Um
colega, aqui conversando aqui comigo, via zap, fez uma citação do mestre
Tomás de Aquino quando o teólogo apresentou uma analogia entre a imagem de Deus
e a moeda romana com a imagem de César.
Na conversa, ofereci uma reposta para manter o
diálogo, mas depois fiquei com o assunto na cabeça. Tenho pesquisado sobre o tema, pois pretendo
escrever um livro sobre os capítulos iniciais da Bíblia.
Então aqui vai um misto do que eu respondi no zap
com algo que pesquisei depois.
Antes. Sobre
o pensador. Tomás de Aquino foi um
filósofo/teólogo da Escolástica católica que viveu e escreveu no século XIII na
região de Aquino – centro da Itália. Sua
abordagem filosófica foi de linha aristotélica e tratava a própria Teologia
como uma ciência.
Quanto a citação de Tomás de Aquino, o que achei
nas minhas pesquisas, folheando a “Suma Teológica” (a edição que uso
aqui tem mais de quatro mil páginas) diz ipsis litteris:
“Tanto no homem como na mulher está a imagem de Deus,
quanto a aquilo em que, principalmente, consiste a essência da imagem, a saber,
a natureza racional” (Questão 93 – art. 4).
“Diz-se que o homem é a imagem de Deus, não por ser
essencialmente imagem, mas por trazer no espírito impressa tal imagem; assim
como se diz que a moeda é a imagem de Cesar, por ter a imagem deste. Por onde,
não é necessário introduzir a imagem de Deus em qualquer parte do homem”
(Questão 93 – art. 6).
Aproveitando
a pesquisa: encontrei no site do Vaticano:
Em Tomás de Aquino, a imago
Dei possui uma natureza histórica, enquanto passa por três
fases: a imago creationis (naturae), a imago
recreationis (gratiae) e a imago similitudinis (gloriae) (S.
Th. I q. 93 a. 4). Para o Aquinatense, a imago
Dei é o fundamento da participação na vida divina. A imagem de
Deus se realiza principalmente em um ato de contemplação no intelecto (S.
Th. I q. 93 a.4 e 7).
Minhas
considerações a partir do argumento do teólogo latino:
A analogia de Tomás de Aquino, comparando uma
moeda com a imagem de Deus (Imago Dei em latim como usou o teólogo
italiano), pode enriquecer bastante a compreensão – embora seja uma exegese
tardia.
Porém, não penso que o autor bíblico tivesse com
tal analogia em mente quando escreveu as palavras sagradas. Pelo contexto geral, talvez a melhor analogia
seria com as esculturas de divindades dos povos ao redor que exibiam a imagem
de seus deuses, enquanto que a imagem do Elohim Criador (יעש אלהים – expresso em Gn 1:7) estaria impressa na
sua obra prima: o ser humano.
Lendo mais o texto de Gênesis, observo que em Gn
5:3 novamente o termo hebraico צלם (imagem) é usado
junto com דמות (semelhança/modelo)
para se referir ao filho gerado por Adão. Neste caso a analogia da moeda perde mais
paridade ainda. Novamente consigo
entender que o autor bíblico tem em mente a reprodução da imagem e semelhança
viva (Adão gerou outra vida!) em um outro ser.
Em resumo, em minha Teologia, leio o poema sagrado
do Gêneses querendo comparar a feitura do ser humano com os contornos divinos
dando-lhe atributos que espelhassem o Criador.
E antes de finalizar, mais uma citação. Dessa vez de Esteban Voth e Milton Acosta
Benitez no “Comentário Bíblico Latino-Americano”:
“Sugerimos que a imagem de Deus nos fala da capacidade
que temos para nos relacionar com Deus.
Deus nos estampou algo que permite a ele estabelecer conosco uma relação
íntima, por meio de comunicação verbal, alianças etc.”
(Na
imagem lá em cima, uma reprodução de uma moeda romana estampada a face do
Imperador Tibério – 14-37 A.D. Fonte: wikipedia.org)