sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Parábola das coisas – O TRAVESSEIRO

Tenho mantido o costume de olhar as coisas presentes no cotidiano.  Nelas busco enxergar sempre fagulhas de lições me ajudem na caminhada da vida.  E de vez em quando escrevo sobre elas – são as parábolas das coisas.
Mas antes que estas linhas se tornem muito cansativas, vamos olhar para uma coisa que temos próximo todos os dias – ou melhor as noites: o travesseiro.
Vejamos de início o que encontramos, lendo sobre o tema.  No dicionário, a definição de travesseiro é uma espécie de almofada comprida que se atravessa sobre o colchão de lado a lado, para descansar a cabeça.
Como objeto útil, serve muito bem para as funções propostas: acalentar o descanso e o sono.  Fica ali, deixa-nos confortáveis e embala nossos sonhos – e há toda uma intimidade desenvolvida.  E é exatamente daqui que quero tomar o ponto de partida para examinar o travesseiro.  Como companheiro do recolhimento íntimo do sono, ele é excelente parábola da própria consciência.
Atentemos à consciência:
Algumas vezes a consciência pesa e as ideias tornam-se uma turbilhão.  Quando a vida e as decisões nos levam a caminhos dos quais a culpa e a vergonha são inseparáveis, o travesseiro da consciência fica duro e o sono terrível.
Para entender melhor, das páginas da Bíblia eu me lembro da narrativa do patriarca Jacó.  Quando fugia da casa de seu pai, em meio a viagem, ele parou e dormiu usando um pedra como travesseiro.  Longe de casa, tendo trapaceado seu irmão e mentido para seu pai, a noite do patriarca foi dura, como um travesseiro de pedra (leia a narrativa em Gn 28).
Mas há uma outra situação da consciência: limpa, leve, fluida, equilibrada, saudável.  Em perfeita harmonia com sua própria história e trajetória.  É um travesseiro macio para um sono reparador.  E não importa que o mundo lá fora esteja um caos.  A mente e corpo repousam tranquilos.
Ainda é na Bíblia que eu posso ler um exemplo perfeito para esta condição. 
Depois de um dia cansativo de trabalho na missão, Jesus instruiu seus discípulos a procurarem um repouso na outra margem do lago da Galileia.  E o texto diz que enquanto atravessam, Jesus apenas dormia na popa do barco, sobre um travesseiro – que sono gostoso! E um detalhe importante, enquanto dormia sossegado, uma tempestade assolava as águas (leia em Mc 4).
Quando a noite chega e a sós com meus pensamentos, lembranças, ideias e reflexões, apenas o travesseiro embala meu sono.  Então a pergunta final é inevitável: de pedra ou de pluma, onde tenho reclinado minha cabeça?


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