O patriarca – ainda chamado de Abrão – empreendeu
uma campanha para libertar seu sobrinho Ló e, ao voltar após a vitória,
encontrou-se com o rei de Sodoma e com Melquisedeque, descrito como rei de
Salém e sacerdote do Deus Altíssimo – sem informações genealógicas, ligações
etnográficas, nem política ou coisa parecida, mas como um adorador do Deus do
Alto.
Aqui, o texto no Livro de Gênesis (14:18-20) é
bastante resumido, mas, mesmo assim, pode trazer lições importantes. Em outras palavras, o fraseado apenas nos
oferece “migalhas” de informações, mas podemos segui-las para chegar a verdades
e lições relevantes (eu estou me lembrando do conto de “João e Maria”).
Seguindo o texto com suas migalhas de
apontamentos:
No Vale do Rei, Melquisedeque recebeu Abrão com
pão e vinho. Segundo as tradições do
Oriente, essa seria uma forma honrosa de receber um herói ou guerreiro
vitorioso. Com certeza ali nenhum deles tinha
noção de que esse oferecimento poderia servir como um referencial para o pão e
vinho que viria a simbolizar a oferta pascal de Jesus na última Ceia (1Co
11:23-29).
Próxima migalha: o sacerdote/rei pronuncia
palavras de bênção para Abrão pelo Deus Altíssimo, criador de céus e
terra. O Deus que habita nas alturas e está
sobre toda forma de autoridade, entidade, divindade ou crença é quem fecunda as
suas bênçãos ao patriarca.
E à bênção seguem as palavras de adoração ao
Altíssimo, reconhecendo que todo e qualquer sucesso e vitória se devem
unicamente a ação divina.
E o Deus das
Alturas seja louvado
[pois
é ELE] quem entrega em tuas mãos os teus inimigos.
(Gn 14:20).
Depois da bênção, Abrão lhe oferece o dízimo. Essa também é uma migalha espiritualmente
relevante.
Na sequência da leitura do texto, o rei de Sodoma
indica que Abrão fique com todos os despojos da guerra. E, embora fosse do patriarca por direito de guerra,
ele se recusa a tomar posse do espólio (Gn 14:21-24).
Então, é com essa percepção que Abrão entrega a
décima parte do que seria dele por direito a Melquisedeque. Tal atitude é um reconhecimento explícito de
inferioridade: ao ofertar o dízimo, Abrão estava atestando que o sacerdote do
Altíssimo lhe era superior.
A humildade sempre convém a quem oferta!
E essa atitude me leva então ao texto de Hebreus
no NT.
O tema central do texto aos Hebreus é a
superioridade de Cristo – desde as primeiras expressões, quando ele compara as palavras
dirigidas aos profetas com o que Deus falou pelo seu Filho (Hb 1:1-4).
Assim é que, comparando o sacerdócio levítico da
antiga aliança com a oferta própria e voluntária entregue por Jesus Cristo
estabelecendo uma nova aliança (Hb 7:22), essa nova aliança é incomparavelmente
maior e melhor.
O argumento é o seguinte: quem abençoa é mais importante do que aquele
que é abençoado (confira Hb 7:7). Ora,
se Melquisedeque abençoou Abraão e dele recebeu o dízimo é porque sua ordem sacerdotal
é superior à do patriarca, e, logicamente, dos seus descendentes (os filhos de
Levi).
Da mesma forma, a antiga aliança baseada na Lei
mosaica (descendente de Abraão) é inferior à nova aliança feita em Cristo (da
ordem de Melquisedeque).
As ofertas trazidas aos sacerdotes levitas eram
transitórias, incompletas e fadadas a se encerrar para serem suplantadas pela
oferta definitiva, perfeita e superior apresentada por Cristo.
Compare mais: os levitas da antiga aliança eram
filhos de Arão – de onde vem seu sacerdócio.
Jesus, por sua vez, como Filho de Deus, foi estabelecido por Deus mesmo como
o Sumo-Sacerdote na ordem de Melquisedeque (Hb 5:10).
E mais: se os pecados na antiga aliança eram
lavados periodicamente pelo sangue das ofertas, Hebreus nos diz que Cristo a si
mesmo se ofereceu a Deus como sacrifício perfeito. Assim, o sangue de Cristo – sacerdote da ordem
de Melquisedeque – trouxe purificação às pessoas por dentro, tirando as culpas,
para que pudessem servir ao Deus vivo (Hb 9:12-22).
Por isso, o Texto Sagrado conclui que Jesus Cristo
é digno de maior gloria do que Moises (Hb 3:3).
Na imagem lá em cima: um mosaico representando os
personagens Abraão e Melquisedeque na Capela de São Marcos em Veneza / Itália
(concluída no Século XVII).
Você pode ver uma análise exegética rápida sobre o
personagem Melquisedeque no artigo MELQUISEDEQUE– o personagem (link aqui).
Sugiro a leitura de um ensaio sobre o livro de Hebreus que pode ser encontrado no meu livro ENSAIOS TEOLÓGICOS
Conheça
também outros livros:
TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse
DE ADÃO ATÉ HOJE – Um estudo do Culto Cristão
PARÁBOLA DAS COISAS
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