Depois
que todo o mal foi expurgado da ordem criada, João simplesmente declara: vi
novo céu e nova terra (Ap 21:1 – noto um eco de Is 65:17). E somente nesta curta frase temos o registro
implícito de como o vidente compreende a ação de Deus na história. Deus não fará um remendo na criação carcomida
pelo pecado – ele fará nova (acrescente nesta compreensão o verso cinco). Também Deus não cogita uma eternidade exclusivamente
celeste, etérea, supra-histórica, pois o novo céu terá sempre por paralelo uma
nova terra. Assim é o Todo-Poderoso, o
que era, que é, e há-de-vir (mais uma vez, leia Ap 1:8 e 4:8). Assim é o que está por fazer. Não uma simples continuação linear da
história ou a pura supressão dela. No
primeiro caso seria apenas a perpetuação das tiranias e tribulações. No segundo, postergar e diluir o juízo e
controle de Deus na história. Em ambos o
mal venceria. Mas não é assim. Deus subverte a história, cria tudo novo,
refaz sua criação a partir daquele que é o princípio e o fim; razão de ser,
origem e destino de toda a criação. Por
nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17:28).
E
tem mais: então o mar já não existe.
Quanto à inexistência do mar, entendo que merece uma reflexão à
parte. O texto não apresenta nenhum argumento
sobre a ausência do mar, contudo, se me permitem uma suposição, entendida sob o
ponto de vista do exilado e degredado João, onde o mar era não somente o limite
de sua existência e a demonstração do poder tirano de Roma que o prendia, como
também o obscuro domínio do pavor e desconhecimento num tempo quando a
navegação em mar aberto representava inevitável risco; a extinção do mar seria
certamente um consolo extra.
Continuemos. João vê também a nova Jerusalém devidamente
paramentada como uma noiva pronta para o casamento (Ap 21:2). As duas figuras
são por demais importantes na descrição do Apocalipse (cidade e noiva), e João
as vai retomar ainda neste capítulo.
Então vou aguardar também ainda mais um pouco. Antes ele tem algumas palavras de conforto e
ternura para dizer.
Na
visão inicial, João foi confortado pelo que vive pelos séculos dos séculos: não
temas (Ap 1:17). A multidão diante do
Cordeiro também se sente confortada de maneira carinhosa com a promessa de que
Deus os apascentará (Ap 7:16-17). Mas é
agora, na visão do novo céu e da nova terra, que o amor e cuidado se mostram
por inteiro. Penso que aqui deveria
citar alguns textos sobre o amor incondicional de Deus e como ele se releva
para nós. Sei que é tarefa por demais
incompleta, já que em toda a Bíblia as referências são inúmeras; desde Jr 31:3
onde o próprio Senhor diz: Eu a amei com amor eterno; com amor leal a atraí;
até o convite de carinho de Jesus: vinde a mim os cansados (em Mt 11:28). Contudo, nenhuma expressão é mais enfática e
contundente quanto 1Jo 4:8 – Deus é amor.
É
exatamente este o tempero das palavras da visão registradas aqui: chegou o
momento em que se enxugará toda lágrima, a morte não mais existirá, nem luto,
nem dor. Tudo isso já é passado (Ap
21:4). Finalmente se cumpriram as
profecias: ... pelas suas pisaduras fomos sarados (Is 53:5). Com o que Paulo concorda: a morte foi vencida
pela vitória (1Co 15:54-55 – citando Is 25:8 e Os 13:14). E, dita para toda a eternidade: vinde
benditos do meu Pai (palavras de Jesus em Mt 25:34), a frase recebe a chancela
daquele que é o Alfa e o Ômega (Ap 1:8 e 21:6), que faz novas todas as coisas
(Ap 21:5), que nos oferece de graça da fonte da água da vida (Ap 21:6 –
ofertada também à mulher samaritana em Jo 4:13-14) e nos recebe como filhos
amados (Ap 21:7 – leia mais Jo 1:12-13).
Do livro TU ÉS DIGNO –Uma leitura de Apocalipse
Leia todo o livro TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse. Texto
comovente, onde eu coloco meu coração e vida à serviço do Reino de Deus. Você
vai se apaixonar por este belíssimo texto, onde a fidelidade a Palavra de Deus
é uma marca registrada.
Disponível na:
AD Santos Editora
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