terça-feira, 15 de outubro de 2024

NO MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO

 


O evangelista Marcos nos conta que, depois de questionar seus discípulos sobre o que eles sabiam acerca de sua pessoa (leia em Mc 8:27-30) e começar a falar sobre a sua morte (em Mc 8:31-33), Jesus procurou mais uma vez um lugar em separado para um momento de reflexão e oração.  Só que, ao contrário das outras vezes, ele não foi sozinho, desta vez levou consigo três dos seus discípulos: Pedro, Tiago e João – os que em geral estavam mais próximos dele.

A narração de Marcos nos diz que Jesus, junto com os três, subiu ao monte e lá foi transfigurado diante deles (Mc 9:2).  Mas não somente sua face parecia mudada, suas roupas também agora estavam tão claras como nenhum alvejante poderia fazer (note Mc 9:3).  Além de mais, apareceram duas figuras históricas que conversaram com Jesus – Moisés e Elias.

Nisto Pedro interferiu na conversa e propôs fazer ali três tendas para os abrigar.  Ora, o que o apóstolo parecia querer dizer era que um momento como aquele na presença sagrada de Deus deveria ser valorizado e duradouro, então que se fizesse algo para poderem ficar ali.

É certo que a proposta de Pedro foi motivada antes pelo medo e por desconhecer as implicações daquilo tudo que estava acontecendo diante dos seus olhos.  Mas ficou a lição: Bom é estarmos aqui (Mc 9:5).

E neste instante de incerteza dos discípulos é que se ouviu então uma voz dos céus declarando: Este é o meu Filho amado (Mc 9:7).  Esta declaração ouvida nas nuvens é, além de uma nova confirmação daquilo que fora dito por ocasião do batismo (confira em Mc 1:11), uma instrução a mais: a ele ouçam.

Se na primeira manifestação celeste há um reconhecimento da divindade de Jesus diante da multidão que acompanhava João, desta feita a revelação era exclusiva aos discípulos e, além de ser seguida de uma ordem expressa: Jesus é o Deus-Filho, por isso deve ser seguido.

 

terça-feira, 8 de outubro de 2024

SEJAM SANTOS



Reconhecemos a santidade como o atributo exclusivo que distingue o nosso Deus das outras criaturas e divindades.  Ou seja, ser santo é ser como Deus é.  Mas quando lemos o texto bíblico, nós nos deparamos com uma instrução explícita: “sejam santos” (no AT estabelecido em Lv 19:2 e 20:7; e no NT repetido em 1Pe 1:16).  E mais, o padrão é o próprio Deus.  Se Deus é essencialmente santo, o que ELE requer do seu povo é este reproduza a mesma característica essencial.

Ora, se ser santo é ser como Deus é, e esse é um atributo exclusivo, como pode o texto sagrado exigir santidade dos seus servos?

Para encontrar uma resposta satisfatória a essa questão principal será preciso ir na Bíblia e identificar suas indicações.  E nela encontramos indicações seguras.

Em primeiro lugar: ser santo como o Senhor é santo deve começar com o processo de novo nascimento.

Em sua conversa com Nicodemos (narrado em Jo 3), Jesus afirmou que há dois tipos de nascimento.  Num primeiro nascimento se nasce da carne e traz todas as características da criação.  Somos humanos e criaturas, e como tal expressamos todas as limitações e imperfeições próprias – embora sejamos imagem e semelhança do Criador.

E pior: contraímos o pecado como herança humana, o que nos distancia mais ainda do padrão do Criador, pois exatamente os nossos pecados são o que nos separam de Deus (leia Is 59:1-2).

Mas há um segundo nascimento em que se nasce do Espírito.  Com esse novo nascimento inicia o processo de santificação – quando nascemos da água e do Espírito.  Para ser santo – a criatura expressar a essência do Criador – é indispensável que haja uma mudança de natureza.  O chamado de Deus para a santidade sempre tem que começar com uma conversão genuína.

Em segundo lugar: ser santo como o Senhor é santo deve prosseguir com a ação do próprio Cristo na vida daquele que nasceu de novo.

Se o processo de novo nascimento é resultado da ação da graça de Deus sobre homens e mulheres tornando-os em seus filhos (confira Jo 1:12 e Ef 2:9), o que daí se segue também necessariamente continua sendo resultado da ação da mesma graça.

Ora, para não haver dúvidas sobre como acontece a santificação, o autor aos Hebreus afirma que o mesmo Deus que nos leva a ser filhos dele é quem santifica a cada um de modo a habilitar a ser irmão de Jesus (leia em Hb 2:10-11).

Ao que o apóstolo Paulo considera que nossa resposta ao chamado de Deus para a santidade deve se expressar na busca constante de alcançar a estatura de varão perfeito – ser como Cristo – e continuar crescendo tendo ele mesmo como referência (em Ef 4:13-15).

 

(Da Revista DIDASKAIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

 

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

O DÍZIMO NO ANTIGO TESTAMENTO



A narrativa bíblica não traça um perfil teórico da existência ou da utilização dos recursos financeiros no meio da comunidade do fieis, mas estabelece critérios muito nítidos para que o dinheiro – junto com os bens e valores a ele atribuídos – possa ser usado na sua posição adequada.

No período do AT, época da vigência da Lei, há determinações quanto à posse e ao uso dos recursos naturais e dos bens construídos e adquiridos.  Mas o que nos compete aqui é observar como foi determinado em relação ao que deveria ser separado especificamente e diretamente para o Senhor e a utilização nos serviços sagrados – os dízimos e as ofertas.

A Lei é explícita: Todos os dízimos da terra pertencem ao Senhor (Lv 27:30).  Segundo esta norma, de tudo que estivesse na posse ou controle pelos filhos de Israel, quer bens naturais, como produto de lavoura ou cria deveria ser separado um décimo (10%) e consagrado exclusivamente para o Senhor e o seu serviço. E tem mais, na sequência da leitura do mesmo texto vemos que o dono não poderá retirar os bens dentre os ruins, nem fazer qualquer troca (vá ao verso 27:30).

Ou seja, em possuindo a terra e dela extraindo o seu sustendo, a parte do Senhor deveria ser primeira e imediatamente dedicada para trazer ao altar de Deus.  E mais que para o Senhor deveria ser separada a melhor parte.  Observe também que nesse primeiro momento ainda não se fala de dinheiro, mas entrega de víveres e produtos ao Senhor em oferta e culto.

É, contudo, nos profetas que a norma vai ser mais detalhada.  Já é bem conhecido o texto do profeta Malaquias que através de um jogo de perguntas e respostas repreende o povo pela omissão no seu compromisso de fidelidade em relação ao dízimo: “Tragam o dízimo todo ao depósito do templo, para que haja alimento em minha casa” (Ml 3:10).

Claramente o objetivo planejado por Deus para o dízimo seria suprir a sua casa dos recursos necessários para o seu funcionamento normal.  Isto significa que nos planos de Deus o método para o tesouro do templo ser abastecido e poder atender as suas demandas é através da fidelidade do povo nos seus dízimos.

 

(Da Revista DIDASKAIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)