos faz, certamente, a mais
significativa abordagem da relação entre teologia e a arquitetura da construção
dos templos. Começando a análise a
partir do próprio protestantismo tradicional vemos que:
O protestantismo eliminou o culto aos santos, propôs a
secularização dos lugares onde o “serviço” religioso deveria acontecer,
ridicularizou o comércio de artesanato e de bens religiosos associados aos
santuários católicos. A Reforma colocou,
no lugar da devoção em movimento, uma platéia de boca fechada e ouvidos
abertos, estacionada em redor do púlpito, lugar de onde o sagrado se irrompe
através da palavra articulada racionalmente.
O protestantismo também delimitou a criatividade litúrgica e, mesmo
condenando a missa católica, impôs sobre o culto um script rígido. O resultado foi um culto ritualista, que, no
caso brasileiro, o protestante histórico aprendeu a prestar à divindade com os
missionários norte-americanos, a despeito de todas as influências católicas
sobre ele exercidas.
Bem,
observando as opções de construção de templos como reflexos de suas opções
teológicas, mais uma vez seguindo a análise de L.S. Campos em relação a Igreja
Universal, como padrão para as igrejas de culto pós-pentecostal, ou
neopentecostal, na linguagem do mesmo:
A arquitetura dos templos da Igreja Universal reflete
essa perspectiva ao propor um modelo voltado a participação e não a
contemplação. (...) Os templos neopentecostais contêm sempre um palco e uma
platéia e, muitas vezes, um corredor por onde o animador da platéia passa
distribuindo bênçãos, toques sanadores e palavras abençoadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário