Nicolau
Maquiavel nasceu em 1469 em Florença / Itália, de uma família rica da cidade e
que tinha aspirações de primazia de Florença sobre as demais cidades
italianas. Vivendo num mundo em
constantes e estrondosas transformações históricas e sociais – ele foi
contemporâneo da Reforma Protestante e
das grandes navegações europeias – foi educado no humanismo renascentista e viu
o ser humano tomar o primado do pensamento em lugar do Deus medieval que
dominava até então.
Sem
conseguir a notoriedade que almejava em vida – sua principal obra só foi
publicada postumamente – Maquiavel morreu aos 58 anos, doente e frustrado.
Quanto
à sua compreensão da religião, Maquiavel sabia que o aspecto religioso é uma
das marcas distintivas de um povo, e para se fazer uma análise política deste é
mister considerar-lhe o dado religioso.
Assim, ele permeou todos os seus comentários de observações sobre a vida
religiosa romana, não somente no período pagão como também depois da inserção
do cristianismo e a transformação deste em religião oficial com a consequente
aquisição do poder estatal pela Igreja.
No seu
texto Comentários sobre a Primeira Década
de Tito Lívio (1531), Maquiavel afirmou que a autoridade do príncipe não
lhe é suficiente para garantir a sua força e seu sucesso, então se faz
necessário recorrer à religião para que tal força e sucesso possam ser
conquistados e mantidos. Nas suas próprias
palavras:
Se a observância do culto divino é a fonte da grandeza
dos Estados, a sua negligência é a causa da ruína dos povos. Onde não exista o temor a Deus, o império
sucumbirá, a menos que seja sustentado pela fé de um príncipe capaz de se
apoiar na religião.
Em
relação à península italiana, Maquiavel entendia que dois momentos são
facilmente observáveis. No princípio, a
religião pagã surgiu como elemento de devoção para unir o povo. O sentimento de devoção gerou no povo um
espírito de respeito às instituições republicanas que fez dele um povo para as
grandes conquistas. Ele continua:
Mas quando os oráculos começaram a tomar partido dos
poderosos, e a fraude foi percebida, os homens se fizeram menos crédulos,
mostrando-se dispostos a contestar a ordem estabelecida.
Como é
importante manter a religião para a grandeza do reino – ou da republica – a
Itália foi-se arruinando à medida que o espírito religioso foi-se perdendo
devido ao estabelecimento da Igreja Católica Romana na vida pública. Seguindo Maquiavel, a Igreja Romana, nos seus
arredores, abafou a devoção piedosa do povo por optar pelo poder temporal, e
ainda mais, não tendo a Igreja o poder suficiente para unificar a Itália sob sua bandeira, também não deixou
que outros a fizessem, como aconteceu nos reinos da França e Espanha.
São do
próprio Maquiavel as palavras:
É, portanto, à Igreja e aos sacerdotes que os
italianos devem estar vivendo sem religião e sem moral; e lhes devemos uma
obrigação ainda maior, que é fonte de nossa ruína: a Igreja tem promovido
incessantemente a divisão neste malfadado pais – e ainda o promove.
Diante
deste quadro, Maquiavel propôs que para uma religião ou um Estado ter vida
longa é necessário se renovar muitas vezes.
Foi a falta desta renovação que causou o enfraquecimento do Império
Romano, devido a influência de um igreja centrada em si mesma e adversa a
mudanças e renovações.
E não
considerando o movimento da Reforma Protestante, Maquiavel preferiu tomar como
exemplo dois santos católicos como referências destas mudanças que fariam
revigorar a Igreja dando-lhe vida nova e garantindo-lhe a existência e respeito
do povo:
Se São Francisco e São Domêncio não tivessem
relembrado o espírito com que foi fundada, estaria hoje inteiramente
extinta. Retomando à pobreza e
revigorando o exemplo de Cristo, despertaram o espírito cristão dos homens,
salvando-os quando já expiravam. E as
novas regras que instituíram mereceram tal crédito que a corrupção dos prelados
e dos chefes religiosos não conseguiu arruiná-las.